Cada escola tem suas particularidades que devem ser levadas em consideração. Foto: Arquivo da escola
Professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com atuação no Departamento de Administração Escolar e Planejamento Educacional e no Núcleo de Política Educacional, Planejamento e Gestão da Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação, Luciana Rosa Marques carrega em seu currículo a realização de pesquisas desenvolvidas em escolas públicas de Recife que alcançaram sucesso na gestão escolar.
Em entrevista ao Jornal do Professor, a professora afirma que a gestão escolar é um tema atual e recorrente de pesquisas acadêmicas. Mas não há, segundo ela, uma fórmula única para uma gestão bem-sucedida, porque cada escola tem suas particularidades que devem ser levadas em consideração.
“A gestão escolar democrática não é um caminho fácil, mas deve ser construída com a participação de representantes dos diferentes segmentos da comunidade escolar. Todos devem ser tratados de forma igualitária, com direito a voz”, sustenta Luciana Rosa Marques, que defendeu, no doutorado em sociologia, a tese A descentralização da gestão escolar e a formação de uma cultura democrática em escolas públicas.
Jornal do Professor – O que é essencial para uma gestão escolar de sucesso?
Luciana Rosa Marques – Uma gestão pode ser considerada de sucesso se trabalhar na perspectiva da democratização, da participação, da inclusão social. Ou seja, uma gestão que seja participativa, que esteja atenta à diversidade presente na escola, que trabalhe na perspectiva inclusiva e que esteja comprometida com a construção de uma escola justa, acessível a todos.
JP – Qual a formação que um professor deve ter para ser um gestor bem-sucedido?
LRM – Hoje a gestão é um dos componentes da formação dos professores nas diretrizes curriculares do curso de pedagogia e das licenciaturas. Essa formação, no entanto, deve acontecer continuamente. É importante que os docentes em cargos de gestão reflitam sempre sobre como construir uma escola de qualidade e socialmente referenciada.
JP – As qualidades pessoais do educador são importantes? O que é preciso para esse profissional promover uma boa experiência de gestão escolar?
LRM – A principal qualidade é estar atento à construção de uma gestão participativa na unidade escolar que dirige. É preciso também saber que uma boa gestão não é construída sem a participação do coletivo da escola.
JP – Como envolver pais e professores nos projetos da escola?
LRM – Inicialmente, devido à tradição centralizadora da sociedade e da escola brasileira, é preciso chamar os professores e, especialmente, os pais à participação. À medida que a escola consegue envolver os diferentes segmentos em sua gestão, vai construindo uma cultura democrática e os sujeitos começam a perceber os efeitos de sua participação e, com isso, a percebem como importante.
JP – O que é uma gestão democrática descentralizada e por que é importante para a boa gestão escolar?
LRM – A boa gestão tem que ser democrática. A gestão democrática é a que envolve os diferentes segmentos na gestão da escola, particularmente por meio de um conselho escolar atuante, que discuta e delibere sobre as questões pedagógicas, administrativas e financeiras. Mas a democratização da gestão escolar não é fácil de ser construída e deve ser entendida como um processo contínuo, que pode ser dar de forma bastante diferenciada em cada escola. As relações democráticas que se constroem nas escolas públicas são contingentes, contextuais e imprevisíveis. Assim, consideramos a democracia como uma construção que se dá não por leis ou normatizações, mas pela ação das pessoas nos diferentes espaços sociais, podendo, portanto, assumir formatos diferenciados. Estudo realizado em escolas de um município na região metropolitana do Recife demonstrou que nas escolas estudadas a democracia se solidifica como prática política, baseada em relações horizontais, o que contribui para a formação política dos sujeitos sociais pertencentes ao espaço escolar. As entrevistas e observações realizadas nas escolas demonstraram que efetivamente a gestão se constrói de forma democrática, com a participação dos representantes dos diferentes segmentos da comunidade escolar que são tratados de forma igualitária, com respeito a suas diferenças, que têm direito a voz, e que são, portanto, reconhecidos. Em cada uma das escolas estudadas, a democracia é construída de forma diferenciada, apesar de estarem submetidas à mesma política educacional.
JP – O Brasil avança em políticas públicas que permitem o surgimento de boas experiências em gestão escolar?
LRM – Acredito que sim. No nível da legislação, a gestão democrática da educação é um princípio constitucional, consagrado na Constituição cidadã de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1966, e em numerosos instrumentos legais dos sistemas de ensino do país. O Ministério da Educação tem alguns programas de fortalecimento da gestão democrática, como o Programa de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, a Escola de Gestores e o Pradime. Todas essas iniciativas, certamente, têm contribuído para a construção e o fortalecimento da gestão democrática nas unidades escolares públicas brasileiras. O tema da gestão escolar ocupa um espaço significativo na produção acadêmica da área de educação. Além de vários programas de pós-graduação terem a temática como uma linha de pesquisa, a Associação Nacional de Política e Administração da Educação, que é a entidade mais antiga na área de educação, congrega um grande número de pesquisadores da área. Nos diferentes eventos científicos de educação (congressos, simpósio, reuniões) vemos um aumento expressivo de trabalhos sobre gestão.
* Publicado originalmente no Portal do Professor.