Jeremy R. Hammond, analista político independente que foi galardoado com o prêmio Projeto Censurado ao melhor jornalismo investigativo, explica um por um os mitos sionistas que ouvimos todos os dias na propaganda israelense.
Mito 1: Judeus e árabes sempre estiveram em conflito na região
Embora os árabes eram a maioria antes da criação do estado de Israel na Palestina, houve sempre judeus na região. Os palestinos judeus, em maior parte, conviviam bem com seus vizinhos árabes. Isso começou a mudar com o surgimento do movimento sionista, porque os sionistas rejeitaran o direito dos palestinos à autodeterminação e queriam que a Palestina fosse deles para criar um “Estado judeu”, em uma região onde os árabes eram maioria e possuíam a maior parte das terras.
Por exemplo, depois de uma série de conflitos em Yafa (Jaffa) em 1921, nos quais morreram 47 judeus e 48 árabes, os ocupantes britânicos realizaram uma investigação e concluiram que “não há nenhum antissemitismo no país, seja racial ou religioso”. De fato, os ataques contra as comunidades judaicas foram o resultado do medo dos árabes do declarado objetivo sionista de apreensão de território. Quando a violência irrompeu de novo em 1929, o relatório da Comissão Shaw, britânica, observou que “em menos de dez anos, os árabes realizaram três ataques graves contra os judeus. Nos 80 anos anteriores a esses ataques, não houve nenhum caso registrado de incidentes semelhantes”. Representantes de todas as partes do conflito emergente testemunharam perante a comissão que, antes da Primeira Guerra Mundial, “judeus e árabes viviam juntos, se não de forma amigável, pelo menos com tolerância, uma qualidade que é quase desconhecida na Palestina atual.” O problema é que “o povo árabe da Palestina está unido, agora, em sua demanda por um governo representativo”, mas os sionistas e seus benfeitores britânicos negam a eles esse direito.
O relatório britânico Hope-Simpson de 1930 relatou, da forma semelhante, que os moradores das comunidades judaicas não-sionistas na Palestina tinha relações amistosas com seus vizinhos árabes. “É muito comum ver um árabe sentado na varanda de uma casa judaica”, disse o relatório. “A situação é completamente diferente nas colônias sionistas.”
Mito 2: As Nações Unidas criaram o Estado de Israel
A Organização das Nações Unidas foi envolvida quando o Mandato Britânico tentou lavar suas mãos da volátil situação que suas políticas ajudaram a criar e buscou se livrar do problema Palestina. Para isso, eles pediram que as Nações Unidas assumissem o problema.
Desta forma foi criada a Comissão Especial da ONU sobre a Palestina (UNSCOP) com a missão de analisar a questão e fornecer recomendações para resolver o conflito. A UNSCOP não tinha nenhum representante de qualquer país árabe e, ao final, publicou um relatório onde rejeitava explicitamente o direito dos palestinos à autodeterminação. Ao rejeitar a solução democrática do conflito, a UNSCOP propus que a Palestina fosse dividida em dois estados, um árabe e um judeu.
A Assembleia Geral da ONU apoiou a UNSCOP na Resolução 181. Muitas vezes se afirma que esta resolução “divididiu” a Palestina, o que forneceu um argumento legal aos líderes sionistas para a posterior declaração da criação do Estado de Israel, ou alguma variante destas reivindicações. Todas essas alegações são falsas!
A Resolução 181 apenas aprovou o relatório e as conclusões da UNSCOP enquanto recomendações. Não é preciso dizer que para que a Palestina fosse oficialmente dividida, esta recomendação deveria ter sido aceita por judeus e árabes, algo que não aconteceu.
Além disso, as resoluções da Assembléia Geral não são considerados juridicamente vinculativas (apenas as resoluções do Conselho de Segurança são). E, aliás, a ONU não tinha autoridade para tomar o território de um povo e entregar a outro, e qualquer resolução que estabelecesse essa divisão teria sido nula em qualquer caso.
Mito 3: Os árabes perderam uma oportunidade de ter seu próprio Estado em 1947
A recomendação da ONU de dividir a Palestina foi rejeitada pelos árabes. Hoje, muitos comentaristas dizem que essa rejeição foi uma “oportunidade” perdida pelos árabes de ter seu próprio estado. Mas, considerar aquilo como uma “oportunidade” para os árabes é evidentemente ridículo. O plano de partilha não foi de modo algum uma “oportunidade” para os árabes.
