Justamente quando se avizinha o representativo septuagésimo aniversário, a ser celebrado em 2015, da vitoriosa resistência da União Soviética revolucionária às hordas nazistas de Adolf Hitler - glorioso momento da história da humanidade protagonizado em grande parte por soldados soviético-ucranianos -, eis que a chaga do fascismo volta à cena com força na Ucrânia, nação dilacerada, esgarçada e atirada à guerra civil por conta das disputas entre blocos de poder geopolíticos rivais na corrida pela repartilha do mundo, corrida esta protagonizada pelas grandes potências imperialistas e por nações aspirantes a se consolidarem nesta condição, tudo sob o pano de fundo da crise geral dos monopólios em franca putrefação.
Entre a cruz ianque e da União Europeia e a espada russa, o território ucraniano ora se torna o mais novo palco do rufar dos tambores da guerra, desaguadouro irremediável do acirramento das contradições interimperialistas e do aprofundamento da crise internacional de superprodução relativa do capitalismo, que, a um ritmo cada vez mais acelerado, ajuda a tensionar aquelas contradições até o limite da sua arrebentação nos primeiros estouros dos mísseis e rajadas de artilharias.
Historicamente, o contexto atual não é lá tão diferente assim do cenário que resultou na Segunda Guerra Imperialista Mundial, que foi, em poucas palavras, o de potências imperialistas europeias cruzando os bigodes e tentando dar vazão às suas contradições irreconciliáveis na ponta da baioneta, em cenário de enfrentamento balizado pela loucura genocida e totalitarista do nazi-fascismo alemão.
Entretanto, apesar da semelhança a olho nu de momentos históricos distantes 70 anos no tempo, mas que são contíguos e marcados na mesma linha-mestra da caminhada do capitalismo em direção à sua própria morte (o presidente Mao Tsetung falava nas cordas que o imperialismo atava ao próprio pescoço e cujas pontas entregava aos povos oprimidos do mundo), apesar disso, o microcosmo ucraniano da escalada geral das tensões por conta da partilha do mundo entre as potências imperialistas guarda nuances que dão conta das dificuldades talvez ainda maiores no momento atual que os países imperialistas encontram para enxergar uma luz no fim do túnel desta crise prolongada e a cada dia mais agravada, no que vão, as potências capitalistas, assim se debatendo com agonia e em espasmos de moribundo cada vez maiores e mais devastadores, em busca de bolhas de ar que dêem alguma sobrevida aos seus monopólios, valendo-se até mesmo de manobras infames levadas a cabo sem maiores pudores, escancarando intenções e disposições até há pouco inconfessáveis no âmbito da política do imperialismo, a geopolítica.
Sob a lupa dos dias que correm, o traço mais marcante destas nuances particulares do cenário ucraniano, no cotejo entre as semelhanças das condições históricas gerais entre a repartilha do mundo de 70 anos atrás e a corrida atual das potências imperialistas por mercados cativos e fontes de matérias-primas para seus monopólios; o maior sintoma de que os esforços imperialistas para a superação desta crise são tão dramáticos, por assim dizer, quanto inalcançável parece o objetivo da sua superação, é a aliança sem maiores disfarces com o fascismo que o USA e a Europa do capital monopolista, vulgo ‘União Europeia’, ora não se furtam em fazer para ganhar força na queda de braços com a Rússia capitalista em meio ao rufar dos tambores da guerra no palco ucraniano
Isto mostra, um tanto claramente, que a ofensiva “aliada” contra o nazi-fascismo quando da Segunda Guerra Mundial Imperialista não foi dotada de qualquer motivação por natureza radicalmente antifascista, ou politicamente anti-totalitarista e anti-genocida, ou mesmo de algum caráter moral, humanitário ou outras ficções desta estirpe que a contrapropaganda ianque, sionista e da Europa capitalista tentou fazer crer, logrando algum sucesso, ao longo de todos esses anos.
Diferente do comunismo, que até hoje e para sempre é e será inimigo de morte do fascismo e dos fascistas de toda sorte e de todas as latitudes.
USA: ALIANÇA ABERTA COM O FASCISMO
A aliança entre o imperialismo ianque e seus subalternos da União Europeia com forças assumidamente fascistas na Ucrânia poderia, provavelmente no instante em que este texto é redigido, ser constatada por qualquer correspondente do monopólio internacional dos meios de comunicação que desembarcasse na Ucrânia e se aproximasse da praça Maidan, onde milícias fascistas armadas com metralhadoras, pistolas e coquetéis molotov vêm fazendo as vezes de guarda-costas do gerenciamento de Kiev, até há pouco chefiado interinamente pelo fantoche Arseny Yatseniuk, títere do bloco de poder geopolítico encabeçado pelo imperialismo ianque, mas no momento que o leitor pegar este jornal já sob a batuta do “presidente” que saiu da farsa eleitoral levada a cabo na Ucrânia no último 25 de maio, o oligarca Petro Poroshenko, o candidato preferido do “Ocidente”.
