Os povos da floresta lançaram na última sexta-feira (04), em Manaus (Amazonas), a Aliança Internacional dos Povos da Floresta. A decisão de criar a aliança foi tomada durante a realização, entre os dias 1 e 4 de abril, do workshop Povos da Floresta e Mudanças Climáticas. O objetivo dessa articulação é se fortalecer para enfrentar o desafio de ter acesso aos recursos provenientes do mercado verde.
Os povos da floresta vêem a discussão sobre os futuros mecanismos
de redução de emissões de gases do efeito estufa - que causam o aquecimento
global - como uma oportunidade para que sejam ouvidos em suas reivindicações no
direito à terra, aos recursos naturais e no respeito aos seus modos de vida
tradicionais.
Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
(IPAM), o desmatamento das florestas tropicais é a segunda maior fonte de
emissões de gases de efeito estufa, entre 18 e 25% das emissões em todo o mundo,
ficando atrás apenas pelas emissões provocadas pelo uso da energia. A derrubada
em média de 1,8 milhão de hectares da floresta amazônica, somente a parte
brasileira, por ano (18.000 km2), corresponde a quase 3% do total de emissões
globais.
A aliança será uma rede para a troca de experiências e também
para influir nas discussões internacionais sobre clima, desmatamento e
mecanismos de redução de emissões de gases do efeito estufa. Ela é inspirada na
experiência "Aliança dos Povos da Floresta", que existe no Brasil há 20 anos,
reunindo indígenas, extrativistas e ribeirinhos.
Representantes de 11
países (Brasil, Equador, Colômbia, Costa Rica, Guiana, Guiana Francesa,
Paraguai, Nicarágua, Venezuela, Suriname e Panamá) presentes no workshop
aprovaram a criação da aliança, unanimemente, e assinaram a Declaração de Manaus
- documento elaborado ao final do evento, que reuniu as demandas mais
importantes para os indígenas e as populações tradicionais.
A declaração
pede respeito aos costumes indígenas e populações da floresta; assim como a
inclusão desses povos nas discussões sobre mudanças climáticas e o
reconhecimento do trabalho e da importância dessas populações na preservação das
áreas onde moram.
"Apesar das diferenças que existem na legislação sobre
uso e conservação das florestas nos países que ainda detém grandes extensões de
matas tropicais, eles partilham de problemas comuns e já sentem da mesma maneira
os efeitos negativos das mudanças climáticas no planeta: secas severas,
enchentes, mudanças nos ciclos biológicos naturais, com interferência na
agricultura e na pesca", disse o IPAM.
"Os povos indígenas precisam
entender exatamente o que está acontecendo em suas florestas. Eles sempre foram
esquecidos na hora das decisões e chegou a hora deles serem levados em
consideração porque seus conhecimentos ancestrais sobre a natureza nos permitem
dar importantes contribuições no debate sobre o clima", disse, em entrevista ao
IPAM, Yolanda Hernandez, líder do povo Maya Kakchiquel, da
Guatemala.
(Envolverde/Adital)