Em primeiro lugar, como já comentamos, os árabes eram a maioria na Palestina na época, enquanto os judeus constituíam cerca de um terço da população, e isso graças à imigração em massa da Europa (em 1922, o censo britânico mostrava que os judeus representavam apenas 11 % da população).
Além disso, as estatísticas de propriedade das terras de 1945 mostraram que os árabes possuíam mais terras do que os judeus em cada um dos distritos da Palestina, incluindo Jaffa, onde os árabes possuía 47 por cento da terra e judeus apenas 39 por cento (Yafa se gabava de ser o distrito com o maior percentual de terras pertencentes a judeus). Em outros distritos, os árabes possuiam uma parcela ainda maior da terra. O caso mais extremo era o de Ramallah, onde os árabes possuía 99 % da terra. Em toda a Palestina, os árabes possuíam 85 % da terra, enquanto os judeus eram proprietários apenas de um 7 %, uma situação que permaneceu inalterada até a criação do Estado de Israel.
Apesar destes fatos, a recomendação da partilha da ONU propôs a entrega de mais da metade do território palestino para os sionistas para a criação do seu “Estado judeu”. Não era razoável esperar que os árabes aceptassem tamanha proposta injusta.
Alguns comentaristas políticos dizem hoje que a recusa dos árabes em aceitar que parte do seu território lhes fosse tirado, em base à negação explícita do direito de auto-determinação, representou uma “oportunidade perdida”. Este julgamento demonstra uma ignorância espantosa das raízes do conflito ou falta de vontade de examinar honestamente a história.
Também é bom lembrar que o plano de partilha foi rejeitado por muitos líderes sionistas. Entre os que apoiaram a ideia, como foi o caso de David Ben-Gurion, o seu raciocínio era que se tratava de uma medida pragmática em direção ao seu objetivo, que era conquistar toda a Palestina para o “Estado judeu”, o que poderia, eventualmente, ser alcançado, pela força das armas.
Quando pela primeira vez levantou a idéia de partição, Ben-Gurion escreveu que “depois que nos tornemos uma força poderosa, como resultado da criação do estado, vamos abolir partição e nos expandir para toda a Palestina”. O Estado judeu “terá de preservar a ordem” (se os árabes não se submetem) “com metralhadoras, se necessário.”
Mito 4: “Direito à existência” de Israel
O fato de que este termo é usado somente em relação a Israel é instrutivo quanto à sua legitimidade, como é uma exigência que se dirige aos palestinos, que são os que devem reconhecer o “direito à existência” de Israel, enquanto ninguém exige que Israel reconheça o “direito à existência” de um Estado palestino.
As nações não têm direitos. As pessoas têm. O marco adequado para o debate é o direito dos povos à autodeterminação. A partir deste ponto de vista, é evidente que não são os árabes que têm negado esse direito judeus, mas os judeus que negaram esse direito aos árabes. A terminologia israelense sobre “direito de existir” é constantemente empregada para esconder esse fato.
Como já dissemos, Israel não foi criada pela ONU, senão que foi fundada em 14 de maio de 1948, quando os sionistas unilateralmente e sem autoridade legal, declararam a existência de Israel, sem especificar as fronteiras do novo Estado. Em um instante, os sionistas declararam que os árabes já não eram os donos da sua própria terra; agora pertencia aos judeus. Em outro instante, os sionistas declararam que a maioria árabe da Palestina era agora cidadãos de segunda classe no novo “Estado judeu”.
Não é necessário dizer que os árabes não aceitaram passivamente esses fatos no terreno. Os países árabes vizinhos declararam guerra ao regime sionista, com o objetivo de evitar esta injustiça tão grave contra a maioria dos habitantes da Palestina.
Deve-se ressaltar que os sionistas não tinham direito a maior parte das terras declaradas como parte de Israel. Esse direito era dos árabes. Portanto, esta guerra não foi, como se costuma dizer, um ato de agressão por parte dos Estados árabes contra Israel. Na verdade, os árabes interviram na defesa dos direitos da população árabe da Palestina, para impedir que os sionistas se apoderassem ilegal e injustamente das terras e privassem dos seus direitos à população árabe. O ato de agressão foi a declaração unilateral da criação de Israel pelos líderes sionistas e a violência exercida para impor esse objetivo, tanto antes como depois da declaração.
