“Os computadores chegaram na escola e, em princípio, foi um susto, ninguém sabia o que seria”, conta a coordenadora pedagógica Andreia Gomes da Costa, destacando as dificuldades que tiveram de ser superadas para implantação do projeto. “Não tinha computador na escola, então não tinha onde guardar direito, não tinha como carregar tantos computadores de uma vez”, lembra.
O primeiro revés do programa na escola foi o roubo de metade dos computadores pouco tempo depois da entrega. “A gente não espera que isso vá acontecer, um projeto tão bonito, para as crianças da comunidade”, lamenta Andreia. Os notebooks perdidos foram, entretanto, rapidamente repostos pelo MEC e ganharam armários especiais, com cadeado e tomadas, para mantê-los sempre carregados. A Secretaria Municipal de Educação também fornece assistência técnica contínua.
Vencidos os problemas logísticos, foi preciso enfrentar uma nova batalha: a resistência de alguns dos 33 professores em lidar com a tecnologia. “Quando veio o programa para a gente, eu quis ir embora da escola. Porque eu nunca tinha mexido (com computador), me apavorei. Não tinha noção do que me esperava”, relata Ana Lúcia Pires, professora com 29 anos de experiência em sala de aula.
A contragosto, Ana Lúcia foi incluída no programa de capacitação para o corpo docente. Aos poucos, com o incentivo dos colegas, ganhou “amor” pela tecnologia. “O fundamental aqui foi a coletividade. Uma ir olhando e vendo que a outra estava conseguindo”, diz a coordenadora Andreia. Assim, aos poucos, todos os professores acabaram aderindo à novidade.
Atualmente, Ana Lúcia se considera inserida no mundo digital. “Construí um blog. Faço postagem. Me acrescentou muito”, comemora. O contato com a tecnologia mudou a forma de dar aula e pensar da professora. “Lousa e giz é necessário, de vez em quando”, pontua.
O sucesso veio ainda mais fácil com os estudantes. “Poucos conheciam o notebook. Mas criança tem uma facilidade muito grande. Eles não têm medo de nada, então, eles fuçam mesmo”, explica a professora Daniela Coelho. A coordenação estima que apenas 30% tenham computadores em casa.
Exemplo de intimidade com a tecnologia, Gabriela Correia, sete anos, filmava os colegas com a webcam enquanto a professora concedia entrevista à Agência Brasil. A jovem aproveitava para brincar nos últimos minutos de classe, depois de ter terminado de desenhar um cartão de Natal proposto pela professora. “Eu faço com eles uma troca: primeiro a gente faz a atividade, depois eles estão liberados para brincar. Então, tem uns que brincam nos próprios jogos do notebook e têm outros que entram na internet”, conta Daniela.
Apesar das distrações oferecidas pela máquina, todos na escola garantem que os notebooks têm o poder de atrair a atenção dos estudantes, inclusive dos mais dispersos. “Eu tenho aluno que tem dificuldade em fazer registro em caderno, fazer atividade em livro. E quando eu dou o notebook, vejo que a criança faz com a maior facilidade”, explica Daniela sobre os ganhos que as telas de sete polegadas trouxeram para a sala de aula. “As crianças têm mais interesse, vêm com mais gosto para a escola. A frequência aumentou”, reforça a professora Ana Lúcia.
Na reunião de pais e mestres do ano passado, os alunos usaram o computador e apresentaram, em formato digital, as atividades desenvolvidas ao longo do ano. Este ano, o UCA entrará em uma nova fase na Escola Municipal Jocymara Falchi Jorge. Acaba o apoio e a capacitação fornecidos pela Universidade de São Paulo (USP) e a própria escola será responsável por apresentar o sistema didático aos novos professores que vierem trabalhar na instituição.
* Edição: Lílian Beraldo.
** Publicado originalmente no site Agência Brasil.
(Agência Brasil)