Barack Obama: "Você mente" |
Por que os EUA não se uniram ao presidente Putin da Rússia, que exigiu investigação internacional objetiva, não politizada, feita por especialistas, do caso do avião da Malaysia Airlines?
O governo russo continua a distribuir fatos, inclusive fotos de satélite que mostram que havia Buks antiaéreos ucranianos em pontos dos quais o avião de passageiros pode ter sido abatido por aquele tipo de veículo armado, e documentos de que um jato de combate ucraniano SU-25 aproximou-se rapidamente do avião malaio antes de o avião ser abatido.
O chefe do Diretorado de Operações dos militares russos disse em conferência de imprensa em Moscou ontem [21/7/2014], que a presença do jato militar ucraniano foi confirmada pelo centro de monitoramento de Rostov.
O Ministério de Defesa da Rússia observou que, no momento em que o MH-17 foi abatido, um satélite dos EUA sobrevoava a área. O governo russo exige que os EUA disponibilizem as fotos e dados capturados por aquele satélite.
O presidente Putin já repetiu várias vezes que a investigação do voo MH-17 requer “um grupo representativo de especialistas trabalhando juntos sob orientação da ICAO (International Civil Aviation Organization)”. Putin, ao exigir investigação independente pelos especialistas da ICAO não age como quem tenha algo a esconder.
Vladimir Putin |
Falando diretamente a Washington, Putin disse:
Até que se conheçam os resultados dessa investigação, ninguém [nem a “nação excepcional”] tem o direito de usar essa tragédia para fazer avançar seus objetivos políticos egoístas estreitos.
Putin relembrou aos EUA:
Nós várias vezes pedimos que os dois lados suspendessem imediatamente o banho de sangue e sentassem à mesa de negociações. O que se pode dizer com certeza é que, se as operações militares não tivessem sido reiniciadas [por Kiev] no dia 28/6/2014 no leste da Ucrânia, essa tragédia não teria acontecido.
E o que respondem os EUA?
Só mentiras e insinuações.
Anteontem [20/7/2014], o Secretário de Estado dos EUA, confirmou que federalistas pró-Rússia estavam envolvidos na derrubada do avião malaio, e disse que seria “bem claro” que a Rússia esta[ria] envolvida. Eis as palavras de Kerry:
É bem claro que há um sistema que foi transferido da Rússia para as mãos de separatistas. Sabemos com certeza, com certeza, que os ucranianos não têm tal sistema em ponto algum nos arredores daquele local naquela hora, portanto é óbvio que há um dedo muito claro dos separatistas.
A declaração de Kerry é mais uma da infindáveis mentiras que secretários de Estado dos EUA mentiram ao longo do século XXI.
John Kerry: "O maior MENTIROSO de todos" |
Quem poderia esquecer o pacote de mentiras que Colin Powell mentiu descaradamente na ONU sobre as “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein? Ou a mentira que Kerry repetiu incontáveis vezes, de que Assad “usou armas químicas contra seu próprio povo”? Ou as infindáveis mentiras sobre “bombas atômicas do Irã”?
Recordem que Kerry, várias vezes, disse que os EUA teriam provas de que Assad “cruzara” a “linha vermelha” e usara armas químicas. Mas Kerry jamais conseguiu comprovar o que dizia, nunca apresentou uma única prova, que fosse. Os EUA não tinham prova alguma a entregar ao primeiro-ministro britânico, nem mesmo para ajudá-lo a conseguir que o Parlamento aprovasse a participação britânica ao lado dos EUA, num ataque militar contra a Síria! O Parlamento então disse ao primeiro-ministro inglês: “sem provas, nada de guerra”.
Agora, aí está Kerry outra vez a declarar que tem “certeza”, em “declarações” que já foram desmentidas por fotos do satélite russo e incontáveis provas de testemunhas no solo.
Por que Washington não distribui as fotos do satélite norte-americano?
A resposta é: pela mesma razão pela qual Washington não distribuirá os vídeos que confiscou e que, dizem os EUA, “comprovam” que um avião de passageiros sequestrado atingiu o Pentágono dia 11/9/2001. Nenhum vídeo comprova o que os EUA mentem sobre o 11/9/2001; assim como nenhuma foto de satélite comprova as mentiras de Kerry sobre o avião malaio.
Inspetores de armas da ONU em campo, no Iraque, relataram que o Iraque não tinha armas de destruição em massa. Mas esse fato comprovado, porque desmascararia a propaganda dos EUA, foi simplesmente ignorado. Os EUA iniciaram guerra terrivelmente destrutiva, baseados numa mentira intencional mantida em Washington.
Inspetores da Comissão Internacional de Energia Atômica em campo, no Irã, e todas as 16 agências de inteligência dos EUA relataram que o Irã não tinha (como não tem) programa de armas nucleares. Mas esse fato comprovado era inconsistente com a agenda de guerra de Washington e foi ignorado: pelo governo dos EUA e pela imprensa-empresa press-tituta.
Agora estamos testemunhando a mesma coisa, ante a ausência de qualquer evidência que comprovasse que a Rússia teria algo a ver com a derrubada do avião malaio.
Nem todos, no governo dos EUA, são tão irresponsáveis e imorais quanto Kerry e John McCain. Esses mentem. A maioria dos agentes do governo dos EUA vivem de insinuações.