Durante a guerra que se seguiu, Israel implementou uma política de limpeza étnica. Cerca de 700 mil palestinos árabes foram expulsos ou fugiram de suas casas por medo de massacres, como o que tinha acontecido na aldeia de Deir Yassin, pouco antes da fundação do Estado de Israel. A estes palestinos não lhes foi permitido retornar aos seus lares e terras, apesar de seu “direito de retorno” ser reconhecido e codificada no direito internacional.
Os palestinos jamais aceitarão exigência de Israel e seu principal benfeitor, os Estados Unidos, de que reconheçam o “direito à existência” de Israel. Se o fizessem, isso significaria que Israel teria “direito” de roubar terras árabes, enquanto os palestinos não teriam nenhum direito a elas. Isso significaria, efetivamente, que Israel tinha o “direito” a realizar a limpeza étnica da Palestina, enquanto os árabes não tinham o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade em suas próprias casas e em suas terras.
O uso constante do termo “direito de existir” tem um propósito: esconder a realidade de que são os judeus que negaram aos árabes o seu direito à autodeterminação, e não vice-versa, e tentar legitimar os crimes israelenses contra os palestinos, tanto os do passado como os do presente.
Mito 5: Os países árabes ameaçaram Israel com a aniquilação, em 1967 e 1973
A verdade é que foi Israel quem disparou o primeiro tiro na Guerra dos Seis Dias. Nas primeiras horas da manhã do 5 de junho de 1967, Israel lançou seus soldados para um ataque surpresa contra o Egito (na época, República Árabe Unida) e dizimou a força aérea egípcia, enquanto a maioria de seus aviões ainda estavam no chão.
É quase obrigatório que os comentaristas descrevam esse ataque como “preventivo”. Mas para que tivesse sido “preventivo”, deveria ter havido, por definição, uma ameaça iminente de agressão egípcia contra Israel. Mas não havia.
É comum afirmar que a retórica belicosa do presidente Nasser, o bloqueio do Estreito de Tiran, o movimento de tropas na Península do Sinai e a expulsão das forças de paz da ONU em seu lado da fronteira, constituíam em seu conjunto, esta ameaça iminente.
No entanto, os serviços de inteligência de os EUA e Israel avaliaram, naquele momento, que a probabilidade de que Nasser atacasse era realmente baixa. A CIA considerou que Israel tinha esmagadora superioridade militar e que, em caso de guerra, derrotaria as forças árabes no espaço de duas semanas; e, em uma semana, se Israel atacasse primeiro, que é o que realmente aconteceu.
Há que ter em mente que o Egito tinha sido vítima de uma agressão por parte de britânicos, franceses e israelenses na “Crise do Canal de Suez” em 1956, depois que o Egito nacionalizou o Canal de Suez. As três nações agressoras conspiraram para fazer a guerra contra o Egito que levou à ocupação israelense da Península do Sinai. Sob pressão dos EUA, Israel retirou-se do Sinai em 1957, mas o Egito não tinha esquecido da agressão.
Além disso, o Egito tinha formado uma aliança com a Síria e a Jordânia, um compromisso mútuo para ajudar uns aos outros em caso de guerra com Israel. Jordânia tinha criticado Nasser por não manter essa promessa após o ataque israelense à aldeia de Samu (na Cisjordânia) no ano anterior, e sua retórica era uma clara tentativa de recuperar sua posição no mundo árabe.
Nasser estava à defensiva e não tinha a menor intenção de lançar uma ofensiva contra Israel. Isto foi apontado por algumas personalidades israelenses. Abraham Sela, por exemplo, do Centro Shalem, observou: “A acumulação de forças egípcias no Sinai não era devido a um plano de ofensiva, e as instruções defensivas de Nasser assumiam explicitamente que Israel atacaria primeiro.”
O primeiro-ministro israelense Menachem Begin reconheceu que “em junho de 1967, tivemos uma chance. A concentração de tropas egípcias nas proximidades do Sinai não provam que Nasser estava realmente prestes a nos atacar. Temos de ser honestos com nós mesmos. Nós decidimos atacá-lo “.
Issac Rabin, que também seria mais tarde primeiro-ministro de Israel, admitiu em 1968 que “Eu não acho que Nasser queria guerra. As duas divisões que ele mandou para o Sinai não eram suficientes para lançar uma guerra ofensiva. Ele sabia disso e nós sabíamos disso. ”
Os israelenses também reconheceram que sua própria retórica, naquele momento, sobre a “ameaça” de “aniquilação” que representavam os estados árabes, era pura propaganda.