(Logo que as pesquisas de boca de urna indicaram sua vitória no pleito organizado pelo gerenciamento provisório e balizado pela massiva propaganda pró-União Europeia, Poroshenko anunciou que a sua primeira viagem oficial ao exterior seria ou à Polônia, a fim de participar das “celebrações” do 25º aniversário da “libertação do jugo soviético”, ou a Bruxelas, na Bélgica, para assinar o tão esperado - pelo imperialismo ianque - Acordo de Associação com a União Europeia, antessala de entrada da Ucrânia para a Otan. Em outras palavras, o oligarca agora feito “presidente” pegará um avião com destino ao anticomunismo e às juras de amor às potências ocidentais).
Mas a imprensa burguesa ocidental, de tão ansiosa por demonizar a Rússia, cabeça do bloco de poder geopolítico rival, fala no máximo em “paramilitares de direita” - ou mesmo de “ativistas da praça Maidan” - quando apresenta suas reportagens e boletins sobre a correlação de forças na Ucrânia à beira de uma guerra civil.
A maioria dos fascistas recrutados pelo imperialismo ianque e pelo oportunismo ucraniano faz parte da organização Pravy Sector (Setor de Direita), que desde o começo da escalada das tensões políticas no país, ainda no ano passado, vem promovendo uma violenta perseguição anticomunista na Ucrânia, com torturas e assassinatos para botar na conta da “comunidade internacional”, com direito aos oportunistas empoleirados na administração de Kiev papagaiando seus chefes imperialistas, chamando a resistência antifascista de “terrorismo”, e convocando as hordas fascistas para ajudar a “manter a ordem” em todo o território ucraniano, fazendo com que o terror substituísse a euforia que havia tomado conta do país quando da deposição de Victor Yanukóvich, há alguns meses.
A própria estrutura do Estado ucraniano foi infestada por fascistas do partido Svoboda (Liberdade), incensado pelo USA como mais um instrumento anti-Rússia. No gerenciamento interino de Arseny Yatseniuk, o Svoboda ocupou o Vice-ministério para Assuntos Econômicos, o Ministério da Agricultura, o Ministério da Ecologia, a direção do Conselho Nacional de Segurança, a Procuradoria Geral de Estado, o Ministério da Educação e nada menos do que o Ministério da Defesa.
Organização notoriamente fascista, o Svoboda é filhote da famigerada Organização dos Nacionalistas Ucranianos, entidade que nasceu do covil da contrarrevolução, quando da tomada do poder pelos bolcheviques, e foi financiada de forma encoberta pelo imperialismo ianque e pelo imperialismo britânico para fazer terrorismo contra a União Soviética socialista de Lenin e Stalin. O fundador deste ancestral direto do Svoboda, um fascista chamado Stepan Bandera, foi o mais conhecido colaborador do nazi-fascismo quando da sangrenta ocupação do território ucraniano pelas tropas de Hitler, em 1941. Agora, os legítimos representantes desta estirpe imunda voltam a ser recrutados pelo imperialismo “ocidental”, mas agora esta dobradinha se apresenta abertamente, porém nutrida da mesma sanha anticomunista e cumprindo o vil papel que lhe cabe na agenda na nova partilha do mundo pelas potências capitalistas.
Desde o início do ano, ou seja, desde que o cenário político se radicalizou por conta de estar a Ucrânia no olho do furacão das disputas imperialistas, proeminentes figuras do imperialismo ianque, como o senador e ex-candidato à Casa Branca John McCain, e a secretária de Estado adjunta para Assuntos Europeus e Eurasiáticos, Victoria Nuland, vêm se reunindo com os cabeças do Svoboda e do Setor de Direita, enquanto os pelotões fascistas vão fazendo nas ruas o trabalho sujo de intimidação, perseguição, agressão, tortura e assassinato de figuras ligadas a grupos pró-imperialismo russo e, o mais grave, de lideranças e ativistas comprometidos com uma Ucrânia verdadeiramente independente, liberta da subjugação a esta ou aquela potência estrangeira.
Informações veiculadas pelo jornal russo Izvestia dão conta de que no final de abril deste ano um dirigente do Setor de Direita esteve em Washington para ouvir de Victoria Nuland que o USA reservou a quantia de US$ 10 milhões para ajudar a agremiação fascista a se consolidar como força política em todo o território ucraniano.
Os “militantes” do Setor de Direita foram alçados a agentes de repressão fardados da Guarda Nacional, entidade que esteve na dianteira de contra-ofensivas sangrentas levadas a cabo recentemente nas cidades de Mariupol, Slaviansk e Krasnoarmeisk, além do massacre de mais de 100 pessoas perpetrado no último 2 de maio na cidade de Odessa.
No dia 26 de maio começou a circular a informação de que um notório fascista ucraniano conhecido como Centurião Mikola teria tombado morto justiçado pelo movimento antifascista clandestino da região de Odessa. Mikola teria liderado os brutais massacres fascistas em Odessa e em Mariupol. O “centurião” a serviço do imperialismo ianque apareceu em vários vídeos, fotos e registros em geral do massacre de antifascistas na Casa dos Sindicatos de Odessa.
