Genebra, 26/03/2008 – Diplomatas ocidentais e representantes da sociedade civil introduziram, de maneira imprevista, a questão do Tibet nos debates mantidos nesta cidade suíça pelo Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. Este organismo deve realizar uma sessão especial para examinar os episódios das últimas semanas no Tibet, afirmou Tenzin Samphel Kayta, em nome da organização não-governamental Sociedade para os Povos Ameaçados.
Kayata, que se apresentou à IPS como especialista em direitos
humanos do Escritório do Dalai Lama, líder espiritual do Tibet, disse que o
Conselho deverá tomar decisões para "deter os sistemáticos abusos infligidos às
populações tibetanas". O Conselho de Direitos Humanos, máximo organismo da ONU
especializado na matéria, permaneceu alheio aos incidentes desatados no Tibet
desde que começou seu primeiro período de sessões deste ano, no último dia
4.
Alguns governos e ONGs que introduziram a questão do Tibet no debate
aproveitaram que o Conselho examinaria, ontem, o acompanhamento e a aplicação
das resoluções da conferência mundial da ONU sobre direitos humanos realizada em
Viena em 1993. O debate mais acalorado da sessão do Conselho foi mantido pelo
embaixador dos Estados Unidos, Warren W. Tichner, e o representante da China,
Qian Bo.
Tichner expressou a preocupação profunda de Wasghinton e do povo
norte-americano pelas "últimas semanas de violência, prisões e perdas de vidas"
derivadas do que começou como protestos pacíficos em Lhasa, capital tibetana. Em
sua réplica, Qian recomendou aos Estados Unidos refletirem sobre seus
antecedentes de violações maciças de direitos humanos no Iraque e em outros
países. Cabe perguntar que outro países no mundo violou tanto e de maneira tão
flagrante os direitos humanos quanto os Estados Unidos, disse o diplomata
chinês.
Patrizia Scanella, representante da Anistia Internacional junto
aos órgãos da ONU em Genebra, lamentou, em declarações à IPS, que o Consleho não
ofereça aos governos e à sociedade civil "um espaço para falar especialmente do
Tibet". A exposição de Scanella, bem como as de outros oradores que se ocuparam
da questão, foi interrompida pelo presidente do Conselho, o romeno Doru Romulus
Costea, devido às moções de ordem apresentadas pela China e apoiadas por outros
países.
A representante da Anistia disse à IPS que o Conselho deve
analisar a situação dos direitos humanos na região autônoma do Tibet e nas
províncias vizinhas onde também foram registrados incidentes. O órgão
especializado da ONU deve pedir urgência às autoridades chinesas para que
examinem as reivindicações tibetanas, entre elas a eliminação das restrições à
prática de sua religião e das perseguições em razão do exercício das liberdades
de expressão, associação e reunião, insistiu Scanella.
Por sua vez,
Kayata afirmou que os mortos nas manifestações das últimas semanas somam 140,
dos quais apenas 40 foram identificados. O assessor do Dalai Lama afirmou que um
monge tibetano, de nome Thomkey, morreu de inanição devido ao bloqueio de
alimentos e remédios que rege em volta dos monastérios dos arredores de Lhasa. O
representante tibetano pediu ao Conselho que envie uma missão formada por
especialistas independentes do organismo para que verifique a situação no
Tibet.
Julie de Rivero, representante da organização não-governamental
Human Rights Watch, também exigiu respeito absoluto pelas liberdades de
expressão, reunião e associação dos grupos minoritários, "como garantem o
direito chinês e o internacional". O governo da Suíça exortou a China a
renunciar ao uso desmedido da força. No Tibet, como na China e em todo o mundo,
os direitos civis, culturais, econômicos, políticos e sociais, que são
inseparáveis, devem ser exercido por toda a população, disse a delegada suíça,
Muriel Berset.