E volta à cena a Al-Qaeda...

Bandeiras das "afiliadas" da al-Qaeda

Como é possível que um microscópico grupo anticomunista no Afeganistão, que não tinha mais que 200 membros ativos em 2001, tenha-se tornado suposta ameaça planetária?

Como pode a al-Qaeda estar em todo o Oriente Médio, Norte da África e em grande parte da África negra? E, isso, depois de os EUA terem consumido mais de $1 trilhão para acabar com a al-Qaeda no Afeganistão e no Paquistão?

A resposta é simples. Como organização e ameaça, a al-Qaeda é quase nada. Mas como nome, “al-Qaeda” e “terrorismo” tornaram-se palavras universalmente sempre à mão, para designar grupos que combatem a influência ocidental, a corrupção ou a repressão na Ásia e na África. A al-Qaeda está em lugar algum – mas em todos os lugares.

Se você for um grupo rebelde à procura de publicidade, o caminho mais fácil e declarar-se aliado da fugaz, impalpável, inexistente al-Qaeda.

Tome-se o Iraque, onde a luta avança sem trégua entre governo xiita e milícias sunitas na Província Anbar. Interessante: o levante sunita está centrado em Fallujah, que foi destruída, posta no chão, reduzida a escombros pelos Marines dos EUA e arruinada para sempre por bombas de urânio e munição ilegal de fósforo branco, como “aviso” aos iraquianos que ousassem resistir.

Depois que os EUA invadiram o Iraque em 2003, mais de uma dúzia de grupos iraquianos de resistência surgiram, para lutar contra os norte-americanos e seus recém aparecidos novos aliados xiitas. O principal desses grupos era o Partido Ba’ath de Saddam Hussein e militares veteranos iraquianos. Como já disse várias vezes em grandes redes de TV dos EUA, nunca houve, nem al-Qaeda, nem armas nucleares no Iraque. Agradeçam a George W. Bush pela chamada al-Qaeda do Iraque.

Graças à mágica da manipulação pela imprensa-empresa de massa, Washington conseguiu desviar a atenção, fazendo que todos deixassem de ver os grupos da resistência sunita – “terroristas”, como foram rotulados –, para só verem um único grupo de doidos degoladores liderados por um jordaniano, renegado, misterioso, Abu Musab al-Zarqawi. Todos os demais grupos da resistência sumiram de vista.

Alguns reaparecem agora, no oeste do Iraque, dentre eles, mais falado, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Síria) [orig. Islamic State of Iraq and the Levant (Syria)ISIS). Sempre é dito “ligado à al-Qaeda”, quando a imprensa-empresa ocidental fala dele, mas provar alguma ligação, ninguém jamais provou. E o governo cada dia mais brutal do Iraque também alardeia que estaria lutando contra a al-Qaeda na Província Anbar.

A simples menção da palavra “de trabalho” al-Qaeda bastou para lançar os Republicanos e neoconservadores norte-americanos em estado de frenesi. Exigem que o governo Obama “faça algo”. Talvez... reinvadir o Iraque? Há 10 mil soldados dos EUA bem ali perto, no Kuwait.

Iraque - Região (verde escuro) dominada pela ISIS [orig. Islamic State of Iraq and
the Levant (Syria)
]

Forças especiais, aviões tripulados “presencialmente” e tripulados à distância, os drones, dos EUA, e mercenários da CIA já estão em ação em torno de Fallujah e Ramadi. Como em outras vezes, a CIA está pagando milhões a tribos sunitas para que combatam forças antigoverno.
Por loucura que pareça, os EUA consideram a possibilidade de comprar helicópteros de ataque da Rússia para dá-los ao regime de Bagdá, como estão fazendo atualmente no Afeganistão com o regime de Cabul.

Por falar de Afeganistão, o ex-diretor do Pentágono, Leon Panetta admitiu que não havia mais que de 25 a 50 membros da al-Qaeda no Afeganistão. Mas agora já há al-Qaeda no Paquistão, Jordânia, Arábia Saudita, Iêmen, pelo Norte da África, Nigéria, Mali, República Centro-Africana e por aí vai. O grupo Shebab da Somália, de resistência anti-ocidente, também já é apresentado como “ligado à al-Qaeda”.

Nos tempos da Guerra Fria, praticamente todos os grupos que se opunham à dominação ocidental eram chamados comunistas. Hoje, a al-Qaeda substituiu o comunismo como nome a usar em todas as “emergências”. A ideia generalizada – mas provavelmente errada – segundo a qual a al-Qaeda de Osama bin Laden teria sido responsável pelos ataques do 11/9 converte qualquer coisa “ligada à al-Qaeda” em candidato nato à liquidação sumária.

Rotular seus inimigos como “terroristas” é ótimo modo de deslegitimá-los e negar-lhes qualquer direito político ou humanitário. Foi o que fez Israel, com muita eficácia, contra palestinos desesperados.

Contudo, o problema óbvio aqui é que, ao fazer isso, cria-se suprimento infinito de “terroristas”, o que leva a pressões a favor de guerras contra eles. Isso, e o petróleo, já meteram forças especiais dos EUA África adentro, por toda a África negra. Essa é a “guerra longa”, infinita, que os círculos militaristas e neoconservadores nos EUA desejam, e contra a qual o presidente Dwight Eisenhower tão prescientemente alertou, nos idos dos anos 1950s.

O Egito é mais um trágico exemplo de propaganda distribuída pela imprensa-empresa, que vira “fato”. A maioria do povo egípcio, que votou e elegeu democraticamente um governo, em eleições limpas, e o governo que os egípcios elegeram, já são hoje universalmente condenados como “terroristas” pelos generais bandidos que derrubaram o governo eleito no Cairo. Qualquer um que se oponha à junta militar apoiada pelos EUA e pela Arábia Saudita é “terrorista”. Provavelmente dirigem carros terroristas, comem comida terrorista e têm filhinhos terroristazinhos.
___________________

11/1/2014, Eric MargolisInformation Clearing House
Return of Al-Qaida
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

[*] Eric S. Margolis é colunista internacionalmente premiado. Seus artigos são usualmente publicados no New York TimesInternational Herald Tribune Los Angeles TimesTimes de Londres; Gulf TimesKhaleej TimesNation- Paquistão; Hurriyet - Turquia, Sun Times - Malásia e outros sites de notícias na Ásia. Anima a página da internet Eric Margolis.

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