Talento a serviço de empresas sustentáveis

Negócios de todo tipo na América Latina buscam proveito nos pilares do desenvolvimento sustentável: geração de riqueza, respeito ao meio ambiente e igualdade social.

Caracas, 21 de julho (Terramérica) - Uma companhia vai extrair prata dos mesmos poluentes que pretende limpar. Uma cooperativa de ex-empregados exporta roupas da moda. Camponeses plantam novas variedades de mandioca que duplicam a produtividade com menos agrotóxicos. Produtores conjugam agricultura e proteção da selva amazônica. Não é ficção. O Terramérica dedica este número especial a quatro experiências produtivas, cada uma com uma ênfase diferente nos princípios do desenvolvimento sustentável. Comparável a encontrar um tesouro no final do arco-íris, são caminhos multicoloridos que, mesmo antes do final, rendem seus lucros. Seu denominador comum é a agudeza do talento e a possibilidade de se repetir cruzando fronteiras na América Latina.

Bolívia: San Bartolomé vale um Potosí

O lixo da mineração, acumulado por séculos nas ladeiras do Monte Rico de Potosí, na Bolívia, é alvo de um projeto de remedição ambiental da Empresa Mineradora Manquiri S.A. Trata-se de limpar "pallacos", "sucus" e desmontes, poluentes espalhados na região do Monte durante 470 anos de exploração mineral nesse local do sudoeste boliviano. Para quê? Para extrair deles lingotes de prata em um circuito fechado e sem novos danos ambientais. Os "pallacos" são cascalhos que se desprendem das paredes do Monte pelo descongelamento da superfície rochosa, os "sucus" são os restos, ao ar livre, da exploração de estanho pelo sistema hídrico de alta pressão, e os desmontes são dejetos do interior da mina, todos gerados em águas ácidas.

No Monte Rico se extraia a prata pelo método de lixiviação - mistura da rocha, em uma gigantesca piscina ao ar livre, com o tóxico cianureto de sódio, que se infiltrava no solo. Em temporadas de chuvas, as que caem do Monte Rico geram "copajira" (chuva ácida), que escorre até a bacia do Rio Pilcomayo, afluente do Rio Paraguai, contaminando cultivos e pastagens. "Esses materiais serão removidos, processados para recuperar seu conteúdo de prata baixa e, por fim, depositados em diques de contenção construídos com critérios que visam a não prejudicar o meio ambiente", explica ao Terramérica Edmundo Zogbi, gerente de Comunicação da Manquiri.

O projeto, que leva o nome do patrono de Potosí - San Bartolomé -, implica em recolher os materiais em basculantes, processar os que tenham mais de dois milímetros de diâmetro e levar o produto desse processo por tubulações aos diques de contenção em uma espécie de esteira almofadada por uma geomembrana que, em caso de um acidente no duto, evitará a contaminação do solo. As cooperativas mineradoras e a estatal Corporação Mineradora da Bolívia são sócias da norte-americana Coeur d'Alene Mines no projeto, que assegura destinar ao setor ambiental mais de US$ 30 milhões dos US$ 250 milhões de seu investimento total, para produzir diariamente, durante uma década, entre seis e sete lingotes de prata de cem quilos.

Argentina: Desempregados, uni-vos

Nos anos 90, o argentino Movimento de Trabalhadores Desempregados (MTD) de La Matanza - o distrito mais populoso dos que rodeiam a cidade de Buenos Aires - que rejeitava a assistência do Estado, criou a Cooperativa La Juanita, que hoje tem 42 empregados diretos e 600 indiretos. Seu carro-chefe é uma fábrica têxtil que produz para o mercado interno e exporta para Grã-Bretanha, Itália e Japão. "Estamos produzindo duas mil sacolas de tecido para um restaurante orgânico de Buenos Aires, para substituir as de plástico, mas sonhamos em produzir cinco mil", disse ao Terramérica Silvia Flores, da Cooperativa.

A Cooperativa também possui uma padaria, um jardim de infância e uma oficina de informática. Muitos de seus membros tiveram acesso a microcréditos que lhes permitiram produzir por conta própria e vender em feiras comunitárias. Com 16 máquinas, a unidade têxtil produz camisetas para uma empresa local e para exportação. "Estes empreendimentos estão destinados a fazer com que os jovens do bairro possam encontrar uma saída profissional rápida", disse ao Terramérica Héctor "Toti" Flores, fundador do MTD e hoje deputado da oposição pela Coalizão Cívica.

