Para o assessor de comunicação do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), Andrei Bastos, porta-voz da entidade, a explicação para a demora não é outra senão "vontade política". "No dia 23 de novembro do ano passado, em uma reunião especial no Congresso Nacional, o presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), prometeu que essa ratificação sairia em menos de 20 dias", lembra.
A importância do documento se dá em três aspectos principais, segundo Bastos. Em primeiro lugar, ele substitui a compreensão de que deficiência é uma questão médica pela social . "Isto é, deixa de ser aquela coisa que sempre todo mundo pensou: que possuir uma deficiência é sinônimo de doente".
Outro ponto fundamental é retirar
o caráter assistencialista das ações afirmativas para o segmento. "Nós temos
para o mercado de trabalho profissionais com deficiência tão competentes como os
sem. Nesse sentido, a Convenção contribui para que esse preconceito, para que
essa discriminação deixe de existir, e as pessoas com deficiência sejam
incorporadas integralmente na sociedade, no mercado de trabalho, e por aí vai",
lembra Bastos.
Por fim, a terceira questão é o fato do condição se tornar
um atributo, como outro qualquer. "As pessoas com deficiência devem ser vistas
como parte da diversidade humana; o documento mostra isso".
Histórico -
Discutido durante quatro anos, a Convenção foi aprovada por unanimidade pelos
192 países membros da ONU em 13 de dezembro de 2006. O Brasil assinou a
convenção há um ano, mas sua adoção ainda depende de aprovação pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado Federal e de sanção presidencial.
Depois disso, o
país será obrigado a eliminar leis, costumes e práticas que representem
discriminação contra as pessoas com deficiência. Uma comissão independente,
formada por especialistas, deve analisar os avanços obtidos pelos países que
ratificaram a convenção. O projeto corre em regime de urgência na Câmara e
poderá ser aprovado ainda esta semana.
Campanha - A não-ratificação levou
organizações de defesa dos direitos das pessoas com deficiência a levaram a cabo
uma série de protestos. O principal foi realizado no próprio dia 3, em Ipanema,
zona sul do Rio de Janeiro. Durante todo o dia, os organizadores recolhem
assinaturas para encaminhar, nas próximas semanas, uma nota de pesar aos
parlamentares brasileiros. Ações semelhantes ocorreram em outras capitais do
país, como São Paulo e Belo Horizonte.
Na internet, um movimento formado
por organizações não-governamentais, autoridades públicas e acadêmicos está
fazendo barulho com o Assino Inclusão. Trata-se de um abaixo-assinado online que
pode ser acessado pelo site homônimo, e que disponibiliza uma série de
informações sobre o tema.
A página ainda conta com uma seleta lista de
depoimentos, que explicam a importância de pressionar o governo para ratificar a
Convenção. Entre eles, o do próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da
Silva, proferido no ano passado. "Ao transformar em obrigação constitucional um
elenco de direitos que beneficiará mais de 24 milhões e meio de pessoas com
deficiência, estamos qualificando a natureza do desenvolvimento que queremos
para o Brasil no século XXI", acredita.
(Envolverde/Rede Gife)