Os EUA quebraram o Iraque. Os EUA quebraram a Líbia, o Iêmen e o Egito. O Oriente Médio seria região muito mais segura e menos enlouquecida, se os EUA e seus sórdidos neoconservadores tivessem deixado que Saddam Hussein, Muammar Gaddafi e Bashar al-Assad lidassem diretamente com os sauditas e os israelenses, fomentadores de terrorismo e violência.
Terroristas da ISIL (ou ISIS) patrocinados p[elos EUA |
Os neoconservadores que conduziram as políticas externas de Barack Obama e de seu antecessor, George W. Bush, estão vendo realizar-se seus planos de total destruição do Oriente Médio. Foi o insaciável desejo dos neoconservadores de eliminar todo e qualquer governo árabe socialista populista que pôs lá hoje uma facção dissidente da Al-Qaeda, ajudada por ex-soldados da Guarda Republicana de Saddam Hussein, a qual já tomou Mosul e Tikrit e agora está próxima de Bagdá, a poucas horas de caminhada. Em janeiro, os jihadistas iraquianos tomaram Fallujah – local de uma das mais sangrentas batalhas durante a invasão do Iraque pelos EUA.
O presidente Obama, que retirou do Iraque a maior parte dos soldados norte-americanos, deixando lá apenas uns poucos instrutores militares norte-americanos e grande número de combatentes mercenários empregados de empresas privadas de segurança, disse dia 12 de junho, em encontro com o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, que o Iraque precisará de “mais ajuda” dos EUA. Observadores da ofensiva jihadista em curso liderada por sunitas no Iraque entendem que Obama usará drones – veículos tripulados à distância – armados, contra os jihadistas, exatamente como já faz no Iêmen, na Somália, na Líbia, no Mali, na Síria...
Obama também disse que: “Temos de garantir que aqueles jihadistas não se implantem permanentemente nem no Iraque nem na Síria”. Ora essa! Foi a “ajuda” militar que Obama assegurou aos terroristas sírios que tentam derrubar o presidente Bashar al Assad da presidência em Damasco, que garantiu as primeiras vitórias dos terroristas do grupo Estado Islâmico no Iraque e Levante [1] sobre seus ex-aliados, a Frente Al-Nusra e seus quadros da Al Qaeda, quando passaram a confiscar armas que o ocidente enviava à Frente Al-Nusra e começaram a estabelecer suas próprias bases de operação dentro da Síria, das quais lançaram seus ataques contra cidades iraquianas.
O crescimento de um califato islamista sunita entre Síria e Irã é produto de uma “aliança do mal” que já não é segredo para ninguém: entre nacionalistas israelenses de extrema direita (do Likud) e partidos dos colonos israelenses, com os sauditas e qataris, que apoiam jihadistas; “aliança do mal” que levou aos acordos clandestinos firmados entre o Mossad israelense e a Inteligência Geral Mukhabarat saudita, tudo com “piscadela e aceno” de concordância de John O. Brennan, o saudifílico diretor da CIA. Sempre foi desejo dos regimes de Riad, Doha e Jerusalém pôr abaixo o governo iraquiano pró-xiitas; o governo sírio pró-alawitas; para, resumindo todos os desejos daqueles governos, pôr abaixo o governo do Irã.
A regra do “quebrou, é dono” [2] do ex-secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, que “aconselhou” ao governo anterior que, invadindo e ocupando o Iraque, ficaria sendo “proprietário comprador” do país, afinal virou fato. Na sequência, graças a uma sequência de Conselheiros de Segurança Nacional selecionados por critérios analfabetos de uma lei analfabeta de igualdade racial e de gênero, chamada “ação afirmativa” (analfabeta, mas afirmativa!) nos governos Bush e Obama – e que atendem pelos nomes de Dra. Condoleezza Rice e Dra. Susan Rice, respectivamente – os EUA não apenas viraram “donos” do Iraque, mas também da Líbia, do Iêmen e da desgraça que agora já envolve a Síria e pode vir a abater-se também sobre o Líbano... Se o nome “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” é sugestão das efetivas ambições territoriais do florescente califato.
O crescimento da Fraternidade Muçulmana no Egito e o governo islamista na Tunísia também são resultado de um plano de neocons & israelenses, costurado com a Casa de Saud, para desestabilizar todos os países árabes que algum dia foram governados por governos com raízes socialistas pan-árabes ou nasseristas.
Houve muitos encontros entre o chefe do Mossad israelense, Tamir Pardo, e os príncipes Muqrin e Bandar, dois ex-chefes da inteligência saudita, para comprovar que, no que tenha a ver com desestabilização de países árabes, Israel não tem amigo melhor e mais dedicado no Oriente Médio, que a Casa de Saud. O novo chefe da inteligência saudita, general Youssef al Idrissi, sabidamente, mantém o mesmo contato íntimo que havia entre seus antecessores e o Mossad. E a atual ofensiva de jihadistas sunitas contra o governo liderado por xiitas em Bagdá é ação sob medida para agradar ao paladar de sauditas e israelenses – ambos a trabalhar sempre contra a emergente détente entre o governo Obama e o Irã.
A Al-Qaeda e vários ramos de “Al-Qaeda” na Síria, Iêmen, Norte da África, Chifre da África que Riad financia e controla jamais ameaçaram Israel como sempre ameaçaram os EUA, países da Europa Ocidental e governos árabes seculares. Por exemplo: agentes israelenses, dentro e em torno do WTC, e simpatizantes muçulmanos dos Talibã em New York e New Jersey, receberam “dicas” antecipadas sobre o ataque de 11/9/2001 e, consequentemente, puderam providenciar para estar ausentes da área no dia fatídico.
