Simpático à causa muçulmana, cartunista brasileiro Carlos Latuff condena o ataque, mas pondera que revista francesa provocava os fiéis e agia sem bom senso
Latuff/Altagreer.com
Charge produzida por Latuff para criticar o preconceito contra os muçulmanos na Europa após ataque a revista francesa
Lembrado por seu ativismo político e simpatia pela causa muçulmana, principalmente pela Palestina, o cartunista brasileiro Carlos Latuff nunca escondeu ser contrário às publicações da revista 'Charlie Hebdo' sobre Maomé.
"Não acho que essas charges deveriam ser proibidas. Mas o artista deve usar o bom senso", pondera. "Não trabalharia na Charlie. Não tenho por que fazer desenhos de Maomé sem roupa."
Ao traçar um paralelo entre o trabalho satírico na imprensa francesa e na brasileira, Latuff explica que a revista parisiense claramente provoca os fiéis, enquanto no Brasil, segundo ele, os cartunistas estão mais preocupados em fazer graça do que crítica.
Surpresa
Apesar de ser crítico à abordagem da revista parisiense, Latuff afirma jamais ter imaginado que a repercussão das charges tomaria proporções terroristas e afetaria o mundo inteiro.
Reprodução/Facebook
Exemplo de charge da Charlie Hebdo sobre o profeta Maomé criticada por Latuff
"Fui e continuo sendo contra as charges de Maomé, mas não posso aceitar a execução sumária de quem quer que seja por causa de suas opiniões", diz.
O ataque dessa quarta (8) não foi o primeiro ataque sofrido pela revista 'Charlie Hebdo'. Em 2011, o veículo havia sido alvo de um ataque com bomba após publicar edição sobre a religião islâmica.
À época, o editor-chefe do veículo, Stéphane Charbonnier, o Charb, um dos 12 mortos no ataque, passou a sofrer ameaças de morte e desde então andava sob escolta policial. Além de Charb, os chargistas Georges Wolinski, Jean Cabut, conhecido como Cabu, e Tignous também foram mortos no ataque.
"Creio que soubessem o vespeiro onde estavam se metendo, mas não esperavam uma reação dessa proporção", diz o brasileiro.