A Arábia Saudita está envolvida numa guerra de preços contra a óleo "de xisto" americano , informou o Ministro do Petróleo saudita durante a reunião a portas fechadas da OPEP, em Viena, nesta quinta-feira, 27 de novembro, informa a Agência Reuters.
Riad se opôs a qualquer redução da produção na reunião, contra a posição da Venezuela, do Irã e de vários outros membros do cartel de países exportadores cujos orçamentos são prejudicados pela queda dos preços do petróleo. Esta redução se intensificou drasticamente na sexta-feira, quando o barril de Brent foi cotado por cerca de US$ 70 no final do dia, depois de cair US$ 10 em menos de uma semana.
Ali al-Naimi, ministre do petróleo saudita em 27 de novembro em Viena (Reuters).
"Ali al-Naimi, Ministro do Petróleo Saudita, falou da rivalidade com os Estados Unidos por participação no mercado. E aqueles que queriam uma redução da produção perceberam que essa redução não foi possível, porque os sauditas desejam uma batalha por quotas de mercado", disse uma fonte anônima mencionada por um ministro da OPEP citado pela Reuters.
Não há, portanto, uma aliança entre Riad e Washington, como alguns chegaram a supor, e a recusa da Arábia Saudita em se associar a um movimento de redução da produção não visa, ou não visa apenas infligir um bom suadouro à Rússia e ao Irã.
A Arábia Saudita parece querer lembrar a todos, tanto os de fora da OPEP, como os de dentro da organização, que é a única rainha no centro da cena mundial de petróleo.. A Arábia Saudita tem a maior capacidade de produção, as maiores reservas exploráveis do planeta, assim como os menores custos de produção, estimados entre 5 e 10 dólares por barril. Riad tem grandes reservas cambiais, que lhe dão poder para enfrentar uma longa batalha (mesmo que o orçamento da Casa dos Saud exigisse um custo de cerca de 100 dólares por barril para manter seu equilíbrio).
Esta guerra de preços pode durar meses para ter um impacto significativo sobre a produção de petróleo “de xisto” dos EUA .
Em Moscou, Putin estufa o peito, indicando que os resultados da reunião da OPEP e que os preços agora em vigor atendem seus interesses, mesmo que por causa deles, a Rússia possa vir a perder algumas centenas bilhões de dólares este ano.
As maioria das majors ocidentais já havia se programado para um declínio dos investimentos produtivos no início de 2014, quando o barril estava próximo dos US$ 100, se não conseguissem deter a queda de suas produções de bruto, “apesar " dos esforços titânicos e sem precedentes feitos durante a última década. Sem o apoio dos preços da OPEP, o pico das despesas de capital das grandes empresas ocidentais "poderia se transformar em um precipício" agora, adverte (por exemplo) um diretor de pesquisas do Morgan Stanley nas colunas Financial Times.
Pela primeira vez foi prevista uma queda na produção nos Estados Unidos e no Canadá pelo Financial Times na última sexta-feira por vários analistas. Os produtores americanos ficaram andando em círculos, recusando-se a enxergar tal calamidade; provavelmente eles não terão muita escolha se quiserem levantar os recursos necessários para a recuperação. Muitas ações de empresas de petróleo e associadas vêm enfrentando baixas muito fortes desde a última quinta-feira.
Esta é exatamente a situação temida no último relatório da Agência Internacional de Energia, publicado no início deste mês: para manter a produção global, o planeta petróleo precisa realizar um esforço muito grande e fazer investimentos constantes, a fim de continuar a desenvolver a produção de petróleo caro e não convencional, dentre os quais , o "shale oil" e as areias betuminosas norte-americanas são essenciais para enfrentar o declínio no número de grandes campos de petróleo convencionais de todo o mundo, e assim retardar o espectro do pico do petróleo.
A Arábia Saudita parece determinada a não fazer qualquer concessão . É impossível dizer por enquanto o que restará quando ela terminar.
Tradução: Argemiro Pertence
Comentário pessoal meu: observem que o articulista do Le Monde menciona como alternativas ao petróleo da OPEP o "shale oil" e as areias betuminosas dos EUA, mas não diz uma palavra sobre o pré-sal brasileiro e suas gigantescas reservas. Será que ele não sabe do pré-sal?
