Segundo alguns
diplomatas em Washington, o país teme que se repita sua derrota daquele momento,
particularmente no contexto de seus próprios antecedentes em matéria de direitos
humanos no Iraque e no Afeganistão, onde as forças militares norte-americanas
são acusadas de cometer torturas e abusos nas prisões. O governo do presidente
George W. Bush também foi alvo de críticas por transgredir direitos civis e
humanos em sua "guerra contra o terrorismo", tanto dentro quanto fora do país.
Nas últimas eleições os Estados Unidos se apresentaram perante a Assembléia
Geral da ONU com "43 garantiras escritas" de votos prometidos.
Mas, na
contagem de votos acabou com apenas 29, enquanto outros três membros da União
Européia (França com 52 votos, Áustria com 41 e Suécia com 32) derrotaram
Washington na luta para obter um assento na Comissão de Direitos Humanos esse
ano. Como a votação sempre aconteceu de modo secreto, era praticamente
impossível rastrear os Estados-membros que renegavam suas promessas e
compromissos escritos perante os Estados Unidos. Consultado sobre a
credibilidade dos compromissos, o representante permanente do Sri Lanka na ONU,
Prasad Kariywasam, disse à IPS que embora confiasse na reeleição de seu país,
sempre havia um fator de mais ou menos 10% nos votos e compromissos confirmados
pelos Estados-membros.
Kariywasam disse que as eleições para o Conselho
de Direitos Humanos estavam baseadas nas capitais, no sentido de que as decisões
são tomadas pelos próprios governos dos países, e não por suas delegações na
ONU. Também há outra incerteza a ser considerada: a preferência de embaixadores
individuais (que podem, ou não, desobedecer instruções de seus governos). Como a
votação é secreta, a realidade dos votos individuais exercidos por embaixadores
também é um fator a considera. Um ex-embaixador asiático confessou certa vez
que, sem se importar com as instruções que recebia de seu governo, às vezes
decidia por conta própria, puramente com base em sua opinião pessoal. "como
votar em uma eleição na ONU depende de um amplo grua das amizades que construiu
com outros embaixadores", contou à IPS.
Tudo isto será posto à prova
nesta quarta-feira, quando a Assembléia Geral, de 192 membros, eleger os
integrantes do Conselho, de 47 nações. Os assentos foram destinados tomando por
base a "distribuição geográfica eqüitativa". Os únicos países com lugares
assegurados pertencem aos dois grupos regionais (África e América Latina e
Caribe) porque têm um número de candidatos necessários para os assentos
destinados às duas regiões. A África tem quatro candidatos (Burkina Faso, Gabão,
Gana e Zâmbia) para os quatro lugares destinados à região. O grupo da América
Latina e do Caribe possui três candidatos (Brasil, Argentina e Chile) para os
três assentos aos quais tem direito.
Como resultado, espera-se que os
sete sejam eleitos. De todo modo, cada um destes sete países tem de receber os
96 votos obrigatórios, dos 192 da Assembléia Geral, para serem eleitos e
integrarem o Conselho. Mas as três regiões restantes – categorizadas como
Estados asiáticos, Estados da Europa oriental e Europa ocidental e outros
Estados – estão divididas, porque há mais candidatos do que assentos
disponíveis. Seis países competem pelos quatro da região asiática: Bahrein,
Coréia do Sul, Japão, Paquistão, Sri Lanka e Timor Leste. Os dois lugares para a
região da Europa oriental são disputados por Eslováquia, República Checa, Sérvia
e Ucrânia. E os que competem pelas duas cadeiras destinadas à Europa ocidental e
outros Estados são Espanha, França e Grã-Bretanha.
Em um informe
divulgado há algumas semanas, as ONGs UN Watch e Freedom House disseram que a
quarta parte dos países que disputam assentos no Conselho possuem "péssimos
antecedentes em matéria de direitos humanos, que deveriam desclassificá-los para
a indicação". Segundo o estudo, cinco nações não estavam qualificadas, devido
aos seus antecedentes neste sentido: Bahrain, Gabão, Paquistão, Sri Lnaka e
Zâmbia. Todos estes países, menos Bahrein, são candidatos à reeleição. Além
disso, o informe questionou que sejam aptos para se candidatarem Brasil, Burkina
Faso e Timor Leste, "cujos antecedentes em direitos humanos estão mesclados". A
diretora de defesa da Freedom House, Paula Schriefer, disse na semana passada
que a nomeação para o conselho já incluía três países – Arábia Saudita, China e
Cuba – listados no informe sobre direitos humanos "O pior do pior", da Freedom
House. IPS/Envolverde
(Envolverde/IPS)
- Thalif Deen, da IPS
Direitos humanos: Tempo de definições na ONU
Nações Unidas, 20/05/2008 – Expectativa e incerteza resultam da eleição dos 15
integrantes do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas,
que acontecerá amanhã. Quando os Estados Unidos foram destituídos em 2001 da
Comissão de Direitos Humanos (antecessora do Conselho), o congressista Dana
Rohrabacher, do governante Partido Republicano, se mostrou furioso porque "um
dos maiores defensores mundiais dos direitos humanos" não teve assento em um
órgão dominado por países como Cuba, China, Líbia e Sudão. Então, o congressista
criticou a escolha de "alguns dos piores violadores dos direitos humanos do
mundo" para integrarem a Comissão.
"Quando os lunáticos governam, as
pessoas responsáveis devem agir. Não penso em dar aos lunáticos a chance de
brincarem com um dólar a mais procedente dos impostos", afirmou, ameaçando
cancelar os fundos destinados à ONU. Sobre a ignominiosa derrota dos Estados
Unidos, os meios de comunicação nacionais publicaram fortes manchetes. "Revolta
na ONU", foi o editorial do The New York times. "Os tiranos assumem", vociferou
The Wall Street Journal. Mas, há sete anos os Estados Unidos se mantiveram
afastado das eleições para o Conselho de Direitos Humanos.