Além disso, se decidiu "convidar a Assembléia Geral das Nações
Unidas a apoiar as conclusões desta conferência e aproveitá-las para impulsionar
o diálogo entre os seguidores de todas as religiões, civilizações e culturas,
organizando uma sessão especial para o diálogo". Em sua intervenção, Zaragoza
destacou que se cometeu um tremendo erro "ao mudar os valores da humanidade
pelas leis do mercado", e para enfrentar o problema criado é preciso viver
compartilhando inclusive o conhecimento dos demais, acrescentou.
"Se
aceitamos a igual dignidade para todos os seres humanos, se aceitamos o outro
como igual, seja qual for seu sexo, raça ou ideologia, ficam resolvidos os
problemas com os quais nos deparamos", afirmou Zaragoza. "Para alcançar estes
objetivos falta vontade política e o compromisso dos meios de comunicação, pois
compreensão, conhecimento mútuo, conciliação e reconciliação são o mesmo
caminho", concluiu. A conferência foi organizada pela Liga do Mundo Islâmico,
organização com sede na cidade saudita de Meca e que representa os povos das
nações muçulmanas e as minorias dessa fé em outros países, com mais de 40
delegações em cinco continentes.
O diretor-adjunto da Associação Budista
da China, Xue Cheng, disse que "todas as crenças têm um valor comum, que é a
vida em harmonia com o outro", baseando-se nisso, deve-se enfrentar com uma
ética comum global os grandes problemas da atualidade, como as guerras, a
superpopulação e a degradação ambiental. O rabino Cláudio Epelman, diretor do
Congresso Judeu Latino-americano, afirmou que Deus criou os peixes, as aves, as
plantas, mas criou um único ser humano.
Um árabe-cristão, o sacerdote
Econo Nabbel Haddad, diretor-executivo do Centro Jordaniano de Pesquisas sobre
Convivência Inter-religiosa, propôs que se propague uma cultura religiosa
baseada na tolerância, para o quão há apenas um caminho, "Conhecer o próximo"
através da cultura e do intercâmbio cultural. Haddad destacou que "os meios de
comunicação desempenham um papel crucial, reforçando a comunicação com o
próximo".
A necessidade do diálogo global foi fundamentada por Nichiko
Niwano, presidente da Comissão Japonesa no Conselho Internacional de Religião e
Paz, ao destacar que "os povos viajem em um único veiculo, a Terra". Esse
veículo sofre problemas globais como os conflitos armados ou a mudança
climática, que não podem ser enfrentados apenas por um país, por isso é
imperativo um diálogo inter-religioso, afirmou. Todas as religiões são a mesma
coisa expressa de diferentes maneiras, ressaltou Niwano.
O legislador
José de Venecia, ex-presidente da Câmara de Representantes das Filinas, fez suas
as palavras do teólogo e sacerdote católico Hans Küng: "Não haverá paz entre as
nações sem paz entre as religiões, e não haverá paz entre as religiões sem
padrões éticos comuns". Para Venecia a etica global "não substitui nenhuma
crença", muitos conflitos que se apresentam como religiosos na realidade são
"políticos e sectarios", como os que há em seu país, na ilha de Mindanao, e na
Tailândia, Paquistão, Nigéria, Sri Lanka, Caxemira, Líbano, Sudão, Etiópia e
Somália. Venecia foi quempropos a criação de um conselho inter-religioso dentro
da ONU, iniciativa para a qual pediu o apoio dos reis Abdala e Juan
Carlos.
Redwan Naef Al-Sayyed, presidente do Instituto Internacional de
Estudos Islâmicos propôs "um documento de fundação para a criação de uma
secretaria que assente as bases de uma instituição que seja um fator positivo na
busca de denominadores comuns e de uma nova consciência global", sugestão que
foi aceita. No contexto da conferência, amplamente dominada pelos homens, foi
realizada uma mesa-redonda sobre a situação das mulheres nas religiões,
presidida pela teóloga espanhola Margarita Pinto.
Um de seus
participantes, o também teólogo espanhol Juan José Tamayo, disse à IPS que as
mulheres devem recuperar o protagonismo que, "sem dúvida alguma", tiveram nas
origens de todas as religiões. Apesar deste marco histórico, "elas são as
grandes marginalizadas e esquecidas de todas as religiões, pois estas estão
organizadas de forma patriarcal e hierárquica, excluindo-as do saber e do fazer
religioso", admitiu Tamayo. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)
- Por Tito Drago, da IPS