"Para serem sustentáveis, foi necessária a associação com outras pessoas com experiência e dedicação para ajudar", acrescentou Flores. Por isso, aliaram-se com o inovador estilista de moda Martín Churba, que lhes propôs fabricar roupas da moda e colocou à disposição seus contatos comerciais. La Juanita confeccionou um original guarda-pó, vendido não apenas na elegante loja de Churba, no bairro de Recoleta, mas também nos Estados Unidos e no Japão. Depois chegou um contrato com a rede italiana de comércio justo Altro Mercato.

Brasil: Convivência de florestas e cultivos

"Trabalhar à sombra" é uma desejada vantagem quando se está sob o sol implacável da Amazônia brasileira. Outras são ir além da simples extração, e abrir perspectivas rentáveis de aproveitar as florestas, estimulando o reflorestamento com árvores nativas. O projeto Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado (Reca), premiado em 2007, pelo governo brasileiro e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), por sua contribuição aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, é o filho virtuoso da imigração selvagem de agricultores do sul, subsidiada pelo governo a partir dos anos 70 para ocupar a Amazônia, intensificando seu desmatamento.

Um grupo desses migrantes, assentado no Estado de Rondônia, criou em 1989 a Associação dos Pequenos Agrossilvicultores de Nova Califórnia, e pôs em marcha o Reca. Eram 86 famílias, e agora são mais de 360, diz seu presidente, Arnoldo Berkenbrock, cada família recebeu cem hectares de terra e começou a plantar arroz, feijão, milho e outros cultivos tradicionais no Sul. "Para nós, os seringueiros eram preguiçosos que não queriam derrubar a mata para plantar, mas depois mudamos de idéia", explica.

Assim, decidiram cultivar frutos amazônicos como cupuaçu (Tehobroma grandiflorum), pupunha (Bactris gasipaes) e castanha (Castanea sativa), que têm um crescente mercado nacional e internacional. Alguns ex-seringueiros uniram-se ao plantio de frutas, tornando-as mais densas e produtivas, e reflorestando áreas de vegetação nativa destruída, por exemplo, pela colonização promovida pelo governo.

O Reca combinou a cultura agrícola do sul com conhecimentos dos extrativistas amazônicos, misturando cultivos e florestas, sem limitar-se à extração e mantendo a sustentabilidade, destaca Mário Menezes, da Amigos da Terra-Amazônia Brasileira. As dificuldades do projeto são sua distância dos grandes mercados e a burocracia que encarece custos com muitos trâmites e altos impostos, lamenta Berkenbrock.

Venezuela: Mandioca duplicada

Com novas variedades de mandioca e técnicas agrícolas sustentáveis, camponeses do central Estado venezuelano de Cojedes começaram a produzir 18 toneladas do tubérculo por hectare, em uma área onde a média é de nove toneladas. "Em lugar de plantar uma estaca para nascer uma planta, se leva ao campo um arbusto com brotos capazes de gerar até 50 arbustos. São variedades mais produtivas, além de mais adaptáveis ao terreno e mais resistentes às pragas", explica ao Terramérica Antonio Romero, responsável pelo projeto na Fundação La Salle de Ciências Naturais.

As plantas, do gênero Manihot, são obtidas de variedades desenvolvidas pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical da vizinha Colômbia. "Trabalhamos em genética não apenas da mandioca, como também de tubérculos como a batata e o inhame. Quarenta e cinco famílias se beneficiaram com o aumento da colheita. Em alguns hectares, obtivemos mais de 30 toneladas", disse Romero. Como as variedades são mais resistentes, utiliza-se menos pesticidas e emprega-se controladores naturais de pragas, o que também aumenta o rendimento, afirma o técnico.

Uma saca de 60 quilos de mandioca pode ser vendida na Venezuela por US$ 40 a US$ 100, enquanto o salário mínimo é de US$ 370. Por isso, a Fundação aposta em somar a esta prática mais rentável e sustentável os "conuqueros" (pequenos camponeses itinerantes) das regiões altas de Cojedes, cerca de cinco mil famílias que levam anos desmatando as áreas onde nascem rios tributários do Orenoco.

* O autor é correspondente da IPS. Com as colaborações de Bernarda Claure (La Paz), Marcela Valente (Buenos Aires) e Mario Osava (Rio de Janeiro).

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