Os vários dias de protestos organizados na Ucrânia são notáveis pela relativa ausência de violência policial. Diferente de EUA, Canadá, Tailândia, Grécia e Espanha, os manifestantes pacíficos não estão sendo espancados, envenenados com gases, detonados por canhões de água, nem eletrocutados pelos cassetetes “elétricos” da polícia ucraniana. Diferente do Egito, Palestina e Bahrain, os que protestam na Ucrânia não estão sendo fuzilados com munição viva. A compostura do governo e da polícia da Ucrânia ante a provocação tem sido notável. Tudo indica que a polícia ucraniana não foi militarizada pelo Serviço de Segurança Nacional dos EUA.
Do que tratam os protestos na Ucrânia? À primeira vista, os protestos não fazem sentido algum. O governo ucraniano decidiu – acertadamente – que permanecerá fora da União Europeia. O que interessa à Ucrânia está na Rússia, não na União Europeia: é absolutamente óbvio.
A União Europeia quer que a Ucrânia “integre-se”, para que possa ser assaltada e saqueada como a União Europeia já assaltou e saqueou Letônia, Grécia, Espanha, Itália, Irlanda e Portugal. Na Grécia, a situação é tão grave, por exemplo, que a Organização Mundial de Saúde já noticiou que alguns gregos se autocontaminam com o HIV, para receberem o auxílio mensal de 700 euros pagos aos infectados pelo vírus.
Os EUA querem que a Ucrânia “integre-se” à União Europeia porque, assim, virará parque de estacionamento para mais mísseis que Washington quer ter ali, mirados diretamente contra a Rússia.
Por que os ucranianos tanto “exigem” ser assaltados e saqueados?
Por que os ucranianos tanto querem virar alvos dos mísseis Iskander da Rússia, se se tornarem hospedeiros das armas de agressão de Washington contra a Rússia?
Por que, depois de os ucranianos terem ganhado a soberania que a Rússia lhes deu, eles tanto querem perdê-la outra vez, agora para a União Europeia?
Obviamente, uma população de ucranianos inteligentes, espertos, conscientes, jamais aceitará o altíssimo custo de “integrar-se” à União Europeia.
Assim sendo, por que os protestos?
Parte da resposta é o ódio nacionalista que os ucranianos sentem contra os russos. Com o colapso da URSS, a Ucrânia tornou-se país independente da Rússia. Quando impérios se partem, outros interesses podem tomar o poder. Houve várias secessões, que produziram uma coleção de estados pequenos, como a Georgia, o Azerbaijão, as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, a Ucrânia, os países do Báltico, e os cacos a que o “nacionalismo” reduziu a Checoslováquia e a Iugoslávia. Não foi difícil, para Washington, subornar e comprar esses estados frágeis.
Os governos desses estados sem poder obedecem mais imediatamente a Washington que ao próprio povo. Parte significativa do ex-Império Soviético é hoje parte do Império de Washington.
A Georgia, terra natal de Joseph Stalin, já vive hoje de mandar seus filhos morrerem por Washington no Afeganistão, exatamente como a Georgia, antes, mandou seus filhos morrerem lá mesmo, no Afeganistão, pela União Soviética.
Esses ex-elementos constitutivos do Império Soviético estão sendo incorporados ao Império de Washington. Os nacionalistas engambelados, ingênuos, nessas colônias dos EUA, talvez até se sintam livres. Mas só trocaram um patrão, por outro.
São cegos para a própria servidão, porque se lembram da servidão à União Soviética e não veem a subserviência deles a Washington – a qual, para eles é o libertador com talão de cheques. Quando esses novos países frágeis e sem poder, que não têm protetor, perceberem que seu destino já não lhes pertence e que estão nas mãos de Washington, já será tarde demais.
