Entreouvido na Quebrada dos Muquifos na Vila Vudu: O argumento desenvolvido no artigo abaixo serve também como luva, ao golpismo “midiático” em que está empenhado o facinoroso governador Alckmin, em São Paulo, Brasil.
Alckmin está usando a imprensa-empresa udenista/venal paulista para fazer-crer que não saberia de coisa alguma do mar de lama que cobre todo o governo do Estado de São Paulo, desde os anos de Mário Covas, no escândalo que as empresas Siemens e Alstom decidiram, afinal, expor ao Ministério Público e ao CADE.
Alckmin pôs-se a esbravejar, pelos jornais, que “exigirá” acesso aos documentos do processo. Não tem direito de exigir porcaria nenhuma de documentos – como o CADE respondeu-lhe na lata e muito bem, resposta agora já plenamente confirmada pela justiça.
Nem por isso Alckmin -- tucano tão facinoroso que conseguiu varrer de seu caminho até o tal de Cerra, o hiper arapongueiro mór, o homem dos dossiers inventados e da chantagem desbragada -- calou o bico.
Alckmin é bandido perigoso. Mas não seria tão perigoso e tão danoso ao Estado e ao Brasil, se não tivesse, a seu serviço, a hiper imundíssima empresa-imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro e porque não dizer do Brasil...
Os EUA têm hoje gasto militar mais alto, em valores corrigidos pela inflação, do que no pico da avançada da Guerra Fria de Reagan, durante a Guerra do Vietnã e a Guerra da Coreia. Parecem viver em estado de guerra permanente e – como acabamos de descobrir – de espionagem massiva pelo governo, com vigilância sobre os próprios norte-americanos. Isso, apesar de já não haver ameaça real grave contra a segurança física dos norte-americanos.
Desde o 11/9/2001, só 19 pessoas morreram em atos de terrorismo nos EUA; e nenhuma dessas mortes teve qualquer relação com terroristas estrangeiros. Os EUA tampouco enfrentam “inimigos do estado” que impliquem ameaça militar significativa contra o país – não há, no mundo, estado que possa ser classificado como “estado inimigo” dos EUA.
Uma das causas dessa profunda desconexão é que praticamente toda a imprensa-empresa e as mídias de massa nos EUA vivem de oferecer imagem profunda e grosseiramente distorcida do que é hoje a política externa dos EUA.
A “notícia” é que a política externa dos EUA sempre é muito mais benévola e justificável do que a realidade do império que a maior parte do mundo conhece. Em estudo bem fundamentado, fartamente documentado e publicado pelo North American Congress on Latin America (NACLA), Keane Bhatt nos mostra, com riqueza de detalhes, como o simulacro “jornalístico” é construído.
Bhatt concentra-se num programa popular e interessante exibido pela rede National Public Radio (NPR), “This American Life” [Essa vida norte-americana], [Programa do dia 2/8/2013, em inglês (NTs)] com especial atenção a um dos episódios, que recebeu o Peabody Award [Programa da rádio em 27/7/2013 (NTs)].
O Peabody Award, para realização de alta qualidade no jornalismo eletrônico, é prêmio de muito prestígio – o que torna ainda mais relevante o caso estudado.
Aquela edição do programa trata de um massacre, na Guatemala, em 1982. Apresenta impressionantes depoimentos de testemunhas oculares de um horrendo massacre de praticamente todos os moradores da vila de Dos Erres, mais de 200 pessoas. As meninas e as mulheres foram violentadas, antes de serem assassinadas; os homens foram assassinados a tiros ou esquartejados com serras; e muitos, inclusive crianças, foram jogados – vários ainda vivos – num poço abandonado, que acabaria sendo a sepultura comum deles todos.