Dianne Feinstein |
A senadora Dianne Feinstein é exemplo perfeito. Entrevistada pelo canal CNN da imprensa-empresa press-tituta, Feinstein disse:
A questão é: onde está Putin? Eu diria: “Putin, seja homem. Você tem de falar ao mundo. Tem de dizer. Se foi um erro, como espero que tenha sido, diga!”.
Putin não faz outra coisa que não seja falar ao mundo, sem parar, exigindo que se faça investigação por especialistas, não politizada. E Feinstein a perguntar por que Putin se esconde em silêncio! Feinstein lá estava para insinuar que “sabemos que você é culpado. Só não sabemos se foi crime deliberado ou acidental”.
O modo como todo o ciclo ocidental de noticiário foi orquestrado para instantaneamente culpar a Rússia, desde muito antes de que surja qualquer informação real confiável, sugere que a derrubada do avião malaio foi operação dos EUA.
É possível, é claro, que a bem adestrada imprensa-empresa press-tituta não precise de orquestração alguma vinda de Washington, para imediatamente culpar a Rússia. Por outro lado, alguns dos desempenhos “televisivos” parecem tão bem ensaiados, que simplesmente têm de ter sido preparados com antecedência.
Também foi preparado com antecedência o vídeo de YouTube montado para “mostrar” um general russo e federalistas ucranianos discutindo que teriam acabado de, por engano, derrubar um avião de passageiros.
Como já comentei, esse vídeo tem dois vícios insanáveis: já estava gravado desde antes do acidente; e, ao apresentar o que seria a fala de um militar russo, esqueceu que qualquer militar saberia ver as diferenças entre um avião de passageiros e um avião militar de combate. A própria existência daquele vídeo já implica que houve um complô para derrubar o avião e culpar a Rússia.
Já vi relatórios que dizem que o sistema russo de mísseis antiaéreos, como um de seus dispositivos de segurança, faz contato com os transponders das aeronaves, para verificar o tipo de aeronave que aparece em seu alvo. Se esses relatórios estão corretos e se os transponders do MH-17 forem encontrados, é possível que lá esteja gravado o contato.
Já vi notícias que dizem que o controle aéreo ucraniano mudou a rota do MH-17 e o mandou sobrevoar diretamente a área de conflito. Os transponders também indicarão se isso é verdade. Se for, há claramente uma prova, pelo menos circunstancial, de que foi ato intencional de Kiev – e ato que teria de ter sido aprovado pelos EUA.
Há notícias ainda de que haveria uma divergência entre os militares ucranianos e milícias não oficializadas formadas por extremistas ucranianos de direita, que aparentemente foram os primeiros a atacar os federalistas. É possível que Washington tenha usado aqueles extremistas para derrubar o avião malaio, para inculpar os russos e usar as acusações para pressionar a União Europeia a acompanhar as sanções unilaterais dos EUA contra a Rússia.
Todos a favor de chutar a Russia do clube... |
Sabe-se que os EUA estão desesperados para conseguir quebrar os crescentes laços econômicos e políticos entre Rússia e Europa.
Se havia um complô para derrubar um avião de passageiros, todos os dispositivos de segurança do sistema de mísseis teriam sido desligados, para que não abortassem o ataque e para que não houvesse registro de ataque, não acidental, mas deliberado. Essa pode ser a razão pela qual os ucranianos mandaram um jato para “inspecionar” de perto o avião malaio. É possível que o alvo fosse o avião presidencial de Putin, e a incompetência dos criminosos os tenha levado a destruir um avião de passageiros.
Há inúmeras explicações possíveis. É importante, agora, manter a mente aberta e resistir contra a propaganda dos EUA, até que apareçam os fatos e as provas. No mínimo, os EUA são culpados por usar o incidente para inculpar os russos “antecipadamente”, antes de qualquer prova.
Até agora, Washington só distribuiu acusações gratuitas e insinuações. E se Washington continuar a só distribuir acusações e insinuações sem provas... logo se saberá com certeza de quem é a culpa.
Enquanto isso, lembrem do menino que gritou “lobo!”, sem haver lobo algum, muitas vezes. Tantas vezes mentiu que, quando o lobo afinal realmente apareceu, ninguém acreditou nos gritos do menino. Será esse o destino final de Washington?
Nas guerras que declarou ao Iraque, ao Afeganistão, à Líbia, à Somália e à Síria, os EUA sempre se esconderam atrás de mentiras. Por quê? Se Washington quer guerra contra o Irã, a Rússia e a China, por que não declara guerra?
A razão é que a Constituição dos EUA exige que, para que haja guerra, o Congresso emita uma Declaração de Guerra. Com esse dispositivo, se esperava que o Congresso conseguisse impedir que o Executivo fizesse as guerras que quisesse, para promover as agendas ocultas que bem entendesse. Agora, quando já abdicou dessa responsabilidade constitucional, o Congresso dos EUA já é cúmplice nos crimes de guerra do Executivo.
E ao aprovar o assassinato premeditado de palestinos por Israel, o governo dos EUA já é cúmplice também nos crimes de guerra de Israel.
Agora, se pergunte você mesmo, e responda: o mundo não seria mais seguro, lugar de menos morte, menos destruição e menos refugiados sem teto, e não seria lugar de mais verdade e mais justiça, se os EUA e Israel não existissem?
22/7/2013, Paul Craig Roberts − Institute for Political Economy
“Guilt By Insinuation − How American propaganda works”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
[*] Paul Craig Roberts (nascido em 3/4/1939) é um economista norte-americano e colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service.Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que destruíram a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.
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