Nova York, 15/09/2008 – Os muito divulgados Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – que pretendem entre outras coisas reduzir em 50% a fome e a pobreza até 2015 em relação aos níveis de 1990 – estão sendo seriamente afetados pelas crises alimentar, financeira e climática planetárias. "Não enfrentamos outra coisa além de uma emergência de desenvolvimento", afirmou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon. Quando estamos na metade do caminho para a data fixada de 2015, "é claro que não estamos no caminho correto para alcançar as metas, especialmente na África", disse.
Mas Alison Woodhead, da
organização Oxfam International, tem outro ponto de vista sobre a crise. Ela
afirma que o informe demonstra que foi a falta de ação dos governos que causou
uma "emergência de pobreza". A "crescente crise alimentar e a queda econômica
são razões para que os líderes atuem, sem desculpas para o fracasso", afirmou. A
ONU espera que pelo menos 90 chefes de Estado e de governo participem do que é
considerada uma "reunião de alto nível" sobre os Objetivos de do
Milênio.
Woodhead afirmou que os líderes que irão à Nova York deveriam
acordar um plano de ação para por fim à extrema pobreza nos próximos sete anos.
"Sem uma forte liderança, os progressos sobre os Objetivos retrocederão, não
avançarão, e este é um momento-chave", afirmou. Essas metas incluem redução de
50% da pobreza extrema e da fome; educação primária universal; promover a
igualdade de gênero; reduzir em dois terços a mortalidade infantil e em três
quartos a materna; combater a propagação do HIV/Aids, da malaria e de outras
doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e criar uma aliança Norte-Sul
pelo desenvolvimento.
Uma cúpula de 189 líderes mundiais realizada em
setembro de 2000 se comprometeu a alcançar tudo isto até 2015. Mas, os
resultados são muito decepcionantes, especialmente na África subsaariana. O
estudo divulgado na quinta-feira diz que o recente avanço no Sul em
desenvolvimento (incluindo o aumento das matriculas escolares, a produtividade
agrícola e os progressos para a erradicação da malaria) "demonstra que um êxito
rápido é possível quando políticas sãs são harmonizadas com uma crescente
assistência internacional e apoio técnico".
Porém, muitos países não
estão bem encaminhados. Muitas das metas não serão alcançadas na África, se
continuarem as atuais tendências. E inclusive em nações de renda média, grandes
bolsões de pessoas que continuam vivendo na extrema pobreza", acrescentou.
Embora o número de pessoas que vivem na extrema pobreza tenha caído mais de 400
milhões, a maior parte desta redução se deu na Ásia oriental, particularmente na
China. Mas a África subsaariana e as ex-repúblicas soviéticas experimentaram um
aumento no número de pobres entre 1990 e 2005, segundo o estudo.
O
diretor da Campanha do Milênio da ONU, Salil Shetty, reconheceu que as crises
alimentar, financeira e climática mundiais pioraram a situação. "E grande parte
da responsabilidade cabe aos poucos especuladores financeiros, emissores de
contaminantes e consumidores de petróleo", acrescentou. Shetty disse que
faltando apenas sete anos para vencer o prazo, é chave que os países ricos se
comprometam a alcançar estes compromissos. Consultado sobre um resultado
concreto na próxima reunião de alto nível, Shetty disse à IPS: "Estamos na
metade do caminho, e um renovado compromisso político no nível máximo seria
importante em si mesmo. Mas, é bom que a sociedade civil pressione para um plano
de ação com prazos, daqui até 2010", afirmou.
Esta reunião também será
muito importante para marcar as discussões para o encontro sobre Financiamento
para o Desenvolvimento, que acontecerá em Doha em novembro, acrescentou.
Consultado sobre quanto confiança tinha em que a maioria das nações em
desenvolvimento alcançará as metas para 2015, Shetty disse que alguns países
pobres no mundo, incluindo Bangladesh, Gana, Malawi, Moçambique, Ruanda,
Tanzânia e Zâmbia estão no caminho de consegui-lo. Isso também se aplica a
alguns países maiores, como Brasil, que se aproxima de atingir todas as metas,
menos a referente ao saneamento.
"É claro que se os líderes nacionais no
Sul em desenvolvimento falam seriamente de alcançar as metas, não há razão para
que um país fique para trás", afirmou Shetty. "Temos de aumentar as operações",
afirmou, e disse que os países ricos não cumprem muitos de seus compromissos,
como demonstrou com dados, na semana passada, outro informe especial da ONU.
Shetty disse que os volumes de ajuda estavam atrasando, particularmente os do
Grupo dos Oito países mais poderosos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França,
Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia).
"A qualidade de ajuda ainda é
pobre como vimos (a conferência sobre ajuda internacional da semana retrasada)
em Accra. E os países pobres têm um acordo muito injusto nas negociações
comerciais de Doha", acrescentou. Shetty também afirmou que os produtores de
petróleo deveriam reduzir os preços do óleo, que têm um impacto direto no custo
dos alimentos. "Os mais pobres do mundo são os mais afetados por estes preços
exorbitantes, elevando o custo dos alimentos a níveis que não podem alcançar",
afirmou.
Por sua vez, a indústria financeira deve deixar de fazer
especulações imprudentes, prática que repercute na economia mundial. Que poucos
indivíduos, corporações e países obtenham grandes lucros à custa dos mais pobres
não é apenas uma falta de ética, mas uma economia ruim também, segundo Shetty.
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)