No Egito, o general Abdel Fattah al-Sisi – homem do Pentágono, nomeado há um ano pelo presidente Mursi para o posto de Chefe de Estado-Maior e Ministro da Defesa – ordenou abrir fogo contra os Irmãos da Fraternidade Muçulmana que protestam contra a deposição e a prisão do presidente Mursi, e convocou as forças laicas a sair às ruas e dar-lhe “mandado para afrontar a violência e o terrorismo”.
O mesmo chamamento foi ouvido também na Tunísia. “O que acontece no Egito nutre nossas esperanças e poderia influenciar também a Tunísia, porque o inimigo comum é a Fraternidade Muçulmana” – disse Basma Jalfaui, viúva de Chokri Belaid, líder da Frente Popular assassinado em fevereiro passado (Il Manifesto, 23/7/2013). E concluiu: “o que aconteceu no Egito não é golpe de Estado: é a continuação da revolução”.
Graças à casta militar formada e financiada pelos EUA, que assegurou, por mais de 30 anos a sobrevivência do regime de Mubarak; depois a “transição pacífica”, quando o levante popular derrubou Mubarak; em seguida a ascensão de Mursi à presidência para neutralizar as forças laicas; e, afinal, a deposição de Mursi quando a oposição laica levantou-se contra ele. Ante a sangrenta repressão no Cairo, a Casa Branca declarou, diplomaticamente que “não tem obrigação legal de decidir se os militares fizeram um golpe de estado, ao depor o presidente Mursi” – fórmula que permite que os EUA continuem a fornecer ao Cairo ajuda militar de 1,5 bilhão de dólares anuais. Continuando assim a reforçar a casta militar, principal instrumento da influência ocidental e dos EUA no Egito. Como também já se vê, na Tunísia.
A Tunísia – informa a embaixada dos EUA – é “aliada estratégica de longa data, dos EUA”, os quais formaram, treinaram e armaram suas forças armadas. Confirmado pelo fato de que se trataria de “um dos poucos países do mundo que tem cadetes em todas as academias militares dos EUA”, nas quais se formaram aproximadamente 5 mil altos oficiais da Tunísia. Essa casta militar, que também tem formação à francesa, depois de ter apoiado durante 24 anos o ditador Ben Ali, só o depôs oficialmente depois de já ter sido deposto pelo levante popular.
Hoje, enquanto o enfrentamento vai ficando cada diz mais agudo entre os islamistas e laicos, alguns setores da esquerda da Tunísia convocam aquela mesma casta militar para uma “solução à moda egípcia” – vale dizer, para intervenção armada contra o partido islamista, “o inimigo comum”. Essa posição é suicida. A prova disso está no que se vê acontecer no Egito, onde as poderosas forças externas e internas opostas à revolução favoreceram a fratura do movimento popular que derrubou a ditadura de Mubarak, levando ao enfrentamento que se vê hoje entre massas empobrecidas muçulmanas e laicas.
Em benefício da casta militar, o que reforça sua posição e a posição das potências externas – em primeiro lugar, dos EUA – que mantêm o Egito sob o jugo de seus interesses políticos, estratégicos e econômicos.
Em beneficio de Israel, que reforça o assédio que mantém contra Gaza: o exército egípcio já destruiu cerca de 80% dos túneis, vitalmente importantes para manter o abastecimento de alimentos e combustível e, portanto, para garantir a sobrevivência da população palestina. Enquanto que, seguindo as pegadas dos EUA, a União Europeia já incluiu a ala militar do Hezbollah islamista libanês na lista de “organizações terroristas”, mas continua a infiltração de terroristas islamistas em território sírio, trazidos pelos EUA e por seus aliados europeus.
E há quem, também dentro da esquerda, ainda chame isso, de “revolução”.
30/7/2013, Manlio Dinucci, Il Manifesto, Itália - L'ARTE DELLA GUERRA
«Soluzione» egiziana per la Tunisia?
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
[*] Manlio Dinucci é geógrafo e geopolíticólogo italiano. Últimas publicações : Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Geografia del ventunesimo secolo, Zanichelli 2010 ; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/08/solucao-moda-egipcia-para-tunisia.html