Sempre que Benedito Vinha a Macaé procurava minha avó Alice Quintino de Lacerda na Igreja Matriz de São João Batista. Ela era Presidente do Apostolado da Oração e as conversas giravam em torno da origem de seu nascimento. Ele sabia que Alice Lacerda era viuva de Mathias Coutinho de Lacerda e que ele, Mathias tinha um filho de nome Benedito e uma menina de nome Ondina. Mesmo ouvindo dela que o Benedito Lacerda era um jovem ferroviário que tinha nascido na Fazenda do Airys ele nao deixou se manter contacto com ela. Nos arquivos e na certidão e nascimento de Benedito Lacerda não consta nome de seu pai o que ocasionou a ele uma grande procura. Célio Ferraz, macaense que se aposentou como funcionário do Minisério da Saúde, conviveu, no Rio de Janeiro com Ondina Lacerda e Benedito nos anos de 1940.
(José Milbs, editor, historiador e escritor)...
VIDA E OBRA
O QUE A HISTORIA DA MUSICANUNCA DISSE...
Em 1949, depois de caminhar pela Rua Direita, com destino a Cia Telefonica que ficava na Esquina da Teixeira de Gouveia com a Conde de Araruama, Benedito telefonava para Ondina no Rio de Janeiro quando compos duas de suas obras imortais. Telefonista e Normalista. Enquanto esperava ser chamado na cabine, onde o telefone a manivela o poria em contato com sua esposa, ele fez telefonista e normalista. No original, feito num papel de embrulhar pão, era: Vestida de azul e branco, trazendo um CM num bolsinho encantador. (CM era colégio macaense da época). No Rio, segundo Célio Ferraz, ele sunstituiu e ficou: Vestida de azul e branco, trazendo um sorrriso franco, num rostinho encantador....
Benedito Lacerda nasceu em Macaé, no Estado do Rio de Janeiro em 14 de março de 1903 e faleceu no Rio de Janeiro em 1958. De fronte ao altar de São Benedito, na Matriz São João Batista, ele foi batizado e recebeu o nome Benedito. Começou a aprender flauta aos 8 anos de idade. Seu primeiro conjunto regional chamado "Gente do Morro" - batizado por Sinhô - nasceu em 1930 e incluía além dele mais os seguintes músicos: Canhoto, Russo do Pandeiro, Marino, Bernardo e Doidinho. Durou pouco o Gente do Morro.
Em 1931 foi transformado em Conjunto Regional de Benedito Lacerda, e como tal se transformou no mais famoso Conjunto Regional Brasileiro, só comparável com o de Dante Santoro, na Rádio Nacional e o de Rogério Guimaraes na Rádio Tupi.
Seu Conjunto foi responsável por acompanhar inúmeros cantores em centenas de gravaçoes. Além disso Benedito Lacerda foi um prolixo compositor, figurando em dezenas de sucessos, principalmente de carnaval.
Um dos flautistas mais atuantes e inovadores da música brasileira, desempenhou papel fundamental na estruturaçao do chamado conjunto regional, grupo de formaçao característica e de atuaçao marcante no universo da música popular. O famoso Regional de Benedito Lacerda acompanhou estrelas como Carmen Miranda, Mário Reis e Francisco Alves, entre outros.
Flautista, regente e compositor, aos 8 anos, começou a aprender flauta de ouvido. Iniciou suas atividades musicais como integrante da banda Nova Aurora em sua cidade natal. Aos 17 anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a residir no bairro do Estácio, famoso por abrigar sambistas e batuqueiros. Estudou flauta sob a orientaçao de Belarmino de Sousa, pai do compositor Ciro de Sousa. Estudou também no Instituto Nacional de Música, diplomando-se em flauta e composiçao. Em pleno carnaval de 1958, apo´s uma rápida enfermidade Bendito calou-se para sempre. Um ano antes ele deixou o testemunho a sua querida Sociedade Musical :" 'A Nova Aurora - Deixo aqui o meu coração para o resto da minha vida."