O programa de rádio leva o ouvinte a acompanhar uma heróica investigação do crime – o primeiro desse tipo, naquela região, em que os assassinos foram processados e condenados. E, no final, ainda se ouve o depoimento emocionante de um sobrevivente que tinha três anos à época do massacre. Trinta anos depois, já vivendo em Massachusetts, esse sobrevivente afinal descobre as próprias raízes e o pai biológico, como um dos resultados daquela investigação. O pai perdeu a esposa e os outros oito filhos, mas sobreviveu, porque, por acaso, não estava na cidade no dia do massacre.
O roteiro não esconde que esse foi apenas um dentre muitos massacres do mesmo tipo:
Aconteceu em mais de 600 vilarejos, com dezenas de milhares de mortos. Uma Comissão da Verdade conseguiu descobrir que mais de 180 mil guatemaltecos foram mortos ou resultaram desaparecidos em massacres perpetrados pelo próprio governo da Guatemala.
Mas há um detalhe que, esse sim, o programa omite cuidadosamente: o papel dos EUA no que uma Comissão da Verdade da ONU, em 1999, definiu, em termos jurídicos, como “genocídio”.
A ONU condenou especificamente o papel de Washington, e o presidente Clinton teve de pedir desculpas públicas por aquele papel – a primeira vez, e, que eu saiba, a única vez, que algum presidente dos EUA teve de pedir desculpas por participação dos EUA em um genocídio.
A ONU comprovou que os EUA forneceram armas, treinamento, munição, cobertura diplomática e política e outros tipos de cobertura e de apoio aos criminosos assassinos em massa: tudo fartamente documentado; e o caso recebeu ainda mais atenção por causa do recente julgamento do militar e ex-ditador general Efraín Ríos Montt, que governou a Guatemala em 1982-83.
(Como Bhatt observa em seu estudo, o programa diz que a embaixada dos EUA ouvira relatos de massacres durante aqueles anos, mas “não lhes deu atenção”. No mínimo, o programa falseia os fatos: há inúmeros telegramas que mostram que a embaixada estava recebendo farta e clara informação sobre o que estava acontecendo).
De fato, um dos soldados que participou do massacre de Dos Erres, Pedro Pimentel, condenado mais tarde a 6.060 anos de prisão, foi resgatado por avião e levado, um dia depois do massacre, para a Escola das Américas, a instalação militar norte-americana de treinamento, onde foram adestrados alguns dos principais e mais nefandos ditadores e criminosos violadores de direitos humanos da região.
É espantoso que um dos mais sanguinários genocidas do pós-IIa. Guerra Mundial tenha sido ajudado, apenas algumas horas depois de cometido o massacre, e levado para território dos EUA para ser protegido, sem que nenhum jornal, rede de televisão ou de rádio jamais noticiasse o fato.
O jornalista investigativo Allan Nairn entrevistou um soldado guatemalteco em 1982, que narrou como ele e seus camaradas massacraram aldeias inteiras, como em Dos Erres. Apesar disso, a grande imprensa-empresa norte-americana ignorou a entrevista, o que permitiu que Ronald Reagan promovesse Ríos Montt como “homem de grande integridade e comprometimento pessoais”. Por tudo isso, deve-se estranhar muito as omissões na narrativa do episódio premiado de “Essa vida norte-americana”.
É bem claro na fala de Ira Glass, apresentador do episódio, que ele conhecia bem o papel dos EUA no genocídio na Guatemala. Nos anos 1980s, parece que chegou a viajar à América Central, e era jornalista muito ativo na luta contra guerras financiadas pelos EUA e respectivos crimes de guerra naquela região. Em correspondência por e-mail com Bhatt, ele reconhece que “talvez não tenhamos agido corretamente” ao omitir qualquer informação sobre o papel dos EUA naquele genocídio.
É pouco, como avaliação crítica, mas é avaliação muito significativa. Permite concluir que, do ponto de vista da grande imprensa-empresa norte-americana, para programa radiofônico transmitido em inglês para todo o território dos EUA, essa semiverdade, essa vasta omissão de fatos conhecidos, seria tudo o que os cidadãos norte-americanos precisariam saber sobre aquele genocídio.
