Mulheres da Indonésia vendem biscoitos de jaca feitos por elas mesmas. Foto: Abigail Lee/IPS
Subang, Indonésia, 26/6/2013 – Quando Kaswati, de 45 anos, se uniu em 1999 a um projeto de capacitação para gerar renda, na província indonésia de Java Ocidental, não pretendia mais do que completar o orçamento familiar em uma época de colheitas irregulares. Entretanto, 14 anos depois, seu negócio de biscoitos de jaca, uma fruta típica da região, e de adubo orgânico superou com juros aqueles planos modestos. Agora é a principal fonte de renda da família de quatro pessoas desta mulher, e contribui para enfrentar os gastos com a administração de seu arrozal de meio hectare.
A escassez de água dos últimos anos obrigou a família a “buscá-la em canais de irrigação distantes” e a gastar mais em sua extração e manejo, explicou Kaswati à IPS, em Pogon, um povoado do distrito de Subang. Esta localidade fica a 30 minutos de Jacarta, capital da Indonésia. A escassez também “limitou as oportunidades de se plantar duas safras por ano, em lugar de três, como sugere o governo”, acrescentou. Seu negócio de compostagem e de biscoitos “salvou a família”, ressaltou.
Há pouco, “recebi um pedido para este ano produzir 348 toneladas de fertilizante, mas não posso atender a demanda sozinha, por isso pedi a uma amiga que fizesse compostagem e me vendesse”, contou Kaswati. Ela compra o adubo orgânico por US$ 51, em média, a tonelada, e revende por US$ 77, o que lhe permite um lucro considerável, ao mesmo tempo em que apoia os membros de sua comunidade.
Kaswati é uma das muitas mulheres de Pogon que se beneficiam de um projeto de geração de renda, que contou com aporte do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), proveniente dos seus recursos para ajudar as nações do sudeste asiático a enfrentar o impacto da mudança climática na agricultura. Dentro do programa, que durou de 1999 a 2006, as beneficiárias obtiveram um empréstimo bancário de US$ 40 para iniciar um negócio. Os juros foram de 1% e podiam pagar em 12 prestações mensais.
Ao final, Kaswati e suas companheiras se dedicaram a produzir compostagem. Com o tempo, todas abandonaram a atividade, menos ela. Em 2008, Kaswati começou a elaborar biscoito de jaca (Artocarpus heterophyllus) junto com outras 24 mulheres. “O programa nos ensinou a começar e administrar um negócio para conseguir lucro. E também aprendemos a fazer a contabilidade”, observou.
O setor agrícola da Indonésia fornece 87% das matérias-primas para as pequenas e médias empresas, contribui com 14,75% do produto interno bruto (PIB) e emprega 33,32% da população economicamente ativa. Por sua localização geográfica, a Indonésia é vulnerável aos impactos da mudança climática, como cada vez mais secas e inundações, mudança nos padrões de semeadura e mais pragas, o que ameaça a segurança alimentar, segundo Hari Priyono, secretário-geral do Ministério da Agricultura.
“A Indonésia se concentra em aumentar a produção de arroz de 54,1 milhões de toneladas, em 2004, para 69,05 milhões, em 2012”, apontou Priyono em sua apresentação em um painel sobre mudança climática, realizado em junho dentro de uma série de atividades da Fida para jornalistas. “O desenvolvimento agrícola enfrenta uma crescente quantidade de desafios graves devido à mudança climática, bem como à transformação de terras cultiváveis em assentamentos e projetos imobiliários”, acrescentou.
A seca prolongada e uma estação chuvosa maior afetaram a Indonésia com maior frequência nos últimos anos, o que deixou os camponeses diante do dilema de quando começar a plantar e preocupar-se com a segurança alimentar. No começo deste mês, especialistas em clima previram que na Indonésia choveria todo o ano, inclusive na estação da seca, que costuma ser de maio a setembro ou começo de outubro.
Devido à variabilidade climática, o Ministério da Agricultura introduziu um “calendário de cultivos” em 2012, que assessora os camponeses sobre os melhores períodos para plantar, variedades de sementes, fertilizantes e pesticidas. Também lançou novas variedades de arroz, capazes de resistir a períodos prolongados de seca ou inundações, e até mesmo uma grande salinidade, causada pela penetração da água do mar.
No entanto, é possível que as medidas não sejam suficientes, disse Zulkifli Zaini, cientista do Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz. “O problema é que ainda não temos a tecnologia para prever o começo da temporada seca ou de chuvas nem a severidade de inundações e secas”, acrescentou. Para piorar a situação, aproximadamente cem mil hectares de terras férteis da ilha de Java se transformam a cada ano em assentamentos e outros projetos imobiliários.
“Os arrozais de Java produzem quase o dobro dos que estão fora da ilha; isso quer dizer que o governo precisa criar 200 mil hectares para a produção de arroz a fim de compensar essa perda”, afirmou Zaini. Dados do Fida mostram que cerca de 70% dos 245 milhões de habitantes deste país vivem em zonas rurais, onde a agricultura é a principal fonte de renda. Pelo menos 16,6% da população rural é pobre.
Mas a experiência de Kaswati parece demonstrar que a diversificação de renda é uma estratégia viável para que os camponeses tenham uma vida decente graças à agricultura. O negócio de Kaswati não para de crescer. No começo deste ano fez um empréstimo de US$ 4.100 para sua produção de compostagem, atividade que lhe deu liberdade econômica e outro status. “Já não peço dinheiro ao meu marido para comprar alimentos nem para outras necessidades do lar, e, o mais importante, minha filha mais velha estuda na universidade”, contou Kaswati, que até o começo de 1999 era trabalhadora agrícola.
Outra mulher do projeto, que não quis dar seu nome, contou à IPS que seu negócio de biscoitos de jaca permite que mantenha os filhos na escola. “Meu filho mais velho só terminou o primário, o segundo acabou o secundário básico e o terceiro cursou todos, mas o quarto agora estuda na universidade local”, ressaltou. “Agora meu marido me consulta sobre tomada de decisões, especialmente sobre os estudos dos meus filhos”, afirmou. Envolverde/IPS