Le Monde - 29 novembre 2014
Contre-choc pétrolier : les Saoudiens mènent une guerre des prix contre le pétrole de schiste américain
L'Arabie Saoudite est bien engagée dans une guerre des prix contre le pétrole "de schiste" américain, a affirmé le ministre du pétrole saoudien durant la réunion à huis-clos de l'Opep jeudi 27 novembre à Vienne, révèle l'agence Reuters.
Riyad s'est opposée à toute réduction de la production lors de cette réunion, au grand dam du Venezuela, de l'Iran et de plusieurs autres membres du cartel des pays exportateurs dont les budgets sont sapés par la glissade des cours du baril. Cette glissade s'est amplifiée de façon spectaculaire vendredi, le baril de Brent cotant aux alentours de 70 dollars en fin de la journée, après avoir perdu 10 dollars en moins d'une semaine.
"Naimi a parlé de rivalité avec les Etats-Unis pour les parts de marché. Et ceux qui voulaient une réduction de la production ont compris qu'une telle réduction était impossible, parce que les Saoudiens veulent une bataille de parts de marché", rapporte une source anonyme briefée par un ministre de l'Opep, et citée par Reuters.
Il n'y a donc pas d'alliance entre Riyad et Washington, comme certains le supposaient, et le refus de l'Arabie Saoudite de s'associer à un mouvement de réductions des extractions ne vise pas, ou pas seulement, à infliger une bonne suée à la Russie et à l'Iran.
L'Arabie Saoudite semble entreprendre de rappeler à chacun, hors de l'Opep comme au sein de l'organisation, qu'elle est l'unique reine au centre de l'échiquier pétrolier mondial. L'Arabie Saoudite bénéficie à la fois de la plus forte capacité de production et des premières réserves exploitables de la planète, ainsi que de coûts d'extraction parmi les plus faibles, estimés entre 5 et 10 dollars le baril. Riyad jouit au surplus de très opulentes réserves de change, qui lui assurent de pouvoir faire face à une longue bataille (même si le budget de la maison des Saoud réclamerait un cours du baril de l'ordre de 100 dollars pour être à l'équilibre).
Cette guerre des prix pourrait durer des mois avant d'avoir un effet sensible sur la production américaine de pétrole "de schiste".
A Moscou, Vladimir Poutine bombe le torse, indiquant à l'issue de la réunion de l'Opep que les nouveaux cours désormais en vigueur lui conviennent, quand bien même à cause d'eux, la Russie pourrait perdre jusqu'à une centaine de milliards de dollars cette année.
La plupart des majors occidentales ont d'ores et déjà engagé un repli de leurs investissements productifs début 2014, lorsque le baril était au-dessus de 100 dollars, faute d'être parvenues à enrayer les chutes de leurs extractions de brut, en dépit d'efforts titanesques et sans précédent consentis au cours de la dernière décennie. Sans soutien des prix de la part de l'Opep, ce pic des "Capex" des grandes compagnies occidentales "pourrait se transformer en précipice", met désormais en garde (par exemple) un directeur de recherche de la banque Morgan Stanley dans les colonnes du Financial Times.
Une chute de la production aux Etats-Unis et au Canada a été pour la première fois dans le Financial Times pronostiquée vendredi par plusieurs analystes. Les producteurs américains mettent les chariots en cercle, refusant d'envisager pareille calamité ; sans doute n'ont-ils pas d'autre choix s'ils veulent pouvoir lever les fonds nécessaires afin de la conjurer. De nombreuses actions de compagnies pétrolières et para-pétrolières encaissent depuis jeudi de très forts replis.
Voilà précisément la situation que redoute l'Agence internationale de l'énergie dans son dernier rapport, publié au début du mois: afin de maintenir la production mondiale, la planète pétrole a besoin d'un effort très élevé et constant d'investissements, dans le but de continuer à développer la production des pétroles non-conventionnels coûteux qui, à l'instar du pétrole "de schiste" et des sables bitumineux nord-américains, s'avèrent indispensables pour faire face au déclin de nombre de champs de pétrole conventionnel majeurs tout autour du globe, et repousser ainsi le spectre du pic pétrolier.
L'Arabie Saoudite semble décidée à faire le ménage. Impossible de dire pour l'heure ce qui restera quand elle en aura fini.