O ISIL, que está sendo acusado de liderar as forças jihadistas no Iraque, está sendo apresentado como tão “extremista”, que até a Al-Qaeda rompeu relações com ele. Claro. O ex-secretário britânico de Relações Exteriores, Robin Cook, escreveu, antes de sua morte inesperada e precoce, que “Al-Qaeda” nunca passou de um banco de dados no qual a CIA armazenava nomes de jihadistas mercenários a serem alugados e mercadores árabes de armas. No Oriente Médio, é preciso tomar cuidado com as miragens. E é do interesse do poder, em Jerusalém e Riad, convencer o mundo de que jamais seriam eles os manipuladores do ISIL.
Mas esse apoio de um estado judeu-wahhabista ao terrorismo é acionado sob as bênçãos de Brennan da CIA, Brennan, cuja carreira começou e permanece conectada aos mais obscuros esgotos do Serviço Clandestino da CIA.
Claro que a situação no Oriente Médio seria hoje absoluta e totalmente diferente, se os EUA tivessem ignorado as maquinações dos neoconservadores e de seus patrões israelenses, e deixado que não só Saddam Hussein e seu Partido Socialista Ba’ath permanecessem no poder no Iraque, mas, também, que apoiassem Muammar Gaddafi da Líbia e Assad da Síria, contra os salafistas e os rebeldes da Al-Qaeda.
A ofensiva contra Bagdá e o governo do primeiro-ministro, Nouri al-Maliki tem estranha, espantosa semelhança com a campanha de Al-Qaeda & salafistas contra Gaddafi na Líbia, e o subsequente levante contra Assad na Síria.
Os EUA e os sauditas e qataris forneceram armas à Al Qaeda e aos rebeldes salafistas no leste da Líbia, sempre sob as bênçãos dos israelenses e de seus bonecos-de-ventríloquo & propaganda, como Bernard-Henri Levy, interlocutor sionista francês leva-e-traz entre Binyamin Netanyahu em Jerusalém e as forças da Al-Qaeda em Benghazi.
Armas ocidentais e as armas confiscadas dos arsenais de Gaddafi foram então embarcadas para os jihadistas sírios que as usaram contra Assad. Os jihadistas sírios imediatamente ligaram-se à Al-Qaeda-na-Mesopotâmia (AQIM) e ao ISIL – duas invenções sauditas. O exército combinado de ISIL, Al-Qaeda/desertores da Frente Al-Nusra, e ex-oficiais iraquianos do exército e da Guarda Republicana de Saddam, usando bases dentro da Síria, lançaram sua invasão ao Iraque.
Terroristas usam equipamentos fornecidos pelos EUA |
As forças do ISIL estão tomando cidades iraquianas uma após a outra, usando veículos blindados, com camuflagem de deserto, fornecidos pelos EUA, todos eles capturados de bases militares iraquianas – hoje com a bandeira branco & preto dos jihadistas hasteadas nos veículos. Os jihadistas também capturaram helicópteros fornecidos pelos EUA, no aeroporto de Mosul e em outra base aérea no leste de Samarra.
Obviamente, sauditas e israelenses não estavam satisfeitos com jihadistas misturados aos curdos – os quais não só usaram suas forças militares da guerrilha peshmerga para assegurar que os jihadistas não tomariam qualquer território curdo no norte do Iraque, mas, também, capturaram instalações críticas de petróleo, em Kirkuk.
Os EUA quebraram o Iraque. Os EUA quebraram a Líbia, o Iêmen e o Egito. O Oriente Médio seria região muito mais segura e menos enlouquecida, se os EUA e seus sórdidos neoconservadores tivessem deixado que Saddam Hussein, Muammar Gaddafi e Bashar al-Assad lidassem diretamente com os sauditas e israelenses fomentadores de terrorismo e violência.
Em vez de emirados e califatos islamistas a pipocar pelo leste da Líbia, Síria e Iraque, o Oriente Médio ainda teria governos do Partido Baath no Iraque, Síria e na extinta República Popular Democrática do Iêmen (do Sul); e a Jamahiriyah socialista ainda seria suprema, numa Líbia próspera e feliz.
Ah, sim! Já é hora de todos sentirmos saudades de Saddam Hussein.
Notas dos tradutores
[1] Orig. Islamic State in Iraq and the Levant (“Levante” = “al Sham” = “Síria”, de onde as diferentes siglas, nas transcrições: ISIL ou ISIS
[2] Orig. “The Pottery Barn rule”: a expressão de gíria, que faz referência ao nome de uma grande rede de lojas que vende a varejo e que imporia uma regra segundo a qual, se o cliente quebra algum item à venda na loja é considerado proprietário comprador, e obrigado a pagar.
4/6/2014, [*] Wayne MADSEN, Strategic Culture
“Missing Saddam”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
[*] Wayne Madsen é jornalista investigativo, autor e colunista. Tem cerca de vinte anos de experiência em questões de segurança. Como oficial da ativa projetou um dos primeiros programas de segurança de computadores para a Marinha dos EUA. Tem sido comentarista frequente da política de segurança nacional na Fox News e também nas redes ABC, NBC, CBS, PBS, CNN, BBC, Al Jazeera, Strategic Culture e MS-NBC. Foi convidado a depor como testemunha perante a Câmara dos Deputados dos EUA, o Tribunal Penal da ONU para Ruanda, e num painel de investigação de terrorismo do governo francês. É membro da Sociedade de Jornalistas Profissionais (SPJ) e do National Press Club. Reside em Washington, DC.
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