O Geral Chaim Herzog, comandante geral e primeiro governador militar da Cisjordânia ocupada após a guerra, admitiu que “não havia perigo de aniquilação, os quartéis gerais israelenses nunca acreditaram que havia esse perigo.”
O Geral Ezer Weizman, disse algo semelhante: “Nunca houve qualquer perigo de extermínio. Essa hipótese nunca foi considerada em uma reunião formal”.
O chefe de Estado-maior Haim Bar-Lev, admitiu: “Nós não estivemos ameaçados de genocídio na véspera da Guerra dos Seis Dias e nunca pensamos nessa possibilidade.”
O ministro israelense da Habitação, Mordechai Bentov, também reconheceu que “toda a história do perigo de extermínio foi inventada e se exagerou a posteriori para justificar a anexação de novos territórios árabes”.
Em 1973, no que os israelenses chamam de “Guerra do Yom Kippur”, Egito e Síria lançaram uma ofensiva surpresa para recuperar o Sinai e as Colinas de Golã, respectivamente. Esta ação combinada é popularmente descrita em relatos contemporâneos como uma “invasão”, ou um ato de “agressão” contra Israel.
No entanto, como já foi observado, após a guerra de junho de 1967, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 242, que pedia que Israel se retirasse dos territórios ocupados. Não é preciso dizer que Israel recusou-se a fazê-lo e continuou a violar o direito internacional de forma contínua desde então.
Durante a guerra de 1973, Egito e Síria “invadiram” seus próprios territórios, que estavam, então, ocupados ilegalmente por Israel. A idéia de que esta guerra foi um ato de agressão árabe pressupõe que a Península do Sinai, as Colinas de Golã, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza eram territórios israelenses. Isto é, obviamente, uma suposição grosseiramente falsa que demonstra a natureza absolutamente prejudicial e tendenciosa das análises hegemônicas quando se trata do conflito árabe-israelense.
Essa falsa narrativa se encaixa com o relato mais amplo, igualmente falacioso, de Israel como uma “vítima” da intransigência e agressão árabes. Esta narrativa, quase nem questionada no Ocidente, deturpa completamente os fatos.
Mito 6: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU pede retirada israelense apenas parcial
A Resolução 242 foi adotada depois da guerra de junho de 1967 e pedia a “retirada das forças armadas israelenses de territórios ocupados no recente conflito.” Embora a versão israelense goze de grande popularidade, não tem credibilidade.
A tese central deste argumento é que a ausência da palavra “os” antes “territórios ocupados”, nesta cláusula, significa que não fazia referência a “todos os territórios ocupados”. Basicamente, este argumento baseia-se na lógica ridícula que, uma vez que a palavra “os” foi omitida na cláusula, podemos entender que isso significa que se estava pensando em “alguns territórios ocupados”.
Gramaticalmente, a ausência da palavra “os” não tem efeito sobre o significado desta cláusula, que fala de “territórios”, no plural. Um teste decisivo é o seguinte: é um território que foi ocupado por Israel na guerra de 1967? Se a resposta for sim, então sob a lei internacional e da Resolução 242, Israel é obrigado a retirar-se desse território. Esses territórios incluem os Altos de Golã sírios, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
A versão francesa da resolução, tão autêntica quanto a inglesa, contém o artigo definido e uma maioria dos membros do Conselho de Segurança deixou claro durante as deliberações que a sua compreensão da resolução era que se exigia a retirada completa de Israel de todos os territórios ocupados.
Além disso, é impossível conciliar [a versão israelense] com o princípio de direito internacional citado no preâmbulo da resolução sobre “a inadmissibilidade da aquisição de territórios pela guerra.” Dizer que a ONU pensava que Israel poderia manter alguns dos territórios ocupados durante a guerra seria ir contra esse princípio.
Poderiamos continuar abordando outras falácias lógicas associadas a este argumento frívolo, mas como é um absurdo à primeira vista, seria supérfluo.
Mito 7: A ação militar israelense contra os seus vizinhos só pretende defender Israel do terrorismo
Os fatos dizem o contrário. Tomemos, por exemplo, a devastadora guerra israelense contra o Líbano, em 1982. Como foi fartamente documentado pelo analista político Noam Chomsky em sua épica análise “The Fateful Triangle”, esta ofensiva militar foi realizada sem nenhum pretexto.
