Socorro Gomes, presidente do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta pela Paz) fez nesta sexta-feira (11), no Teatro Municipal de Caracas, o seu primeiro discurso na qualidade de presidente do Conselho Mundial da Paz (CMP). Ela foi eleita na véspera, por aclamação, por perto de 400 delegados de 82 paises e mais de uma centena de entidades. "É um dos maiores desafios que já assumi em minha vida de militante por uma humanidade livre das cadeias da opressão", disse Socorro.
Socorro Gomes fala no teatro Municipal de Caracas
O discurso abriu a Conferência Mundial pela Paz, no Teatro Municipal de Caracas, declarada capital mundial da paz e da luta antiimperialista (nos três dias anteriores, transcorreu a Assembléia do CMP, que foi a parte resolutiva do encontro). "Assumo o compromisso de dedicar o melhor de minhas vidas à causa do Conselho Mundial da Paz", afirmou a presidente recém-eleita. Socorro substitui no cargo, pelos póximos quatro anos, a Orlando Fundora, fundador, ao lado de Fidel Castro, do Movimento 26 de Julho de Cuba. Ela fez uma saudação especial a Fundora, afirmando, entre aplausos, que este "aportou (ao CMP) a força e a combatividade do heróico povo cubano".
Causa nobre, caminho tortuoso
A nova presidente destacou o seu empenho em trabalhar em estreita colaboração com o Comitê Executivo do CMP, formado por 40 membros, seu Secretariado, com 13 membros, e os nove vice-presidentes, todos distribuidos pelos diversos continentes, e ainda com as organizações nacionais filiadas ao Conselho. "Nossa causa só será alcançada coletivamente", sublinhou.
Socorro Gomes fez uma rápida síntese da causa da luta pela paz no mundo de hoje, avaliando que "a causa é nobre e elevada, mas o caminho é complexo e tortuoso", em uma "situação mundial caracterizada pelas guerras de agressão", onde "a ONU é instrumentalizada pelo imperialismo estadunidense". Para a presidente do CMP, "a estratégia dos Estados Unidos tornou o mundo mais inseguro, elegeu como meios o terrorismo de Estado, a militarização do planeta e as guerras de agressão".
Propostas para o CMP
Ao mesmo tempo, Socorro destacou o seu "otimismo histórico". Proclamou que "o imperialismo não é invencível e pode ser derrotado". E frisou em particular a maré progressista que se espalha pela América Latina, que chamou de "Continente Rebelde".
"Encontramo-nos no limiar de uma nova Primavera dos Povos", previu Socorro Gomes, em uma referência à onda progressista que tomou conta da Europa em 1848.
"O CMP pode e deve se converter num pólo aglutinador" e "tornar-se uma mola propulsora da causa da paz", disse a nova presidente, ao esboçar uma agenda das tarefas de seu mandato. Propôs "iniciativas audaciosas, que dêem à ação caráter de massas antiimperialista".
Coube ao grego Anastassis Pafilis, secretário-geral do CMP, encaminhar à Assembléia da entidade a proposta de Socorro Gomes como sua nova presidente. Na mesma sessão foram aprovados, também por aclamação, os demais componentes da direção do Conselho entre 2008 e 2012. Pafilis (que é eurodeputado pelo Partido Comunista da Grécia) foi reeleito secretário-geral, a segunda função mais importante do Conselho. Os cargos não são ocupados em caráter individual, mas sim como representação de entidades; assim, a rigor é o Cebrapaz que acaba de assumir a presidência da organização mundial.
Uma responsabilidade para o Brasil
Há entre os delegados ao encontro de Caracas uma grande expectativa em relação ao futuro do CMP. "Nova fase", "renascimento" e "revigoração" são algumas das expressões usadas para descrever o ponto em que se chegou com a Assembléia-Conferência em curso.
O Conselho Mundial da Paz foi fundado em 1950, no quadro da Guerra Fria, com enorme prestígio e forte apoio do movimento comunista mundial e da União Soviética. Um exemplo: seu acervo inclui várias obras de arte de nomes como Pablo Picasso e Candido Portinari.
A derrota da experiência soviética e a desintegração do campo socialista representaram um duro golpe para o CMP. A chamada nova ordem unipolar, com os EUA como única superpotência, desfavorecia a causa da paz, como ficaria demonstrado em seguida no Afeganistão, no Iraque e no conjunto da estratégia de George W. Bush, o "presidente da guerra", como ele mesmo gosta de se denominar. Um ponto de interrogação chegou a pairar sobre a própria sobrevivência do CMP, que teve de transferir sua sede de Helsinque para Paris e em mais tarde para Atenas.
Com a última transferência de sede, dez anos atrás, o Conselho passou a reerguer-se graças, entre outros fatores, a um notável apoio político, de massas e material proporcionado pelo Partido Comunista e outros lutadores gregos pela causa da paz. A este impulso inicial somou-se, em seguida, o ascenso dos movimentos progressistas na América latina.
A própria fundação do Cebrapaz corresponde a esse processo de reerguimento. Fundado em dezembro de 2004, é uma entidade jovem, sobretudo se comparada a muitas que ajudaram a fundar o CMP em 1950 (a mais antiga delas, indiana, data de 1931). Sua escolha para presidir o Conselho Mundial da Paz rejubila os brasileiros e latino-americanos que mantêm erguida esta bandeira. Mas ao mesmo tempo impõe a eles uma pesada responsabilidade – a de honrar a confiança neles depositada, num momento em que, talvez mais do que nunca nestes 68 anos, é necessário "fortalecer e transformar o CMP numa grande entidade de massas antiimperialista", como afirmou Socorro Gomes.
De Caracas, Bernardo Joffily; foto de Lilian Vaz