Nem estou culpando Glass. É provável que, se tivesse destacado o papel dos EUA naquele genocídio e se tivesse questionado alguns dos oficiais e funcionários dos EUA responsáveis por aquela ação, jamais tivesse obtido autorização para distribuir o programa pela rádio pública. E com absoluta certeza o programa jamais teria recebido o Prêmio Peabody.
Por isso o programa e o prêmio são tão impressionante ilustração de como a censura e a autocensura operam na imprensa-empresa dos EUA. Demonstra, no plano micro, algo que testemunhei incontáveis vezes nos últimos 15 anos de conversas com jornalistas sobre esses temas. Os jornalistas têm ideia bem clara de quanto de verdade podem noticiar. Encontrei inúmeros bons jornalistas que tentaram ultrapassar esses limites e alguns até conseguiram – mas, regra geral, não duraram muito.
Scott Wilson, que foi editor de internacional do Washington Post e cobriu a Venezuela durante o golpe (que teve vida curta) contra governo democraticamente eleito na Venezuela em 2002, disse, numa entrevista, que “os EUA tiveram envolvimento” naquele golpe. Pois essa importante informação jornalística jamais apareceu publicada no Post, nem em qualquer outro veículo da grande imprensa-empresa nos EUA, apesar da abundância de documentos e de provas de que, sim, o governo dos EUA participara ativamente do golpe. Mais uma vez, pode-se dizer que esse detalhe era o mais fundamentalmente importante da história, para o público norte-americano – sobretudo porque desempenhou papel decisivo no envenenamento de todas as relações entre Washington e Caracas ao logo de toda a década e teve provavelmente impacto significativo nas relações dos EUA com todo o continente sul-americano. Mas, como na história do massacre de Dos Erres, o papel dos EUA naquele crime não é “mpublicável”.
O mesmo vale para o papel dos EUA no golpe que destruiu a democracia em Honduras em 2009. Os consideráveis esforços feitos pelo governo Obama para apoiar e legitimar o governo golpista não foram considerados “noticiáveis”... pelos jornalistas norte-americanos. (Bhatt também é roteirista de outro episódio da série “Essa vida americana”, no qual o golpe apoiado pelos EUA ficou fora da história da qual deveria ser, de fato, o evento determinante). E também nesse caso, a participação decisiva dos EUA em mais um Golpe de Estado não foi considerada noticiável na imprensa-empresa norte-americana.
Que cara teria a política externa dos EUA, sua política militar e a chamada “segurança nacional” dos EUA, se a imprensa-empresa realmente noticiasse os fatos determinantes reais, conhecidos e comprovados dessas políticas?
Com certeza, diminuiria muito o número de esquifes de soldados norte-americanos enterrados longe de casa e, também, dos que voltam para serem entregues às famílias. E tampouco os EUA estariam cortando os programas de comida para os pobres, ou de hospitais para velhos desamparados... Só para conseguir continuar a manter o mais inacreditavelmente ensanguentado orçamento militar que o mundo jamais conheceu.
6/8/2013, [*] Mark Weisbrot, The Guardian, UK
“The more nefarious US foreign policy, the more it relies on media complicity”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
[*] Mark Weisbrot é um economista americano, colunista e co-diretor, com Dean Baker, do Centro para Pesquisas Econômicas e de Políticas Públicas (Center for Economic and Policy Research - CEPR) em Washington. Como comentarista, ele contribui em publicações como o New York Times, o The Guardian e a Folha de S. Paulo. Como economista, Weisbrot criticou a privatização do sistema norte-americano de seguridade social e foi um grande crítico da globalização e do FMI. Os trabalhos de Weisbrot a respeito dos países latino-americanos (incluindo Argentina, Bolívia, Brasil, Equador e Venezuela) atraíram interesse nacional e internacional.
http://redecastorphoto.blogspot.com.br