Embora você possa ler relatos contemporâneos insistindo que esta guerra foi travada em resposta ao constante bombardeio no norte de Israel pela OLP, que estava então refugiada naquele país, o fato é que, apesar das provocações israelenses continuas, a OLP respeitou o cessar-fogo em vigor, com poucas exceções. Ademais, em cada um destes casos, foi Israel que desrespeitou o cessar-fogo primeiro.
Entre as provocações israelenses que ocorreram no início de 1982, temos os ataques e afundamentos de barcos de pesca libaneses e centenas de violações às águas territoriais libanesas. Israel também cometeu milhares de violações do espaço aéreo libanês, mas nunca conseguiu obter da OLP uma resposta que servisse como casus belli para a planejada invasão ao Líbano.
Em 9 de maio, Israel bombardeou o Líbano, o que provocou finalmente a resposta da OLP, que lançou foguetes e fogo de artilharia contra Israel.
Em seguida, um grupo terrorista liderado por Abu Nidal tentou assassinar o embaixador israelense em Londres, Shlomo Argov. Embora a mesma OLP havia estado em guerra com Abu Nidal, que tinha sido condenado à morte por um tribunal militar do Fatah em 1973, e apesar do fato de que Abu Nidal não tinha seu quartel geral no Líbano, Israel usou isso como uma desculpa para bombardear os campos de refugiados de Sabra e Shatila, matando 200 palestinos. A OLP respondeu atacando assentamentos no norte de Israel. Mas o Estado judeu não conseguiu obter o tipo de resposta de grande escala que estava esperando para usar como casus belli para a invasão planejada.
Como sugerido pelo estudioso israelense Yehoshua Porath, a decisão de Israel de invadir o Líbano, longe de ser uma resposta aos ataques da OLP, “veio do fato de que o cessar-fogo havia sido respeitado.” Porath escreveu no jornal israelense Haaretz que “a esperança do governo é que a debilitada OLP, sem uma base logística e territorial, retorne ao terrorismo anterior. [...] Assim, a OLP perderia parte da legitimidade política que havia conquistado [...] e se eliminaria o perigo de que se desenvolvam, entre os palestinos, elementos que poderiam constituir um negociador legítimo de futuros acordos políticos”.
Outro exemplo, desta vez tomado da Operação Chumbo Fundido, que aconteceu entre 27 de Dezembro de 2008 e 18 de janeiro de 2009. Antes que Israel atacara a população sitiada e indefesa da Faixa de Gaza, Tel Aviv tinha chegado a um acordo de cessar-fogo com o governo de Gaza, o Hamás. Contrariamente ao que se acredita, foi Israel, e não o Hamás, que terminou o cessar-fogo.
Os meios de comunicação ocidentais disseram que a Operação Chumbo Fundido foi em resposta ao lançamento de “milhares” de foguetes do Hamás contra Israel, que teria violado, dessa forma, a trégua.
A verdade é que, desde o início do cessar-fogo em junho até o 04 de novembro, o Hamás não disparou nenhum foguete, apesar das inúmeras provocações israelenses, suas operações repressivas na Cisjordânia e os ataques de soldados israelenses contra os habitantes de Gaza na fronteira, que deixaram várias pessoas feridas e ao menos um morto.
Em 4 de novembro de 2008, a Israel violou novamente o cessar-fogo com o lançamento de ataques aéreos e uma incursão terrestre em Gaza que causou várias mortes. Hamás finalmente respondeu com disparos de foguetes, o que levou a contínuos ataques de ambas as partes. A trégua tinha acabado.
Apesar da evidente má-fé de Israel, o Hamás ofereceu renovar o cessar-fogo, já que o período de validade terminava oficialmente em dezembro. Israel rejeitou a oferta e lançou uma punição coletiva violenta contra o povo de Gaza.
Como relatado pelo Centro de Informações de Inteligência e Terrorismo de Israel, a trégua “trouxe um período de relativa calma à população do Negev ocidental”, com 329 foguetes e ataques com morteiros, “a maioria deles durante o mês e meio depois 04 de novembro “, quando Israel já tinha de fato violado e terminado a trégua. Isso contrasta fortemente com as 2.278 ataques com foguetes e morteiros nos seis meses anteriores à trégua. Até 04 de novembro, o centro disse que “o Hamás tomou o cuidado de manter o cessar-fogo.”
Se Israel quisesse reduzir a ameaça de ataques de militantes palestinos não deveria ter terminado o cessar-fogo, que teria significado uma redução drástica deste tipo de ataques, incluindo a eliminação de todos os realizados pelo Hamás. Mas, ao contrário, Israel recorreu à violência, o que, como era facilmente previsível, causou uma maior ameaça de ataques de represália em larga escala por grupos palestinos.
