Washington, 31/01/2008 – O Fundo Monetário Internacional reduziu novamente seu prognóstico de crescimento econômico mundial, e prepara más notícias para os países ricos e pobres. Porém, ontem evitou pronunciar a palavra mais temida: recessão. O planeta terá este ano seu pior rendimento em cinco anos, afirma o FMI em seu informe bianual Perspectivas da Economia Mundial. O alerta é conhecido dias depois que o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, rompeu as tradições ao recomendar aos governos gastar mais para estimular a economia, mesmo ao custo de aumentarem seus déficits fiscais, algo antes considerado pecado capital pela instituição.
De acordo com a previsão do Fundo, o crescimento econômico mundial
diminuirá de 4,9% em 2007 para 4,1% este ano. Será o pior rendimento
desde 2003, quando a produção aumentou 3,6%. Mas as coisas poderiam ser
piores. “O balanço global de riscos ainda se inclina para baixo”,
alertou o FMI. Em outubro, a instituição havia prevista crescimento2007
econômico de 4,4% para 2008. O Fundo atribuiu a mudança de suas
previsões à crise originada nos empréstimos bancários de má qualidade
nos Estados Unidos e em suas repercussões nos mercados financeiros.
Nesse sentido, reduziu o cálculo do crescimento da potência econômica
mundial para 2007 de 2,6% para 1,5%, e o do ano que acaba de começar a
apenas 0,8%. Outras economias saudáveis foram afetadas pelo caos nos
mercados mundiais, disse o FMI. Os países emergentes terão melhor
sorte, mas nenhum sairá ileso da crise. “A revisão responde,
fundamentalmente, ao enfraquecimento das economias avançadas”, disse o
economista-chefe do Fundo, Simon Johnson. “Se prevê, em geral, a
manutenção do crescimento dos mercados emergentes, motor da economia
mundial, mas neles também se espera uma queda para este ano”, afirmou.
China e Índia liderarão o crescimento da produção, graças, em grande
parte, à forte demanda interna, segundo o Fundo. Os exportadores de
produtos básicos também aproveitarão o alto preço da energia, os metais
e os alimentos. Mas estes benefícios serão desiguais. “A inflação
aumentou, em geral, nos mercados avançados e emergentes, pelo aumento
de preços dos alimentos e da energia”, disse Johnson. “Nas economias
avançadas, está previsto que a pressão inflacionaria ceda, cedo ou
tarde, com a redução econômica, embora as preocupações sobre os efeitos
sejam sérias. Em alguns mercados emergentes, a inflação continua sendo
um grande problema”, acrescentou.
Os alimentos representam uma grande proporção do gasto dos consumidores
nos países em desenvolvimento, os que, além disso, enfrentarão maiores
riscos na medida em que o caos financeiro surgido nos Estados Unidos se
espalhe por todo o planeta. “O principal risco é que a confusão
financeira reduza a demanda interna nas economias avançadas e que uma
diminuição maior derive em maiores excedentes” que se dirijam “aos
mercados emergentes e aos países em desenvolvimento”, disse Johnson.
“Os mercados emergentes que dependem do fluxo de capital serão afetados
diretamente”, acrescentou. Há poucos meses o FMI cobrou contenção
fiscal pelos Estados Unidos por outros países com grande déficit.
Mas, nos últimos anos aplaudiu a proposta do governo de George W. Bush:
destinar US$ 150 bilhões ao estímulo econômico para abortar uma
recessão. STrauss-Kahn chamou a atenção dos analistas financeiros na
semana passada ao afirmar no Fórum Econômico Mundial reunido em Davos
(Suíça) que a situação financeira do planeta é tão grave que uma
redução de taxas de juros não serviria por si só “para conter a
confusão. Não creio que possamos nos livrar da crise apenas com
ferramentas monetárias. Uma nova política fiscal provavelmente seja a
maneira mais adequada para responder à crise hoje”, afirmou.
“As palavras de Strauss-Kahn deixam de lado um tradicional consenso
mundial segundo o qual é necessária a contenção fiscal para ajudar a
reduzir os enormes desequilíbrios comerciais”, disse o jornal britânico
The Financial Times. “Isto ocorre enquanto se espera que o FMI divulgue
sua nova previsão econômica”, acrescentou, referindo-se ao informe
divulgado ontem. O jornal citou o ex-secretário do Tesouro dos Estados
Unidos, Larry Summers, para quem “esta é a primeira vez em 25 anos que
o diretor-gerente do FMI chama por um aumento dos déficits fiscais.
Vejo isto como o reconhecimento da gravidade da situação que
enfrentamos”, acrescentou o ex-funcionário.
Enquanto isso, a Reserva Federal (banco central) dos Estados Unidos
iniciou ontem uma reunião de dois dias, após a qual, segundo se prevê,
será anunciado uma nova redução das taxas d juros, entre outras medidas
de incentivo ao credito interno. (IPS/Envolverde)
Crédito de imagem: Sxchu
(Envolverde/ IPS)