Majed não falará, mas Obama tem muito com o que se preocupar

Restos do atentado à Embaixada do Irã em Beirute. Em destaque o suspeito assassinado, Majed al-Majed

Com o assassinato altamente previsível do temido líder da Al-Qaeda, Majed al-Majed, de nacionalidade saudita, que comandava as Brigadas Abdullah Azzaam [ing. Abdullah Azzaam Brigades (AAB)], num hospital do exército em Beirute, o Líbano aproxima-se mais um passo da guerra civil. Correntes subterrâneas anunciam tempos difíceis para o Levante.

Circunstâncias indicam fortemente que Majed al-Majed, que estava ligado a recentes ataques terroristas no Líbano, tenha sido morto, como qualquer um mataria cão hidrófobo, pela inteligência saudita e/ou seus colaboradores em Beirute. A morte ocorre pouco depois que testes de DNA comprovaram sua identidade saudita. Mais importante: ocorre pouco depois que Teerã solicitou acesso ao prisioneiro, para interrogá-lo sobre sua possível participação no recente ataque, por suicida-bomba, contra a embaixada iraniana em Beirute.

Interessante: Teerã propôs que Majed e-Majed fosse submetido a interrogatório conjunto, por iranianos e sauditas; mas Riad descartou a ideia.

Parece que Teerã tem motivos para acreditar que a Arábia Saudita decidiu silenciar Majed al-Majed. Mortos não falam. O fato de um deputado influente do Parlamento Iraniano, membro da Comissão de Assuntos Externos e Segurança, Alaeddin Borujerdi, ter sugerido que houve mão saudita no assassinato, torna esse momento potencialmente muito próximo de um avanço da guerra “a distância”, dos sauditas contra o Irã, em cenário libanês. A última guerra civil no Líbano, que começou em 1975, durou 15 longos anos de violência, sangue e anarquia.

A inteligência saudita certamente temia que Majed e-Majed falasse demais sobre os elos que ligam as Brigadas AAB e a Al-Qaeda. A questão é que as Brigadas AAB, apesar de classificadas pelos EUA como organização terrorista, são financiadas pela inteligência saudita. O duplifalar saudita é típico: Majed el-Majed aparece na lista dos terroristas procurados em Riad, mas as Brigadas AAB recebem apoio clandestino.

Em resumo: se continuasse vivo, permanecia a perigosa probabilidade de os EUA virem a ser forçados a examinar os laços que unem a Arábia Saudita e a al-Qaeda. Recentemente, a Corte de Apelações dos EUA recomendou investigação sobre o papel dos sauditas nos ataques de 11/9.

Tudo isso, mais uma vez, demonstra que os laços que unem EUA e Arábia Saudita têm de ser cuidadosamente examinados pelo governo de Barack Obama. A tese segundo a qual, se os EUA antagonizarem os sauditas, eles tenderão a procurar novas alianças, é argumento simplório.

Em visita de 29/12/2013 ao Rei Abdullah da Arábia Saudita, o Presidente francês, François Hollande ouviu reiteradas queixas da mudança de política dos EUA em relação à guerra na Síria

O teste é a Síria

A questão crucial é se interessa aos EUA (ou se atende aos seus interesses no Oriente Médio) aceitar que a Arábia Saudita mantenha laços com grupos da Al-Qaeda. A Síria está convertida em teste. A continuada ambivalência dos EUA nessa questão só reforça a suspeita de que Washington pode também ter usos a dar a grupos da Al-Qaeda, como instrumentos de suas políticas regionais, como no Afeganistão e no Iraque.

5/1/2014, [*] MK BhadrakumarIndian Punchline
Majed won’t talk but Obama should worry
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Irã, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu,Asia Times Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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