Além disso, embora Israel poderia dizer que os meios pacíficos tinham se esgotado e precisava usar a força militar para defender sua população civil, não foi claramente o que aconteceu. Em vez disso, Israel atacou deliberadamente civis em Gaza com ataques sistemáticos e ataques intencionalmente indiscriminados e desproporcionais em áreas residenciais, hospitais, escolas e outros locais onde havia população civil protegida pelo direito internacional.
Como observou Richard Goldstone, um respeitado jurista internacional que foi responsável pela investigação da Operação Chumbo Fundido da ONU, os meios pelos quais Israel realizou esta operação não foram consistentes com seus objetivos declarados, mas foram mais indicativos de um ato deliberado de castigo coletivo contra a população civil.
Mito 8: Deus deu essa terra para os judeus, por tanto os árabes são os ocupantes
Por mais que se debata sobre as evidências no terreno, nada vai convencer muitos judeus e cristãos sionistas que Israel pode ter feito algo errado, pois por trás de suas ações eles veem a mão de Deus e as suas políticas são, na verdade, de acordo a eles, a “vontade de Deus”. Acreditam que Deus deu a terra da Palestina, incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, ao povo judeu e, portanto, Israel tem um “direito” de tirá-la à força dos palestinos, que, em sua opinião, são os reais ocupantes ilegais do território.
É possivel simplesmente recorrer às páginas de seus próprios livros sagrados para mostrar a falácia dessa e crenças similares. Os cristãos sionistas gostam de citar passagens bíblicas como as seguintes para apoiar suas crenças sionistas:
Disse o Senhor a Abrão, depois que Ló separou-se dele: De onde você está, olhe para o norte, para o sul, para o leste e para o oeste: toda a terra que você está vendo darei a você e à sua descendência para sempre. Tornarei a sua descendência tão numerosa como o pó da terra. Se for possível contar o pó da terra, também se poderá contar a sua descendência. Percorra esta terra de alto a baixo, de um lado a outro, porque eu a darei a você. (Gênesis, 13:14-17)
O Senhor apareceu a Isaque e disse: Não desça ao Egito; procure estabelecer-se na terra que eu lhe indicar. Permaneça nesta terra mais um pouco, e eu estarei com você e o abençoarei. Porque a você e a seus descendentes darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a seu pai, Abraão. (Gênesis 26:2-3).
Ao lado dele [...] estava o Senhor, que lhe disse: Eu sou o Senhor, o Deus de seu pai Abraão e o Deus de Isaque. Darei a você e a seus descendentes a terra na qual você está deitado. (Gênesis 28:13).
Mas sionistas cristãos esquecem convenientemente outras passagens que fornecem mais contexto para entender essa aliança, como as seguintes:
Obedeçam a todos os meus decretos e leis e pratiquem-nos, para que a terra para onde os estou levando para nela habitarem não os vomite. (Levítico 20:22)
Mas, se vocês não me ouvirem e não colocarem em prática todos esses mandamentos, e desprezarem os meus decretos, rejeitarem as minhas ordenanças, deixarem de colocar em prática todos os meus mandamentos e forem infiéis à minha aliança, [...] Se apesar disso tudo vocês ainda não me ouvirem, mas continuarem a opor-se a mim, então com furor me oporei a vocês, e eu mesmo os castigarei sete vezes mais por causa dos seus pecados. [...] Desolarei a terra ao ponto de ficarem perplexos os seus inimigos que vierem ocupá-la. Espalharei vocês entre as nações e empunharei a espada contra vocês. Sua terra ficará desolada, e as suas cidades, em ruínas. (Levítico 26:14-15, 27-28, 32-33).
Então o Senhor irritou-se sobremaneira contra Israel e os expulsou de sua presença, restando apenas a tribo de Judá. [....] Até que o Senhor tirou a Israel de diante da sua presença, como falara pelo ministério de todos os seus servos, os profetas; assim foi Israel expulso da sua terra à Assíria até ao dia de hoje. (Reis II, 17 : 18, 23).
Depois de ter feito tudo isso, pensei que ela voltaria para mim, mas não voltou. E a sua irmã traidora, Judá, viu essas coisas. Viu [...] também que dei à infiel Israel uma certidão de divórcio e a mandei embora, por causa de todos os seus adultérios. Entretanto, a sua irmã Judá, a traidora, também se prostituiu, sem temor algum. (Jeremias 3:7-8).Sim, na Bíblia, o Senhor, o Deus de Abraão, de Isaac e Israel, disse aos hebreus que a terra pode ser seu … se eles obedecessem seus mandamentos. No entanto, como a Bíblia conta a história, os hebreus não obedeceu e se rebelaram contra o Senhor geração após geração.
