Bangcoc, 21/11/2007 – A secretaria geral da Organização das Nações Unidas pediu urgência a China e Índia para que assumam maiores responsabilidades pelo bem-estar do planeta, com vistas as conferência das partes da Convenção sobre Mudança Climática que acontece em dezembro na ilha de Bali, na Indonésia. “China e Índia são grandes emissores de gases causadores do efeito estufa e por isso sua contribuição deve ser muito maior”, disse Han Seung-Soo, porta-voz para assuntos de mudança climática do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. “As autoridades desses países não devem ver isto como um problema que têm de enfrentar sozinhos, pois isso cabe a todo o mundo. Os dirigentes de todo o mundo devem participar de forma mais ativa”, acrescentou, ao abrir uma reunião regional de três dias na capital tailandesa.
A reunião de Bangcoc, organizada pela comissão Econômica e Social das
Nações Unidas para Ásia e Pacifico (Escap), se propôs a analisar a
resposta dos países da região aos desafios da mudança climática. A Ásia
é responsável por 34% das emissões mundiais de gases causadores do
efeito estufa, aos quais a maioria dos cientistas atribui o aquecimento
do planeta, segundo os últimos informes a esse respeito. A China lidera
a lista junto com os Estados Unidos devido à demanda crescente de
combustível fóssil exigida por sua pujante economia.
Espera-se que este continente encabece em 2009 a lista de emissores de
gases que causam o efeito estufa. Nesse contexto, a Índia se
aproximaria da China na próxima década, devido ao aumento previsto do
uso de carvão para atender sua demanda interna de energia. A tentativa
da Ásia para alcançar novos objetivos de desenvolvimento para sua
população não pode ser ignorada, destacou Seung-Soo na reunião de
Bangcoc. Depois de tudo, na região vivem quase dois terços da população
mundial, dos quais 600 milhões não têm água potável e mais de 800
milhões carecem de eletricidade.
“Temos de encontrar um novo modelo para certa complementação entre
crescimento e meio ambiente’, disse o enviado especial e ex-chanceler
da Coréia do Sul. Os comentários de Seung-soo dão uma pista sobre a
amplitude dos debates que acontecerão na Convenção sobre Mudança
Climática da ONU, que acontecerá entre 3 e 14 de dezembro em Bali. As
Nações Unidas esperam que a reunião, da qual participarão
representantes dos governos de mais de 180 países, sirva como
plataforma para redigir um projeto que contemple a grande devastação
que, se prevê, ocorrerá nos próximos anos na medida em que aumenta a
temperatura da Terra.
A urgência de contar com um novo convênio internacional, cuja
implementação tenha o comprometimento de todas as nações, reflete-se em
uma série de estudos e informes sobre o delicado estado do ambiente,
divulgados com vistas à convenção de Bali. Os países da região
Ásia-pacifico já sentem as conseqüências do aquecimento planetário,
pois já são testemunhas dos padrões climáticos extremos que destroem
suas comunidades, dizem os informes. Esta região “já é a principal
prejudicada por acontecimentos climáticos extremos”, afirma o informe
divulgado pela Escap. “Em 2006, a região teve 74% das mais de 21 mil
vítimas provocadas pelos desastres naturais ocorridos no mundo”,
acrescenta o documento.
Prevê-se que o degelo das geleiras do Himalaia “cause mais inundações,
provoque avalanches e afete os recursos hídricos nas próximas duas ou
três décadas. Isto será seguido pela redução do curso dos rios na
medida em que as geleiras derreterem”, acrescenta o informe. O dano
ambiental será igualmente nefasto no outro extremo da topografia, perto
do mar. “As zonas costeiras, especialmente as regiões de deltas
densamente povoados da Ásia-Pacifico, sudeste e meridional correm um
perigo maior de sofrerem inundações” afirma o documento da Escap.
Outro informe, intitulado ‘Up in Smoke: Asia and the Pacific” divulgado
na segunda-feira por uma coalizão de destacas organizações britânicas,
refletiu um panorama semelhante. “O Vietnã sofrerá algumas das piores
conseqüências da elevação do nível do mar”, diz este documento. “Se a
mudança climática fizer o nível do mar aumentar um metro, o Vietnã
poderá perder cerca de US$ 17 bilhões por ano e mais de 12% de suas
terras mais férteis”, ressalta.
Isso se deve ao fato de as terras cultiváveis mais produtivas dos
países do sudeste asiático ficarem em zonas baixas nos arredores do rio
Vermelho e do delta do Mekong, diz o documento. “Mais de 17 milhões de
pessoas poderão perder suas casas, das quais 14 milhões vivem na região
do delta do Mekong”, acrescenta. Também preocupa a situação de risco
das pequenas fazendas do continente diante da deterioração ambiental.
“Para enfrentar as mudanças climáticas é preciso aumentar a ajuda
recebida pela agricultura em pequena escala na Ásia”, onde se fomenta
“a diversificação de cultivos adaptados ao ambiente local, que
impulsiona a biodiversidade”, ressalta o documento.
Na região residem 87% dos 400 milhões de pequenos agricultores do
mundo, a maioria dependendo de um padrão regular de chuvas para irrigar
seus campos, prossegue o informe. “Apenas a China conta com metade
deles, seguida da Índia, com 23%. Muitas nações asiáticas, como
Bangladesh, Indonésia e Vietna, também contam com milhares de
agricultores de pequena escala”, detalha o documento.
De fato, o preço que terão de pagar as nações mais pobres da Ásia, como
Bangaldesh, pela mudança climática continuará sendo desproporcional em
relação ao dano que causam ao meio ambiente. “Somos contaminadores
insignificantes, mas somos os que mais sofremos”, disse Mohammed Eakub
ali, diplomata desse país. “Quinze por cento das terras de Bangladesh
ficarão submersas pela elevação do nível domar e serão afetados 16
distritos litorâneos”. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/ IPS)