ONU alerta para emergência de desenvolvimento

 

Nova York, 15/09/2008 – Os muito divulgados Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – que pretendem entre outras coisas reduzir em 50% a fome e a pobreza até 2015 em relação aos níveis de 1990 – estão sendo seriamente afetados pelas crises alimentar, financeira e climática planetárias. "Não enfrentamos outra coisa além de uma emergência de desenvolvimento", afirmou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon. Quando estamos na metade do caminho para a data fixada de 2015, "é claro que não estamos no caminho correto para alcançar as metas, especialmente na África", disse.
"E novos desafios globais – queda da economia, altos preços dos combustíveis e a mudança climática – ameaçam reverter o progresso que conseguimos", alertou Ban. A advertência chega às vésperas de uma reunião de líderes mundiais sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, prevista para 26 deste mês, previa à 63ª sessão da Assembléia Geral. Ao apresentar na quinta-feira seu estudo de 51 páginas sobre essas metas, Ban Ki-moon afirmou que os problemas climáticos podem colocar em risco os avanços obtidos na redução da pobreza.

Mas Alison Woodhead, da organização Oxfam International, tem outro ponto de vista sobre a crise. Ela afirma que o informe demonstra que foi a falta de ação dos governos que causou uma "emergência de pobreza". A "crescente crise alimentar e a queda econômica são razões para que os líderes atuem, sem desculpas para o fracasso", afirmou. A ONU espera que pelo menos 90 chefes de Estado e de governo participem do que é considerada uma "reunião de alto nível" sobre os Objetivos de do Milênio.

Woodhead afirmou que os líderes que irão à Nova York deveriam acordar um plano de ação para por fim à extrema pobreza nos próximos sete anos. "Sem uma forte liderança, os progressos sobre os Objetivos retrocederão, não avançarão, e este é um momento-chave", afirmou. Essas metas incluem redução de 50% da pobreza extrema e da fome; educação primária universal; promover a igualdade de gênero; reduzir em dois terços a mortalidade infantil e em três quartos a materna; combater a propagação do HIV/Aids, da malaria e de outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e criar uma aliança Norte-Sul pelo desenvolvimento.

Uma cúpula de 189 líderes mundiais realizada em setembro de 2000 se comprometeu a alcançar tudo isto até 2015. Mas, os resultados são muito decepcionantes, especialmente na África subsaariana. O estudo divulgado na quinta-feira diz que o recente avanço no Sul em desenvolvimento (incluindo o aumento das matriculas escolares, a produtividade agrícola e os progressos para a erradicação da malaria) "demonstra que um êxito rápido é possível quando políticas sãs são harmonizadas com uma crescente assistência internacional e apoio técnico".

Porém, muitos países não estão bem encaminhados. Muitas das metas não serão alcançadas na África, se continuarem as atuais tendências. E inclusive em nações de renda média, grandes bolsões de pessoas que continuam vivendo na extrema pobreza", acrescentou. Embora o número de pessoas que vivem na extrema pobreza tenha caído mais de 400 milhões, a maior parte desta redução se deu na Ásia oriental, particularmente na China. Mas a África subsaariana e as ex-repúblicas soviéticas experimentaram um aumento no número de pobres entre 1990 e 2005, segundo o estudo.

O diretor da Campanha do Milênio da ONU, Salil Shetty, reconheceu que as crises alimentar, financeira e climática mundiais pioraram a situação. "E grande parte da responsabilidade cabe aos poucos especuladores financeiros, emissores de contaminantes e consumidores de petróleo", acrescentou. Shetty disse que faltando apenas sete anos para vencer o prazo, é chave que os países ricos se comprometam a alcançar estes compromissos. Consultado sobre um resultado concreto na próxima reunião de alto nível, Shetty disse à IPS: "Estamos na metade do caminho, e um renovado compromisso político no nível máximo seria importante em si mesmo. Mas, é bom que a sociedade civil pressione para um plano de ação com prazos, daqui até 2010", afirmou.

Esta reunião também será muito importante para marcar as discussões para o encontro sobre Financiamento para o Desenvolvimento, que acontecerá em Doha em novembro, acrescentou. Consultado sobre quanto confiança tinha em que a maioria das nações em desenvolvimento alcançará as metas para 2015, Shetty disse que alguns países pobres no mundo, incluindo Bangladesh, Gana, Malawi, Moçambique, Ruanda, Tanzânia e Zâmbia estão no caminho de consegui-lo. Isso também se aplica a alguns países maiores, como Brasil, que se aproxima de atingir todas as metas, menos a referente ao saneamento.

"É claro que se os líderes nacionais no Sul em desenvolvimento falam seriamente de alcançar as metas, não há razão para que um país fique para trás", afirmou Shetty. "Temos de aumentar as operações", afirmou, e disse que os países ricos não cumprem muitos de seus compromissos, como demonstrou com dados, na semana passada, outro informe especial da ONU. Shetty disse que os volumes de ajuda estavam atrasando, particularmente os do Grupo dos Oito países mais poderosos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia).

"A qualidade de ajuda ainda é pobre como vimos (a conferência sobre ajuda internacional da semana retrasada) em Accra. E os países pobres têm um acordo muito injusto nas negociações comerciais de Doha", acrescentou. Shetty também afirmou que os produtores de petróleo deveriam reduzir os preços do óleo, que têm um impacto direto no custo dos alimentos. "Os mais pobres do mundo são os mais afetados por estes preços exorbitantes, elevando o custo dos alimentos a níveis que não podem alcançar", afirmou.

Por sua vez,  a indústria financeira deve deixar de fazer especulações imprudentes, prática que repercute na economia mundial. Que poucos indivíduos, corporações e países obtenham grandes lucros à custa dos mais pobres não é apenas uma falta de ética, mas uma economia ruim também, segundo Shetty. (IPS/Envolverde)


(Envolverde/IPS)
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