"A pobreza é uma ameaça à paz". A afirmação é do vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2006 Mohammad Yunus. Para ele, "a pobreza é a negação de todos os direitos humanos" e para alcançar uma paz duradoura é preciso criar oportunidades para as pessoas. Yunus, fundador do Grammen Bank, instituição que disponibiliza crédito para a população de baixa renda sem exigir garantias, participou do I Fórum de Comunicação e Sustentabilidade, que aconteceu nos dias 11 e 12 de junho, em Brasília (DF). Professor de Economia de uma universidade em Bangladesh, Yunus é conhecido como o "banqueiro dos pobres". Ele contou que fundou o banco há mais de 30 anos depois de verificar que as teorias econômicas que ensinava para seus alunos não faziam sentido frente à tamanha pobreza que o cercava.

Hoje, a instituição social já beneficiou cerca de 12 milhões de pessoas, dos quais, 97% são mulheres. Segundo ele, hoje o banco já é auto-suficiente, não recebe donativos e até gera lucros. "Fizemos o oposto do que os bancos normalmente fazem. Emprestamos dinheiro para mulheres pobres e não exigimos garantias", explicou.

"As potencialidades são iguais, a diferença são as oportunidades", disse durante um discurso referindo-se a importância do investimento na educação. Ele afirmou que todas as 23 mil crianças beneficiadas pelo Banco estão matriculadas na escola. E ressaltou que a importância de disponibilizar informação e tecnologia para os mais pobres "para dar condições de se tornarem auto-suficientes".

O banqueiro falou da idéia de mercado livre e da importância do empreendedorismo social na erradicação da pobreza. Para ele, os negócios empresariais têm um papel muito importante na era da globalização, mas precisam de regras para ajudar na erradicação da pobreza. Caso contrário será excludente.

"Nosso banco é para pessoas pobres e funciona", disse. Segundo o banqueiro, a taxa de pessoas que pagam o empréstimo em dia no Grammen Bank é de 97% do total de clientes. Confiança é a palavra-chave que e a alma do mercado do microcrédito. Yunus pretende acabar com a pobreza em seu país até 2030.

Yunus foi questionado sobre os programas de bem-estar social implementados por diversos governos, como é o caso do Bolsa-Família, no Brasil. Ele disse que esses projetos "são muito comuns principalmente em países ricos, porém, eles não progridem. Eles não dão a possibilidade de desenvolvimento do próprio homem, eles não pensam que um dia os beneficiados vão querer sair do programa". E acrescenta, "o ser humano é livre e capaz de fazer sua própria diferença".

Yunus concluiu dizendo que a pobreza é fruto da organização social e do sistema econômico que nós próprios criamos. "Estou tentando resolver um problema de uma vila perto da universidade de onde eu era professor. Qualquer um pode descobrir soluções e desenvolver idéias para um mundo mais pacífico".

Encontro com Lula

Na semana passada, o presidente Luis Inácio Lula da Silva recebeu em seu gabinete, em Brasília, pela primeira vez a visita de Muhammad Yunus. Durante o encontro Yunus colocou-se à disposição do governo para elevar a oferta de microcrédito no Brasil e disse que seria melhor começar pelos locais mais pobres do país.

(Envolverde/Aprendiz)