Bahawalpur, Paquistão, 17/10/2007 – O chefe da campanha
Chamado Mundial à Ação Contra a Pobreza (GCAP), Irfan Mufti, acredita que este
ano o movimento conseguirá influenciar os orçamentos nacionais, bem como as
políticas dos organismos multilaterais de crédito. Em entrevista à IPS, este
ativista pelos direitos humanos que foi coordenador do Fórum Social do Paquistão
nos últimos três anos, afirmou que o GCAP já tem uma importante presença na Ásia
meridional, região que sofre amplas desigualdades.
Hoje, Dia Internacional
pela Erradicação da Pobreza, os ativistas estenderão nesta cidade paquistanesa
um gigantesco cartaz, de 10 quilômetros de comprimento, com assinatura de
milhões de pessoas pedindo medidas concretas contra a pobreza.
P- Como
funcionará este ano a campanha "Lenvate-se e se faça ouvir" para projetar as
demandas?
R- Há dois elementos. Existe uma petição ou declaração entregue a
todas as coalizões nacionais para ser lida. Cobrirá demandas especificas, como
aumentar os orçamentos para o desenvolvimento social e reduzir o gasto militar.
As coalizões de cada país preparam documentos de políticas locais. Criamos um
canal pelo qual todas estas coalizões informarão suas petições em nosso site,
para incluí-las em um documento único que será entregue aos presidentes do Banco
Mundial e do Fundo Monetário Internacional, em Washington.
Tentamos fazer com
que essas vozes sejam ouvidas tanto em nível local quanto global. Fotos das
atividades (de hoje) serão expostas em Washington. Estas são as ações imediatas,
mas para médio prazo preparamos uma estratégia de comunicação para utilizar
esses números e resumos de ações.
P- Onde se situam a Ásia meridional e a
Ásia-Pacifico em tudo isto?
R- Somos bastante fortes nos países da Ásia
meridional (Bangladesh, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lnaka) e também
nos do sudeste asiático, como Indonésia, Filipinas e Vietnã. Acabamos de ir à
China. Em outras partes há problemas em termos de mobilização e alcance. Em
nações como Coréia do Sul, Japão, Tailândia e Camboja não temos uma campanha
muito forte. Mas na Austrália temos uma boa resposta. No ano passado, cem mil
vozes se levantaram nesse país.
P- Qua a reação dos governos da Ásia
meridional às suas demandas?
R- Nem tudo é positivo. Entretanto, há bons
exemplos, como o que vimos em Bangaldesh. Diante da pressão da coalizão local do
GCAP, um tribunal pediu ao governo que não assinasse um acordo com o FMI com as
condições exigidas pelo Fundo. Há exemplos de gestões de sucesso. No Nepal, a
coalizão do GCAP reuniu-se com o novo primeiro-ministro e apresentou várias
demandas. Agora, uma comissão nacional revisa essas demandas. No Paquistão,
estamos tentando iniciar um diálogo de ampla base com o governo para
apresentarmos nossas exigências.
P- O senhor pensa que alcançando os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas a
pobreza pode ser erradicada?
R- Não. Nós os chamamos de "Objetivos Mínimos de
Desenvolvimento". Não representam as reais demandas das pessoas, mas cremos que
ao menos é a agenda mínima que os chefes de Estado assinaram. Pensamos que
podemos considerá-las como a base de seus compromissos, mas não significa que
garantem um desenvolvimento real. De todo modo, continuamos usando os Objetivos
como ponto de apoio, e cada país deveria alcançá-los.
P- Qual é a idéia
central este ano?
R- A idéia básica é que enquanto a sociedade não estiver
organizada e mobilizada não será possível influenciar as políticas. Por isso,
esta é a primeira fase da campanha para reavivar e ativar os elementos sociais
nas políticas. Talvez não haja uma mudança imediata, mas, definitivamente, no
futuro, quando nossos números aumentarem, nossa influência política crescerá.
Também crescerão nossos compromissos e nossas plataformas, e seremos capazes de
conseguir resultados muito melhores.
P- Quais outros objetivos do
GCAP?
R- Resumindo, está baseada na mobilização liderada desde o Sul.
Enquanto a estratégia-chave é mobilizar o maior número possível de pessoas no
mundo, também se busca criar alternativas. O que tentamos fazer é usar os mesmos
documentos em nossos contatos com o Banco Mundial, com a Organização Mundial do
Comércio, com o Grupo dos Oito (países mais poderosos), entre outros. Por isso,
em certa medida, também estamos sugerindo alternativas.
P- O GCAP mostra
uma extraordinária solidariedade.
R- Estamos procurando desenvolver a
solidariedade entre o Norte e o Sul. Este é um fator muito importante, porque
agora se pode ver que a campanha é muito ativa nos países do Sul como nos do
Norte, como na Europa, na América do Norte, Austrália e no Japão. A
solidariedade é um componente muito forte.
P- No ano passado o GCAP e a
Campanha do Milênio da ONU estabeleceram um recorde no Guinness pela maior
mobilização única coordenada da história, quando 23,5 milhões de pessoas em
cerca de cem países ficaram de pé contra a pobreza. Esperam quebrar esse recorde
neste ano?
R- Essa é nossa expectativa. Mas este ano não apenas tentamos
quebrar um recorde em termos de números, mas também traçamos outros objetivos de
campanha fundamentais. Tentaremos chegar a outras partes do mundo. Este ano
alcançamos 106 países, e tenho a esperança de que o número final seja
120.
P- O senhor disse que a campanha deste ano é mais política. Por
que?
R- Um objetivo é influenciar os líderes políticos. É por isso que
introduzimos o conceito de delegações e embaixadores junto aos líderes
políticos. Em cerca de 36 países, estas delegações de coalizões locais estão se
reunindo com ministros das Finanças, primeiros-ministros e chefes de Estado para
apresentar suas demandas. Este ano, não só nos concentraremos na campanha
"Levante-se e se faça ouvir", mas também temos muitas outras atividades, como os
cartazes gigantes. Estão sendo organizadas correntes humanas e também haverá
tribunais de mulheres.
Portanto, existe todo um menu de atividades e não
apenas o protesto de ficar em pé e erguer a voz. Há, definitivamente, um
elemento político, e isso porque nossa coalizão mundial é muito sensível à
realidade. Temos que nos concentrar no aspecto político de nossas demandas.
Devemos entender o lado político da governabilidade mundial.
(Envolverde/
IPS)