Düsseldorf, Alemanha, 05/05/2008 – "O futebol não é um esporte para mulheres", afirmava em 1955 o então presidente da Associação Alemã de Futebol Peco Bauwens. E sentenciava: "nunca levaremos a sério este assunto". Suas previsões falharam. Na Alemanha este esporte é praticado por mais de um milhão de mulheres e, segundo dados oficiais da Federação Internacional de Futebol (Fifa), 26 milhões de mulheres o praticam em diferentes associações de todo o mundo.
Nunca antes tantas mulheres praticaram esse esporte neste
país. Assim, o número atual de 1.002.605 jogadoras, confirmada pela Federação
Alemã de Futebol (DBF), foi recebida com júbilo pela instituição que as reúne e
considera "o resultado estatístico quanto a membros mais importante de 2008". As
mulheres "vão ocupando espaços e conquistando de maneira crescente os domínios
masculinos", disse a respeito à IPS a professora especializada em pedagogia do
esporte Claudia Kugelmann. "Isto é um avanço em termos de igualdade de
oportunidades", acrescentou.
Assim também considera a doutora em Ciências
da Educação e Psicologia Gertrud Pfister, especializada em historia do esporte e
no papel feminino dentro dele. O número crescente de jogadoras de futebol
"contribui para se contrapor à imagem de debilidade e à marginalização da mulher
na sociedade", afirmou à IPS. "Mas, frequentemente os preconceitos, apesar das
provas em contrário, são difíceis de erradicar. E ainda hoje para muitos homens
que acompanham este esporte continua existindo o 'verdadeiro' futebol e o
futebol feminino", acrescentou. "Como jogadora de futebol a mulher enfrenta a
todo momento os preconceitos. Muitos me perguntam por que gosto de um esporte de
homens", disse perplexa há não muito tempo a jogadora Nnika Leber à imprensa
alemã.
Também a defensora Hildegard Junker disse ter escutado: "o que
está acontecendo? Vá cozinhar para seu marido e seus filhos, que esperam a
comida...". De fato, em 1955 chegou a se proibir oficialmente a prática deste
esporte pelas mulheres, as quais, segundo a argumentação da lei na época, eram
consideradas "sem as condições corporais e psicológicas adequadas" para tal fim.
Apenas em 1970 a Associação Alemã de Futebol acabou com a proibição e o fez com
a ressalva de que as mulheres deveriam jogar "apenas nos meses de clima
quente".
Mais de duas décadas teriam ainda que esperar para a realização
do primeiro Mundial Feminino reconhecido pela Fifa, que aconteceu em 1991 na
China, no que constituiu um relativamente tardio reconhecimento da prática deste
esporte pelas mulheres, que já era constatado há décadas e de maneira crescente
em numerosos países. Estudiosa do assunto, a professora Kugelmann afirmou que
"muito se passou, mas ainda há mais por vir. Cetamente, ainda existe
discriminação, especialmente nos clubes menores", disse, acrescentando que "ali
onde os recursos são escassos, onde não há dinheiro ou lugar suficiente, as
equipes femininas sempre são desfavorecidas".
Contudo, o número de jogadoras
experimenta um crescimento vertiginoso em nível global, e claramente superior ao
dos homens. Segundo os últimos dados disponíveis da Fifa, a quantidade de
jogadoras registradas aumentou mais de 50% entre 2000 e 2006, enquanto no caso
dos homens cresceu apenas 21% no mesmo período. A Alemanha, por sua vez, ostenta
o recorde europeu em número de jogadoras inscritas em associações. E está entre
os primeiros lugares do mundo.
"Acredito que o futebol é um bom exemplo
do desenvolvimento geral das mulheres e de sua crescente influência", disse a
professora Pfister. "Hoje as mulheres assumem cargos políticos que há 40 anos
não podiam, como, por exemplo, Angela Merkel", chefe do governo da Alemanha,
acrescentou. Pfister também destacou que "é bom as mulheres terem a oportunidade
de participar de um jogo coletivo, já que nele se adquire experiências
diferentes das que se tem de maneira solitária em um ginásio, por exemplo. Creio
que é positivo que existam novos modelos para as mulheres, de práticas mais
voltadas para o esportivo, e não para o externo, para brilhar bem, como podem
ser outros esportes", disse a especialista.
Por sua vez, hannelore
Ratzeburg, vice-presidente da Associação Alemã de Futebol e responsável pelo
futebol feminino, disse que "tantas meninas e mulheres serem integrantes ativas
das associações propicia ótimas perspectivas para a realização neste país do
campeonato mundial em 2011. Estou convencida de que a tendência positiva
continuará aumentando", garantiu Ratzeburg. E vale dizer. A seleção alemã,
última campeã, defendeu sua coroa com sucesso em 2007 na China e agora o fará
novamente, como dona da casa, na próxima Copa Mundial Feminina. Este torneio
chegará a um país muito sensibilizado com este esporte. Por ocasião do
Campeonato Mundial de 2006, cuja sede também foi a Alemanha e onde sua seleção
ficou em terceiro lugar, as comemorações e a identificação popular com a equipe
foram de tal magnitude que voltaram a tremular as bandeiras nacionais com nunca
acontecera antes desde os tempos do pós-guerra. E desta vez com espírito de sã
competição. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)