Também no dia 26 de maio o blog Odio de Clase informou que veteranos do Exército Popular da antiga República Democrática Alemã e jovens russos antifascistas de ascendência alemã estão dispostos a organizar um batalhão internacionalista para combater os fascistas na região ucraniana de Dombas. Estão dispostos inclusive a batizar o agrupamento com o nome de Ernst Thälmann, líder comunista alemão executado pelos nazistas em 1944.
POR QUE ISSO ACONTECE NA UCRÂNIA?
Como uma exceção a confirmar a regra da desinformação, uma reportagem do jornal alemão Bild am Sonntag denunciou no início de maio que 400 mercenários da companhia americana "Academi", mais conhecida por seu antigo nome, "Blackwater" (notória por seu trabalho sujo no Iraque e em outros palcos de agressões do USA), vêm atuando na Ucrânia.
E por que a Ucrânia agora se vê na condição de fiel da balança das contendas imperialistas pela dominação global?
O USA quer ver a Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte, com o objetivo de instalar naquela nação mais uma parte do gigantesco aparato de escudos antimísseis que os ianques querem construir em todo o Leste Europeu a fim de neutralizar o poderio de ataque atômico de Moscou e de cercar a Rússia em seu próprio território. O escudo antimísseis europeu está no topo da agenda geopolítica do imperialismo ianque. Em outubro do ano passado o sistema começou a ser instalado com o início da construção de uma base interceptadora de mísseis na cidade de Deveselu, na Romênia. Esta base deve estar em operação já no ano que vem, em 2015. Outros elementos do escudo antimísseis serão implantados na Polônia, na Turquia e no Mar Mediterrâneo, em fases diferentes que deverão ser concluídas até 2018.
O imperialismo russo, por seu turno, visa dificultar, impedir ou adiar os esforços do cerco militar que o USA pretende levar a cabo, buscando manter a Ucrânia pelo menos dividida, o que, dada a importância econômica sobretudo da Criméia, seria também algo fundamental para os esforços de Moscou visando não sucumbir à recessão que já lhe acossa os calcanhares.
Além da cooptação dos oportunistas locais e da aliança com o fascismo de cara limpa, Obama aposta no jogo diplomático e, como sempre, na farsa eleitoral para a imposição das suas condições para a “estabilização” da Ucrânia, ou seja, para fazer valer os seus interesses estratégicos naquela nação. Dependendo, porém, da agudização do clima político e da postura mais ou menos vacilante de Putin, não está descartado o cenário de um conflito imperialista de magnitude muito maior. De qualquer maneira, as pugnas de hoje apenas adiam os horrores da guerra para amanhã, dada a certeza histórica de que o acirramento cada vez maior das contradições entre os interesses dos blocos de poder imperialistas não poderão desembocar em outra situação senão a deflagração da escalada de destruição.
Ao contrário do que tenta fazer crer o monopólio internacional dos meios de comunicação do grande poder econômico, a assim chamada “crise ucraniana” não é fruto de uma sanha intervencionista de um “líder” autoritário saído das entranhas da extinta KGB, ou seja, de um “vilão” a azeitar a ficção do bom-mocismo da “comunidade internacional” - coletivo de potências que, segundo a contrapropaganda massiva, está sempre alerta ante as perversidades de “ditadores” e sempre pronto para intervir em território alheio em nome da “democracia” e de “liberdades”, sempre ao primeiro sinal de sofrimento imposto aos deserdados do mundo por tiranos degenerados e sem escrúpulos.
Acredita quem quer ou endossa esta ladainha quem a ela politicamente convém aderir. Na prática, toda esta empulhação feita em nome de povos oprimidos - ou do “combate ao terrorismo”, ou da “segurança nuclear” - tudo isso obedece à risca a agenda do imperialismo, eminentemente do imperialismo ianque, eternizada na expressão símbolo de toda esta arquitetura demagógica da destruição e da opressão imperialistas: o tal “eixo do mal”.
O contexto é o da nova ofensiva lançada pelo imperialismo ianque para remover as barreiras que ainda impedem sua hegemonia total e global, única e última esperança do USA para dar alternativas aos seus monopólios em absoluta agonia. E essas barreiras são, nomeadamente, a Rússia e as nações semicoloniais sob sua influência (como Venezuela, Irã, Síria, Coreia do Norte).
Muitos, por todo o mundo, iludidos pelos ardis do oportunismo, adoecem da infantilidade política de confundir as forças que formam ou que são ligadas a estas barreiras geopolíticas à dominação total pelo USA com forças populares, ou mesmo, em casos de infantilismo mais grave, com forças revolucionárias, muitas vezes sem perceber que, ao encamparem a retórica contra a ingerência estrangeira que é apenas isso mesmo, retórica, aderem a um dos lados da contenda imperialista, distanciando-se da única linha possível para os que lutam por democracia e liberdade verdadeiras, o caminho da revolução proletária mundial.