Carga de madeira ilegal da Amazônia é bloqueada na França

Ouistreham, Caen (França) — Novo relatório revela como a demanda por madeira pela União Européia incentiva o desmatamento na região amazônica. Legislação européia precisa ser reformada para banir produto predatório do mercado. 


Um navio vindo do Brasil carregado de madeira de origem ilegal foi bloqueado nesta segunda-feira por ativistas do Greenpeace na França. Os ativistas da Alemanha, Inglaterra, Itália e Chile abordaram o cargueiro Galina III, que estava indo para o porto de Caen, no norte da França, para descarregar a madeira. Eles permanecem a bordo do cargueiro, que está sendo seguido pelo Arctic Sunrise, navio do Greenpeace.

"A exploração ilegal de madeira abre as portas para que a floresta amazônica seja destruída, acelerando as mudanças climáticas e colocando em risco a biodiversidade e o modo de vida de milhares de comunidades tradicionais", afirma Marcelo Marquesini, engenheiro florestal e ativista do Greenpeace, que participou da atividade na França.

"A União Européia é o maior importador de madeira amazônica do mundo e não possui um sistema de verificação de origem do produto, permitindo que empresas que atuam de forma clandestina e com madeira vinda de desmatamento abasteçam o seu mercado com madeira ilegal. Isso torna os países europeus co-responsáveis pela destruição da Amazônia."

Relatório revela produção ilegal

Relatório do Greenpeace divulgado nesta segunda-feira (17) revela como a produção ilegal de madeira na Amazônia continua sendo um problema crônico, não resolvido pelo governo brasileiro e pelos estados amazônicos, apesar do tema ter sido incluído no Plano de Ação para Controle e Prevenção do Desmatamento, lançado em março de 2004. Estima-se que 80% da madeira explorada na região sejam produzidos de forma ilegal. O governo Lula assumiu que pelo menos 63% da produção anual - 40 milhões de metros cúbicos - sejam ilegais. Porém, a madeira sai dos portos brasileiros totalmente legalizada graças às falhas no sistema de controle e monitoramento da produção.

As empresas importadoras européias, por sua vez, justificam estarem comprando madeira com documentos legais quando, na realidade, estão financiando a exploração ilegal que segue destruindo grandes áreas de florestas, promovendo o desmatamento, facilitando a grilagem de terras e incentivando a corrupção e a violência contra comunidades.

"Se a União Européia quiser zerar o desmatamento e combater os impactos das mudanças climáticas, ela precisa usar seu poder econômico para introduzir uma nova e rigorosa legislação florestal para banir a entrada de madeira ilegal e predatória no mercado europeu", disse Judy Rodrigues, da campanha de florestas do Greenpeace Internacional.

O desmatamento das florestas tropicais é responsável por aproximadamente um quinto das emissões globais de gases de efeito estufa - mais do que todo o setor de transportes do mundo inteiro. A Amazônia brasileira já perdeu 700 mil quilômetros quadrados da sua cobertura florestal original nos últimos 40 anos - uma área duas vezes e meia maior que o Estado de São Paulo. O desmatamento é a maior fonte de emissões brasileiras de gases de efeito estufa, colocando o país na posição de quarto maior poluidor do mundo.

O desmatamento na Amazônia aumentou de 1997 a 2004 quando atingiu o pico de 27.400 quilômetros quadrados, com apenas 30% deste total tendo sido autorizados. Nos três anos seguintes, no entanto, o índice anual de destruição florestal caiu, registrando 11.200 quilômetros quadrados em julho de 2007. O receio de uma retomada no desmatamento foi confirmado no início deste ano, quando dados preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostraram um aumento no desmatamento entre agosto e dezembro de 2007 (7 mil quilômetros quadrados), em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Bahia amiga da Amazônia

No Brasil, o Estado da Bahia deu um importante passo no combate ao desmatamento na Amazônia e às mudanças climáticas no Brasil. O governador Jaques Wagner (PT-BA) assinou nesta segunda-feira o Termo de Compromisso pelo Futuro da Floresta, aderindo ao programa Estado Amigo da Amazônia, do Greenpeace. O programa Estado Amigo da Amazônia prevê a criação de leis locais que eliminem madeira ilegal e de desmatamento de todas as compras e obras públicas dos estados, além do estabelecimento de ações efetivas de controle e fiscalização do fluxo e da comercialização de madeira nativa (não apenas amazônica) no território baiano. Com isso, o programa deve ajudar a criar condições de mercado para a madeira produzida de forma responsável e sustentável na Amazônia.

(Envolverde/Greenpeace)

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