1922
Ingressou na Polícia Militar, nao abandonando suas atividades musicais. De 1923 a 1925, participou da banda do batalhao.
1925
Foi aprovado em teste no qual executava a parte de flauta da ópera "Il Guarany", de Carlos Gomes. Obteve sua transferência para a Escola Militar do Realengo, como músico de primeira classe, tornando-se solista.
1927
Deu baixa, passando a viver de suas atuaçoes em orquestra de cinemas e teatros.
1928
Participou de um grupo regional, os Boêmios da Cidade, chegando a se apresentar com Josephine Baker.
1929
Passou a tocar em grupos de choros como flautista e em orquestras de jazz como saxofonista.
1930
No ano seguinte, organizou um grupo por ele batizado de Gente do Morro, nome dado ao conjunto pelo compositor Sinhô. Neste conjunto, atuou como regente, além de executar solos e cantar. Como cantor, gravou várias composiçoes. Pouco tempo depois, o grupo foi desfeito e, em seu lugar, surgiu o famoso Conjunto Regional de Benedito Lacerda. O grupo contou com diversos integrantes até 1937, quando se estabilizou com ele próprio na flauta, Dino e Meira nos violoes, Canhoto no cavaquinho. Este trio se constituiria na mais importante, criativa e virtuosística base de acompanhamento na história da música popular. Essa formaçao se manteve até 1950, ano em que Canhoto assumiu a direçao do conjunto, mudando o nome para Regional de Canhoto. Benedito Lacerda, além de grande instrumentista, foi compositor de sambas, marchas e choros.
1933
Compôs sua primeira música de carnaval: a marcha Vai haver o diabo (com Gastao Viana), que se tornou espécie de hino do Clube dos Tenentes do Diabo, a que ele pertencia. Ainda em 1933, venceu um concurso musical pelo jornal "A Noite", com a composiçao junina Briguei com Sao Joao, ganhando como prêmio uma flauta de prata. Com seu regional, brilhou em várias emissoras, sendo que na Tupi, como no programa "O pessoal da velha guarda", produzido por Almirante, entre outros, atuou por vários anos.
1935
Ao lado de Carmen Miranda, participou de espetáculos de inauguraçao da Rádio El. Mundo, em Buenos Aires, Argentina. O maior sucesso de carnaval de 1935 foi a sua marcha Eva querida (c/ Luís Vassalo), gravada por Mário Reis. No ano seguinte, repetiu a façanha com a marcha Querido Adao, gravada por Carmen Miranda.
1940
Apresentou-se com seu regional no Cassino da Urca e no Cassino Copacabana. Nessa mesma época, atuou ao lado de Pixinguinha (saxofone), tendo gravado para a RCA, com acompanhamento de seu regional, uma série de choros antológicos (como 1x0, Ingênuo, Naquele tempo, Vou vivendo etc...), cuja parceria, segundo consta, teria sido dada, na sua maioria, por Pixinguinha. Com Pixinguinha, excursionou por todo o Brasil.
1942
Foi um dos fundadores da UBC.
1944
Venceu mais um carnaval com a marcha Verao no Havaí (c/ Haroldo Lobo), gravada por Francisco Alves, e o samba Ninguém ensaiou (c/ Haroldo Lobo), gravado por Aracy de Almeida.
1946
Venceu o concurso da prefeitura carioca com a marchinha Espanhola (c/ Haroldo Lobo), gravado com Aracy de Almeida.
1947
Transferiu-se para a SBACEM, da qual foi eleito presidente em 1948 e reeleito em 1951.
1948
Com Francisco Alves, fez grande sucesso com o samba Falta um zero no meu ordenado (c/ Ary Barroso), incluída décadas depois (1985) na coletânea "O dinheiro na música popular", produzida para o Banco do Brasil.
1952
Sua última marcha de sucesso foi Acho-te uma graça (c/ Haroldo Lobo e Carvalhinho), gravada por César de Alencar, que na época tinha um grande programa de auditório com seu nome, NA Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A música foi também premiada pela prefeitura.