A construção de um país sustentável, capaz de superar os desafios do desenvolvimento e manter a capacidade de oferecer qualidade de vida às futuras gerações, passa necessariamente pela qualificação de cidadão sob o ponto de vista profissional e ético.
O Brasil é um dos países onde mais avança o conceito de sustentabilidade e a aplicação de tecnologias capazes de oferecer alternativas eficientes de desenvolvimento sustentável. No entanto, é também um dos países onde os desafios da superação da miséria são mais evidentes. Nas cidades e no campo a falta de oportunidades e a ruptura de padrões mostram que o atual modelo vigente de desenvolvimento não foi capaz de elevar o país aos níveis de riqueza já alcançados por outros países, apesar de ser a 10ª economia mundial.
Existem alguns consensos globais em
torno dos mecanismos de superação da miséria. O principal deles diz que a
educação é o caminho universal para o desenvolvimento. Mas, a este desafio
enfrentado pelos educadores, associa-se outro, o do desenvolvimento sustentável.
Ou seja, não basta mais ser educado, é preciso ser educado para a
sustentabilidade. Pois os grandes obstáculos que a humanidade têm pela frente
estão relacionados à necessidade de se garantir a renda e a qualidade de vida
das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras
conseguirem garantir sua própria sobrevivência com padrões de qualidade iguais
ou melhores do que os de hoje.
Este início do século XXI carrega a
responsabilidade de quebrar alguns dos paradigmas mais arraigados da sociedade
humana. Desde a revolução industrial os homens estão desenvolvendo maneiras de
produzir mais e melhor, a custos mais baixos e sem se preocupar com os impactos
que isto provoca no meio ambiente, ou como se diz em linguagem econômica: as
externalidades do negócio. Hoje está provado por estudos realizados pelas
principais universidades e instituições de pesquisas do mundo que estas
“externalidades” estão comprometendo de forma global as qualidades da Terra para
manter a vida humana nos padrões atuais. O planeta está perdendo a capacidade de
prestar os “serviços ambientais” necessários à manutenção da vida humana e suas
atividades econômicas.
É necessário que a humanidade repense seu processo
civilizatório. É preciso que se construam novos paradigmas que tornarão possível
às empresas e governos garantir os produtos e serviços que darão as futuras
gerações o conforto com o qual a sociedade atual está acostumada. E, para isto,
será necessária muita inovação, na medida em que as soluções para os atuais
problemas do processo desenvolvimentista não estão no passado, nem das empresas
e nem dos governos.
Os desafios começam na construção dos conceitos de
sustentabilidade que deverão servir como base para o desenvolvimento de uma nova
economia. Modelos de produção e consumo capazes de preservar os recursos
naturais, atuar com eficiência energética e incorporar padrões éticos que
permitam a percepção de valores sociais e ambientais intangíveis.
O grau
de desenvolvimento das organizações no que tange à sustentabilidade ainda está
em níveis muito distintos em cada tipo de organização e empresa. Existe um
caminho que começa a ser trilhado com maior ou menor desenvoltura, dependendo da
motivação e da necessidade de cada um. Mas existe, também, uma clara percepção
da sociedade e das empresas que não é mais possível considerar como eficiente ou
de sucesso organizações que tem em seu entorno sociedades fracassadas.
O
desenvolvimento do conceito de sustentabilidade foi um processo que veio desde o
início das grandes empresas, ainda na metade do século XX, quando o simples
cumprimento das leis representava um grande avanço social e estas empresas eram,
então, consideradas responsáveis. Além disto, ela poderia dedicar-se a ações de
filantropia, onde seus recursos seriam utilizados para mitigar algum tipo de dor
social. No entanto, os tempos mudam e as necessidades também. A ação humana não
é mais localizada, mas tem impactos muito mais abrangentes e de alcance
planetário.
Nos anos 80 a Organização das Nações Unidas (ONU) encomendou
um estudo à então primeira-ministra da Noruega, Gro Brundtland. Este trabalho
foi publicado em 1987 sob o nome “Retatório Brundtland”, ou “Nosso Futuro
Comum”. Foi a primeira vez que um conceito para sustentabilidade foi expresso e
mundialmente aceito. De acordo com o relatório, “ser sustentável é conseguir
prover as necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das
gerações futuras em garantir suas próprias necessidades”. Um dos parâmetros mais
aceitos deste relatório é o do Triple Bottom Line, que estabelece a necessidade
de um equilíbrio entre as ações e resultados econômicos, ambientais e sociais
das organizações. Ou seja, uma organização sustentável precisa ser
economicamente lucrativa, ambientalmente correta e socialmente responsável.
Mais, as ações de sustentabilidade precisam ser parte da gestão das organizações
e não apenas ações pontuais.
Foi também a primeira vez que um estudo
patrocinado pela ONU chega à conclusão de que é preciso mudar os atuais padrões
de produção e consumo adotados pelas diversas sociedades da Terra, de forma a
preservar os recursos e serviços ambientais necessários à sobrevivência humana.
Desde então existe um grande movimento de governos, empresas e ONGs que buscam
criar parâmetros para o desenvolvimento sustentável.
As empresas estão
habituadas a realizar ações de filantropia, onde doam seus recursos, sejam
financeiros ou materiais, para a realização de eventos em prol de terceiros.
Estas ações são o primeiro passo em uma escalada em direção à sustentabilidade.
Têm apenas o caráter eventual ou até mesmo de marketing. O segundo passo são as
ações de Responsabilidade Social. Neste caso as empresas assumem compromissos e
estabelecem metas de desempenho para suas ações socioambientais.
Empresas socialmente responsáveis atuam além do que exige a lei, de
forma permanente e como parte de seu planejamento estratégico. Este é o caso,
por exemplo, de organizações que fazem trabalhos de formação profissional para
públicos distintos, que têm um relacionamento permanente com seus stakholders.
Estas organizações têm a percepção de que existem outros valores desejáveis além
do lucro. Sabem, por exemplo, que passivos sociais e ambientais podem ter um
impacto negativo sobre sua marca e cuidam para que eles não existam ou sejam
neutralizados.
No entanto, estes são apenas os dois primeiros passos.
Existe na Bíblia um antigo provérbio que muito bem se aplica na definição dos
conceitos de Filantropia, Responsabilidade Social e Sustentabilidade:
• Filantropia: é dar o peixe a quem tem fome
• Responsabilidade Social: é ensinar a pescar
• Sustentabilidade: é cuidar da qualidade da água do rio,
preservar suas margens e matas ciliares,suas nascentes e cuidar para que não
seja poluído e nem assoreado, cuidar para que exista peixe para
sempre.
Ser sustentável é, portanto, o exercício cotidiano da
responsabilidade e a busca permanente por menos e menores riscos e
externalidades negativas. E esta forma de gestão deixa de ser apenas uma busca
da satisfação dos acionistas, para colocar a organização em uma nova trajetória,
uma onde sua ação passa a ser parte do processo civilizatório que deverá levar a
sociedade humana a ter mais e melhor qualidade de vida nos próximos séculos.
(Envolverde)
* Dal Marcondes é editor da Envolverde,
já atuou em grandes meios da mídia econômica brasileira e, desde 1995, dedica-se
à pauta socioambiental. Em 2006 e 2008 recebeu o “Prêmio Ethos de Jornalismo” e,
em 2007 foi escolhido “Jornalista amigo da Infância” pela Agência Nacional dos
Direitos da Infância (ANDI).
(Agência Envolverde)