O que os sionistas judeus e cristãos omitem dos seus argumentos bíblicos em favor da ocupação israelense é que o Senhor também disse aos hebreus, incluindo a tribo de Judá (da qual descendem os “judeus”), que iria jogá-los fora da terra se quebrassem o pacto rebelando-se contra os seus mandamentos, que é precisamente o que acontece na Bíblia.
Assim, o argumento teológico para o sionismo não é apenas uma bobagem do ponto de vista laico, mas também é uma completa invenção a partir de uma perspectiva bíblica, o que representa uma rebeldia contra o Yahvé e sua Torá e contra os ensinamentos de Jesus, o Messias do Novo Testamento.
Mito 9: Os palestinos rejeitam a solução de dois Estados, porque eles querem destruir Israel
Em uma enorme concessão a Israel, os palestinos aceitaram há muito tempo uma solução de dois estados. Os representantes eleitos do povo palestino na OLP de Yasser Arafat reconheceram, desde os anos 70, o Estado de Israel e aceitaram uma solução de dois Estados. Apesar disso, a mídia ocidental continuou dizendo na década de 90 que a OLP rejeitou essa solução e em vez disso, queria varrer Israel do mapa.
Este padrão tem se repetido desde que o Hamás venceu as eleições palestinas em 2006. Embora a organização islâmica há anos aceitou a realidade do Estado de Israel e demonstrou a sua vontade de aceitar um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, junto o Estado de Israel, é praticamente obrigatório para grande mídia ocidental, ainda hoje, dizer que o Hamas rejeita a solução de dois Estados e, de fato, procura “destruir Israel”.
No início de 2004, pouco antes de ser morto por Israel, o fundador do Hamás, xeque Ahmed Yassin, declarou que o Hamás aceitaria um Estado palestino ao lado de Israel. Desde então, o Hamás tem repetido uma e outra vez a sua vontade de aceitar uma solução de dois Estados.
No início de 2005, o Hamás divulgou um documento afirmando que seu objetivo era alcançar um estado palestino ao lado de Israel, com base nas fronteiras de 1967.
O líder exilado do bureau político do Hamas, Khaled Meshaal, escreveu no The Guardian de Londres, em janeiro de 2006, que o Hamás estava “pronto para alcançar uma paz justa.” Ele escreveu que “nunca reconheceremos o direito de qualquer potência a roubar-nos nossa terra e negar nossos direitos nacionais. [...] Mas se você estão disposto a aceitar o princípio da trégua de longo prazo, estamos preparados para negociar os termos.”
Durante a campanha eleitoral de 2006, o líder do Hamas em Gaza, Mahmoud al-Zahar disse que a organização islâmica estava disposta a “aceitar o estabelecimento de nosso estado independente na área ocupada em 1967″, um reconhecimento tácito do estado de Israel.
O primeiro-ministro eleito, o líder do Hamás, Ismail Haniyeh, disse em fevereiro de 2006 que o Hamas aceitava “o estabelecimento de um Estado palestino “dentro das “fronteiras de 1967″.
Em abril de 2008, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter reuniu-se com líderes do Hamás e, em seguida disse que a organização islâmica “aceitaria um Estado palestino com as fronteiras de 1967″ e também “aceitaria o direito de Israel a viver em paz com seu vizinho. “O “objetivo final” do Hamás era “ver Israel com fronteiras atribuídas em 1967, ao lado de um Estado palestino.”
Naquele mesmo mês, o líder do Hamás, Meshaal, disse: “Temos oferecido uma trégua se Israel se retirar para as fronteiras de 1967, uma trégua de dez anos, como prova de reconhecimento.” E em 2009, disse que o Hamás “aceitou um Estado palestino nas fronteiras de 1967.”
A mudança do Hamás, da rejeição total da existência do Estado de Israel a aceitar o consenso internacional de uma solução de dois Estados é em grande parte um reflexo da vontade do povo palestino. Uma pesquisa de opinião pública realizada em abril do ano passado, por exemplo, descobriu que três em cada quatro palestinos estavam dispostos a aceitar uma solução de dois Estados.
