Lovaina, Bélgica, 14/07/2008 – Holanda, Suécia, Islândia e Dinamarca são os paises mais tolerantes com a homossexualidade, enquanto Bangladesh, Paquistão e Jordânia são os que apresentam maior discriminação, segundo diversas pesquisas feitas desde o começo dos anos 80 e analisadas na semana passada na Bélgica.
Nos últimos meses foram registradas vitórias e retrocessos na luta internacional pelos direitos dos homossexuais. Em junho, a Noruega se converteu no último país a legislar em favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Por outro lado, em maio o presidente de Gâmbia, Yahya Jammeh, deu aos gays um ultimato de 24 horas para abandonarem esse país do ocidente africano sob pena de decapitação. Por sua vez, a Agência Européia de Direitos Fundamentais informou que 22 dos 27 Estados da União Européia “parecem hostis” ao reconhecimento do casamento entre homossexuais. Apenas três (Bélgica, Holanda e Espanha) lhes concede o direito de se casarem.
Mas, se gays e lésbicas que se casam nesses países se mudarem para outro Estado da UE existe o risco de não serem considerados cônjuges, segundo a agência, com sede em
Viena, que controla diferentes formas de discriminação. As atitudes públicas em relação à homossexualidade em todo o mundo foi um dos temas abordados pela Academia Internacional de Pesquisas Sexuais (IASR), durante sua reunião anual realizada entre quarta-feira e sexta-feira passadas em Lovaina, na Bélgica.
Theo Sandfort, professor de ciências da Universidade de Columbia, em Nova York, disse que isto reafirma “o saber de que a aceitação mundial da homossexualidade está aumentando”, a julgar pelos resultados de várias pesquisas de opinião realizadas desde o começo da década de 80. Estas pesquisas mostram que as sociedades da Holanda, Suécia, Islândia e Dinamarca são as mais tolerantes com a homossexualidade, e que Bangladesh, Paquistão e Jordânia são os menos tolerantes. Dados relativos a como a homossexualidade é vista foram colhidos a partir de uma série de pesquisas, desde o Estudo Mundial de Valores, em 1981, ao Projeto Mundial sobre Atitudes Pew, do ano passado.
Para Sandfort, suas descobertas parecem apoiar teorias de que as atitudes em relação aos homossexuais são mais favoráveis em nações onde primam valores como a igualdade e onde prima a individualidade sobre o grupo. A Suécia, que dá grande ênfase no secularismo e na liberdade de expressão, é mais tolerante do que o Zimbábue, onde persistem “os valores de sobrevivência e os valores tradicionais”, afirmou. “Uma pessoa não tem de ser marxista” para inferir que existe um forte vínculo entre fatores econômicos e os valores sociais, sugeriu. Como resultado, a melhora na aceitação da homossexualidade “não pode ser vista como um objetivo independente”, acrescentou.
Em 1996, a África do Sul se converteu no primeiro país a fazer constar de sua Constituição direitos baseados na orientação sexual. Isto marcou uma quebra da era do apartheid (sistema institucionalizado de discriminação contra a maioria negra, que durou até 1994), durante a qual as relações entre pessoas do mesmo sexo eram ilegais. Mas, ainda prevalece uma tendência contra a homossexualidade em boa parte da sociedade sul-africana. Apenas um pequeno número de empregadores dá a casais gays os mesmos benefícios desfrutados por casais heterossexuais.
“Frequentemente há uma repressão brutal”, disse Juan Nel, do Centro para a Psicologia Aplicada da Universidade da África do Sul. Em seu extremo máximo, essa repressão envolveu assassinatos. Em fevereiro de 2006, Zoliswa Nkonyana, uma lésbica de 19 anos, morreu de tanto apanhar nas mãos de uma multidão no município de Khayledstisha, na Cidade do Cabo. No ano seguinte, outras duas lésbicas (a ativista política Sizakele Sigas e Salome Massoa) foram encontradas mortas em Soweto, Johanesburgo. Ambas foram baleadas e, segundo algumas notícias, violentadas.
Nel citou um estudo de quase 200 gays e lésbicas na África do Sul, dos cerca da metade eram negros, 40% brancos e o restante se autodescrevia como “de cor” ou de etnia indiana. O trabalho concluiu que os homens homossexuais, tanto negros quanto brancos, correm o risco de serem vitimizados, embora os negros tenham mais probabilidades de sofrer discriminação racial do que os brancos. Entre as lésbicas que sofreram abusos, aproximadamente 20% disseram que isso aconteceu por serem mulheres.
Um artigo publicado em 2007 pela Sociedade Psicológica da África do Sul indicou que a homofobia está estreitamente ligada ao sexismo. “O patriarcado tem particular importância em relação à orientação sexual, já que situa as lésbicas sob uma dupla carga de discriminação, como mulheres e como homossexuais. O patriarcado também é particularmente impiedoso com os homens homossexuais que supõem uma forte ameaça subversiva aos ideais patriarcais de agressão e domínio”, afirmou.
Embora algumas organizações fundamentalistas vejam a homossexualidade como algo antinatural e perverso, há cada vez mais evidências científicas sugerindo que os homens podem ser gays desde seu nascimento. Em 1993, o geneticista Dean Hamer publicou um artigo sugerindo que alguns genes humanos predispõem os homens à homossexualidade. Entre os estudos que realizou houve uma mostra de 40 pares de irmãos gays, com a conclusão de que em 33dos casos os irmãos tinham a mesma seqüência de ADN (ácido desoxirribonucléico).
Michael Bailey, da Universidade Noroeste, do Estado de Illinois (EUA), integra uma equipe de pesquisadores que realiza um acompanhamento do trabalho de Hamer. Um projeto que provavelmente apresente resultados no outono boreal envolvendo o estudo de amostras de sangue e saliva de mil pares de irmãos gays nos Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretganha, Austrália e Irlanda. Bailey disse que a ciência genética é importante para resolver o debate sobre “natureza versus educação”, se os homens podem nascer gays ou decidir se sentir atraído a pessoas do mesmo sexo devido à experiência vivida. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)