Com o colapso da União Soviética, Washington acorreu a ocupar o lugar da Rússia. Os novos países estavam quebrados, como a Rússia naquele momento e, portanto, indefesos. Washington usou ONGs pagas por Washington e seus fantoches da União Europeia para criar movimentos anti-Rússia, pró-EUA e pró-União Europeia, naqueles países que haviam sido parte da Rússia Soviética. E os povos, tão felizes por terem escapado dos soviéticos, nem viram que já tinham novos patrões.
Boa aposta, hoje, é que os protestos na Ucrânia estejam sendo organizados e estimulados pela CIA – eventos bem organizados – servindo-se dos préstimos de ONGs pagas por Washington e pela União europeia, manipulando o ódio dos ucranianos nacionalistas contra a Rússia. São protestos contra a Rússia. Se a Ucrânia for realinhada e metida no bolso do Império de Washington, a Rússia perde, como potência mundial.
Participantes da OTAN e convidados da Operação Steadfast Jazz 2013
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Para o mesmo objetivo, a OTAN fez manobras de guerra contra a Rússia, mês passado, na “Operação Steadfast Jazz 2013”. Finlândia, Ucrânia, Georgia e a neutra Suécia ofereceram-se para participar naqueles jogos de guerra da OTAN bem próximos da fronteira russa – apesar de nem serem membros da OTAN.
Fazer a Rússia encolher como estado de poder é fator crítico na agenda de Washington, ainda em busca da hegemonia mundial. Se a Rússia for capada, Washington poderá dedicar-se exclusivamente à China.
O “pivô” rumo à Ásia, de Obama, manifesta o plano de Washington de cercar a China com bases aéreas e navais e de meter Washington em todas as disputas que haja entre a China e seus vizinhos asiáticos. A China respondeu à provocação de Washington com a expansão de seu espaço aéreo, ação que Washington chama de desestabilizatória, quando, na verdade, quem está desestabilizando a região é Washington.
É pouco provável que a China se deixe intimidar, mas poderá minar-se, ela mesma, caso as reformas econômicas abram a economia chinesa à manipulação ocidental. Tão logo a China liberte a própria moeda e abrace os “livres mercados”, Washington pôr-se-á a manipular a moeda chinesa e a contaminará com a volatilidade que desestimulará seu uso como rival do dólar. A China está em desvantagem, com tantos graduados em universidades norte-americanas, onde foram doutrinados na visão de mundo de Washington. Quando esses graduados programados-robotizados nos EUA retornam à China, muitos tendem a converter-se numa 5ª coluna, cuja influência estará aliada a Washington na guerra contra a China.
Por tudo isso, em que pé estamos? Washington prevalecerá, até que o dólar norte-americano entre em colapso.
Já há, implantados, muitos mecanismos de apoio ao dólar. O Federal Reserve e a ganga de bancos dependentes dele já baixaram o preço do ouro e da prata, fazendo baixar os preços no mercado futuro de papéis, o que permite que a ganga bancária flua para a Ásia com preços de liquidação, mas baixando a pressão do ouro em alta sobre o valor de troca do dólar dos EUA.
Washington já prevaleceu sobre o Japão e, parece, sobre o Banco Central Europeu, no serviço de imprimir moeda para impedir a subida do Yene e do Euro, em relação ao dólar.
As “parcerias” Trans-Pacífico (TPP) e Trans-Atlântica (TAP) foram concebidas para prender os países ao sistema de pagamentos em dólares norte-americanos, apoiando, assim, o valor do dólar nos mercados de moedas.
Países do leste europeu membros da União Europeia que ainda mantêm as próprias moeda já foram avisados de que devem imprimir seu dinheiro, para impedir que o valor dele suba em relação ao dólar, o que reduziria as respectivas importações.
O mundo financeiro está sob o tacão de Washington. E Washington está imprimindo dinheiro-papel, para enriquecer 4 ou 5 megabancos.
E basta isso, para que os “manifestantes” na Ucrânia saibam o que precisam saber.
4/12/2013, [*] Paul Craig Roberts – IPE Institute for Political Ecomomy
“Defeated By The Taliban, Washington Decides To Take On Russia And China”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
[*] Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week eScripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica.
Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.
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