RESTRIÇÕES A CUBA UMA POLITICA BOBA DA USA...

Embargo à Cuba é obsoleto e inútil afirmam especialistas

 

Washington, 22/10/2007 – A política de isolamento em relação à Cuba é um vício da Guerra Fria que os Estados Unidos não podem se dar ao luxo de manter, afirmam especialista em política externa e ativistas cubano-norte-americanoa. "A Guerra Fria acabou. As tropas soviéticas já deixaram Cuba. As tropas cubanas já não estão na África. Temos que promover uma mudança", disse Wayne Smith, ex-chefe da Seção de Interesses dos Estados Unidos em Havana, única representação de Washington na ilha.


O Centro para Políticas Internacionais com sede em Washington e ao qual pertence Smith, fez uma conferência para analisar o embargo comercial, a inexistência de vínculos diplomáticos e as restrições de viagem impostas pelo governo norte-americano a esse país de 11,2 milhões de habitantes. Estas medidas causam problemas humanitários, frustram oportunidades de negócios e afetam as relações hemisféricas, segundo os especialistas que participaram da conferência realizada na semana passada. O embargo em suas diversas variantes foi decidido oficialmente por Washington em fevereiro de 1962, o que o converte no "bloqueio" – com é chamado em Cuba – mais longo da história.

As tensões existentes desde o triunfo da Revolução Cubana de 1959 agravaram-se em 1961 com a frustrada operação na Baía dos Porcos, uma tentativa inútil de invasão da ilha por um grupo de exilados cubanos treinados pela Agência Central de Inteligência (CIA). No final de 1961, houve o temor de ocorrer uma guerra nuclear com a crise dos mísseis, depois que aviões-espiões dos Estados Unidos fotografaram mísseis soviéticos na ilha. Mas a política de Washington em relação à Cuba desde então teve diferentes manifestações.

Os últimos dois presidentes do Partido Democrata, Jimmy Car ter (1977-1981) e Bill Clinton (1993-2001), aliviaram as restrições ao comércio de alimentos com Cuba – que precisa importar devido à sua insuficiente produção agrícola – bem como às viagens de cubano-norte-americanos ao seu país de origem. Mas, as restrições voltaram a ser rígidas por decisão de seus respectivos sucessores do Partido Republicano, Ronald Reagan (1981-1989) e George W. Bush, atual presidente.

Especialistas em assuntos diplomáticos e em negócios e comércio exterior, ex-políticos e dirigentes da comunidade cubano-norte-americana uniram-se ao senador George Mcgovern na reunião desta semana para condenar o fracasso da atual política e promover uma mudança com vistas à eleição presidência norte-americana no ano que vem. Uma das queixas mais comuns é que o endurecimento das restrições permite aos cubanos naturalizados nos Estados Unidos viajar apenas uma vez por ano para Cuba. Críticos dizem que isto obriga as pessoas a decidirem entre visitar um parente agonizante ou ir ao seu funeral.

"No centro da questão humana estão as viagens. E estão prejudicando as pessoas cujos votos tentam captar: os cubano-norte-americanos", afirmou o ex-chefe de pessoal do Departamento de Estado, Lawrence Wilkerson. Os cubano-norte-americanos criticarem a política de isolamento reflete o crescente sentimento de obsolescência. A diáspora cubana nos Estados Unidos foi historicamente defensora da estratégia isolacionista, e está particularmente concentrada no Estado da Flórida, onde predomina o voto republicano.

Vários dos participantes citaram um estudo segundo o qual entre 66% e 69% dos cubano-norte-americanos ouvidos em dois dos distritos da Flórida controlados pelo Partido Republicano estão insatisfeitos com essa política. Isto despertou a esperança dos democratas em ganhar nesses distritos nas próximas eleições. "A política de Washington para Cuba fracassou e a comunidade cubano-norte-americana finalmente está se convencendo disso", disse Alfredo Duran, advogado de Miami ligado ao Partido Democrata e veterano da invasão à Baía dos Porcos. "Tudo indica que vamos ver isso confirmado nas urnas", acrescentou.

Porém, os participantes de um painel sobre a possibilidade de negócios com Cuba lamentaram a falta de disposição do Congresso para introduzir mudanças a respeito. Um projeto de emenda constitucional proposto em julho pelo congressista democrata por Nova Yorque Charles Rangel, para levantar as restrições comerciais que pesam sobre a ilha caribenha, foi derrotada na Câmara de Representantes, controlada pelos democratas. Cinqüenta e dois dos 66 legisladores democratas do Congresso que votaram contra a reforma receberam contribuições para suas campanhas do Comitê de Ação Política Democrática Cuba-Estados Unidos.

O comitê é uma pequena organização, mas muito bem economicamente, que integra o chamado lobby de Cuba, de linha dura em matéria de isolamento e embargo e apoiado pelos cubano-norte-americanos. "É claro que isto vai contra os interesses das circunscrições agrícolas desses congressistas", disse McGovern, que há pouco mais de uma semana apoio a candidatura de Hillary Rodham Clinton no Partido Democrata. Mcgovern é um especialista em questões agrícolas que viajou várias vezes à Cuba desde 1975, e de onde regresso há cerca de duas semanas após uma missão investigativa.

McGovern também disse que a política de embargo sempre foi um de seus temas favoritos desde que chegou ao Senado. Em seu primeiro discurso alertou sobre uma "perigosa fixação com Castro". De fato, a intenção desta política sempre foi a mudança de regime e para isso recorreu a vários métodos: invasão, algumas tentativas de assassinar Fidel Castro, e o último e mais passivo, programas de radio transmitidos para Cuba para fomentar a dissidência entre os cubanos. "Muitas pessoas se apegam a esta política por pensarem que ajudando a derrubar Castro", disse Duran, acrescentando que já se passaram quase 50 anos e ele ainda detém o poder.

Outro motivo de preocupação apresentado por seus detratores que he o isolamento prejudica as relações dos Estados Unidos com os países latino-americanos. A proximidade entre os regimes esquerdistas do continente e Fidel Castro cria um bloco antinorte-americano. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, mostra particular afinidade com ele e, ao mesmo tempo se converte em um problema para os Estados Unidos. "A forma mais rápida de cortar o impulso de Chávez é se aproximar de Cuba". Afirmou o ex-chefe de pessoal da chancelaria, Wilkerson, ao reiterar sua posição de que o embargo e as restrições constituem "a política mais boba do mundo".
(Envolverde/ IPS)

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