A cúpula encerrou os quatro anos de mandato como secretário-executivo da CPLP de Luis de Matos Monteiro da Fonseca, de Cabo Verde, cedendo o posto a Domingos Simões Pereira, da Guiné-Bissau. As delegações concordaram que o lema do encontro, "Língua portuguesa: um patrimônio comum, um futuro global", recoloca o objetivo inicial de promoção do idioma como viga-mestra de união entre os oito países, dispersos em quatro continentes, herdeiros de um mundo lusitano que durante séculos deu a volta ao mundo, do Brasil a Macau e Timor.
"Esta foi a cúpula da língua portuguesa, um dos ativos mais importantes para potenciar nossos países", disse o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, ao encerrar o encontro. O idioma comum, segundo o governante lusitano, "é um instrumento que potencializa a cultura e os laços da CPLP, por isso é preciso transportar o português para o mundo". Ao inaugurar a cúpula, na manhã de sexta-feira, Cavaco e Silva ressaltou que ao longo destes 12 anos de existência da CPLP foram sendo reforçados "os valores de paz, democracia, direitos humanos, justiça social e o estado de direito" nos oito países.
Os governantes decidiram que os eixos centrais da CPLP deverão ser a valorização e promoção da língua portuguesa no mundo, a harmonização dos direitos de cidadania no espaço lusófono e o fomento do entendimento político-diplomático entre seus membros. Também foram aprovadas uma série de resoluções sobre combate à síndrome da deficiência imunológica adquirida (Aids), o reforço da participação da sociedade civil e a circulação de bens culturais nos países de língua portuguesa.
Os oitos países também concordaram em realizar programas comuns para o ensino de português como língua estrangeira, através de "uma rede de professores certificados pelos Estados-membros da CPLP". Os líderes dessas nações também se comprometeram a "acordar programas para promover o valor cultural e econômico do português no cenário internacional, em especial através de projetos comuns baseados nas tecnologias de informação e comunicação". O escritor, advogado e jornalista José Carlos de Vasconcelos, diretor do Jornal de Letras, disse à IPS que concorda com a ênfase idiomática da cúpula: "a língua é o melhor investimento que a CPLP pode fazer, porque é nossa maior riqueza".
Há duas décadas, Vasconcelos se destaca como um dos mais entusiastas dinamizadores da união do mundo de língua portuguesa desde sua gênese, na reunião prévia à fundação da CPLP, realizada em 1989 no Brasil, durante o encontro de presidentes de língua portuguesa em São Luís do Maranhão. A Comunidade, na ótica do escritor, "lamentavelmente se manteve por muitos anos bastante afastada dos ambiciosos objetivos no tocante à língua desde sua proclamação", em julho de 1996 em Lisboa. Porém, "nos últimos tempos foram dados passos mais positivos, em especial desde que o Brasil começou a mostrar mais interesse em centrar os objetivos da CPLP na língua portuguesa", acrescentou em referencia ao fato de 190 dos 238 milhões de habitantes da Comunidade serem brasileiros.
Também destacou a aprovação de uma série de medidas para promover a língua por parte do governo português, com a intenção de revitalizar o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), "que durante vários anos esteve praticamente inativo", apesar do grande empenho de sua diretora, a lingüista angolana Amélia Mingas. A CPLP "nasceu pela língua, mas só agora se transforma em uma prioridade. Apenas recentemente surgiu a consciência de que seu futuro e sua consolidação pelo idioma comum", concluiu Vasconcelos.
Timor Leste é freqüentemente apontado como o país da CPLP onde o português é menos difundido em nível popular, ao ser qualificado por funcionários internacionais de língua inglesa destacados nessa jovem republica asiática como "a língua das elites". Em uma breve declaração à IPS ao concluir a cúpula, o presidente José Ramos-Horta recordou que seu país, ao nascer como tal em 2002, adotou o português como língua oficial, "e, por isso, o Estado mobiliza todos os recursos para que o português volte como uma realidade do país".
Em diversas oportunidades, o dirigente timorense rebateu as críticas dos que consideram que o inglês deveria ser adotado como língua do desenvolvimento e da prosperidade, já que há muitos países que falam esse idioma atrasados, diante de um Brasil de língua portuguesa que hoje é uma das mais sólidas economias mundiais. Após 24 anos de proibição do português por parte das autoridades indonésias de ocupação, foi unânime a opção pela recuperação idiomática de Timor Leste ao chegar à independência em maio de 2002. Foi uma decisão soberana da jovem republica independente. "Ninguém nos impôs o português", garantiu Ramos-Horta. (IPS/Envolverde)
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- Por Mario de Queiroz, da IPS