Mito 10: Estados Unidos é um mediador honesto e tem procurado a paz no Oriente Médio
Deixando de lado a retórica, os EUA sempre apoiaram as políticas de Israel, incluindo a ocupação ilegal e outras violações do direito internacional humanitário. Apoia as políticas criminais de Israel financeira, militar e diplomaticamente.
A administração Obama, por exemplo, já declarou publicamente que se opõe à política de assentamentos de Israel e tem “pressionado” ostensivamente Israel a congelar suas atividades de colonização. No entanto, logo depois Washington anunciou que não cortará a ajuda financeira e militar a Israel, ainda que desafie as leis internacionais e continue a construir assentamentos. Esta mensagem foi perfeitamente compreendida pelo governo de Netanyahu, que continua sua política de assentamentos.
Para citar outro exemplo simples, tanto a Câmara dos Deputados e do Senado dos EUA aprovaram resoluções declarando abertamente seu apoio à operação israelense Chumbo fundido, apesar do fluxo contínuo de informações atestando a prática de crimes de guerra por parte de Israel.
O dia em que o Senado dos EUA aprovou sua resolução “reafirmando o firme apoio dos EUA a Israel em sua batalha contra o Hamás” (8 de Janeiro de 2009), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha emitiu uma declaração exigindo que Israel permitisse o auxílio às vítimas do conflito, já que Israel tinha bloqueado todos os acessos aos palestinos feridos, o que constitui um crime de guerra sob a lei internacional.
No mesmo dia, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, emitiu uma declaração na qual condenava Israel por atirar contra um comboio da ONU que transportava ajuda humanitária para Gaza causando a morte de dois funcionários da ONU, dois fatos que constituem crimes de guerra. O dia em que a Câmara dos Representantes aprovou sua própria versão da resolução, a ONU anunciou que teve que interromper seu trabalho humanitário em Gaza devido aos ataques israelenses que tinham sofrido os seus trabalhadores, comboios e instalações, incluindo clínicas e escolas.
O apoio financeiro de EUA a Israel supera os 3.000 milhões de dólares por ano. Quando Israel lançou sua ofensiva militar para punir a população civil indefesa de Gaza, seus pilotos de aeronaves tripulavam aviões de combate F-16 e helicópteros Apache vendidos pelos EUA, desde os quais jogavam bombas, também fabricadas pelos EUA, bem como munições equipadas com fósforo branco, o que é proibido pelo direito internacional.
O apoio diplomático dos EUA aos crimes de Israel tem sido expresso no uso de seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. Quando Israel travou sua guerra devastadora contra a população civil e infra-estrutura do Líbano, no verão de 2006, os EUA vetaram uma ressolução de cessar-fogo.
Quando Israel lançou sua operação Chumbo Fundido, os EUA atrasaram a aprovação de uma resolução pedindo o fim da violência e, em seguida, uma vez que permitiram a votação, se abstiveram.
Quando o Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou oficialmente as conclusões e recomendações da investigação dirigida por Richard Goldstone, sobre os crimes de guerra cometidos durante a Operação Chumbo Fundido, os EUA responderam anunciando a sua intenção de bloquear qualquer iniciativa que tivesse como objetivo a adoção dessas conclusões e recomendações do Conselho de Segurança. O Congresso dos EUA aprovou uma resolução rejeitando o relatório Goldstone porque denunciou a prática de crimes de guerra por parte de Israel.
Através de seu apoio, incondicional na prática, a Israel, os EUA têm impedido a adoção de medidas destinadas a aplicar uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino. O chamado “processo de paz” consistiu, por muitas décadas, a rejeição de EUA e Israel à autodeterminação do povo palestino e o bloqueio de qualquer estado palestino viável.
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Sobre o autor:
Jeremy R. Hammond é um analista político independente, que foi galardoado com o prémio de melhor Project Censored jornalismo investigativo. É um dos fundadores da Foreign Policy Journal e autor Ron Paul vs Paul Krugman: vs austríaco A economia keynesiana em que a crise financeira ea rejeição da Palestina Autodeterminação: A luta pela Palestina e as raízes do conflito árabe-israelense. Atualmente, ele está preparando um outro livro sobre o papel dos EUA hoje no conflito israelo-palestino.
Tradução ao espanhol: Javier Villate mantém Dissent blog com artigos, resenhas e traduções sobre a Palestina, Israel e no Oriente Médio. Você pode segui-lo no Twitter como @ bouleusis
Tradução do espanhol: Natália Forcat