As aparências enganam: esta NÃO
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Os remanescentes da bestial repressão da ditadura militar e os discípulos que eles formaram no culto aos conceitos e valores totalitários têm amplitude de atuação bem maior desde o último domingo (27/05), quando a rede de divulgadores de suas difamações, calúnias, injúrias e pregações golpistas passou a contar com a participação explícita da Folha de S. Paulo.
O marco inicial desta nova fase em que o jornal da ditabranda finalmente saiu do armário é a peça de propaganda enganosa intitulada Para militares, Estado combatia o terrorismo (pedófilos, sádicos, assassinos seriais, coprófagos e que tais podem acessá-la aqui --o Ministério da Saúde Mental adverte que a exposição prolongada causa fascistização).
As aparências enganam: esta
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Nela está exposta a racionália falaciosa que os ditadores e seus esbirros utilizam há décadas para tentarem justificar seus crimes contra a humanidade, não negando as torturas, assassinatos (incluindo execuções de prisioneiros indefesos a sangue frio), estupros, ocultação de cadáveres e outras atrocidades fartamente documentadas, mas colocando no mesmo plano os atos cometidos pelos que, em condições de extrema inferioridade de forças, confrontavam o despotismo.
E, de quebra, os leitores são convidados a clicarem no endereço eletrônico da matriz, para obterem mais do mesmo:
"A lista mais completa das pessoas mortas pela esquerda armada está no site do grupo Terrorismo Nunca Mais (www.ternuma.com.br).
É um grupo obviamente engajado, como ele se define: 'Um punhado de democratas civis e militares inconformados com a omissão das autoridades legais e indignados com a desfaçatez dos esquerdistas revanchistas'".
As aparências enganam: este AINDA
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Seria cômico, se não fosse trágico: o autoproclamado maior jornal do País abre suas páginas para os herdeiros de Adolf Hitler e Vlad Dracul se proclamarem democratas!!!
Mas, no caso do Grupo Folha, trata-se apenas de uma volta às origens: no auge do terrorismo de estado no Brasil, não só cedia viaturas para camuflarem o serviço sujo da repressão, como até facilitava o sequestro dos jornalístas da empresa (ao contrário da família proprietária de O Estado de S. Paulo, que ajudou a golpear as instituições em 1964 mas nunca permitiu que seus profissionais fossem caçados pelos torturadores no ambiente de trabalho).
A Folha mudou um pouco a linha editorial no governo do ditador Geisel por orientação do próprio Golbery do Couto e Silva, que capitaneava a abertura lenta, gladual e segura do regime de exceção.
Mas, a nostalgia dos velhos tempos tem batido tão forte nos últimos anos que a Folha não resistiu: arrancou a pele de cordeiro e está reassumindo sua monstruosidade intrínseca.
Aguarda-se nos próximos dias a confirmação de Carlos Alberto Brilhante Ustra como seu novo secretário de redação ou editor de Poder...
SAFATLE: PIG DÁ VOZ A TORTURADORES
Colunista da própria Folha de S. Paulo, o filósofo Vladimir Safatle produziu o melhor questionamento na grande imprensa do texto que sacramentou a aliança entre o jornalão e o Ternuma. Vale a pena citarmos alguns trechos do seu excelente artigo A conta dos mortos:
"Baseando-se nos números de um site de militares defensores da ditadura, o texto lembra como membros da luta armada mataram, além de militares, 'bancários, motoristas de táxis, donas de casa e empresários'. Não é difícil perceber o esforço do jornalista em induzir a indignação a respeito de tais ações contra 'vítimas particularmente vulneráveis', como sentinelas 'parados à frente dos quartéis'.
Em uma reportagem como essa, seria importante lembrar que os membros da luta armada que se envolveram em tais mortes foram julgados, condenados e punidos. Eles nunca foram objeto de anistia.
A Lei da Anistia não cobria tais crimes. Por isso eles ficaram na cadeia depois de 1979, sendo posteriormente agraciados com redução de pena. Sem essa informação, dá-se a impressão de que o destino desses indivíduos foi o mesmo do dos torturadores.
Segundo, seria bom lembrar que 'terrorismo' significa 'atos indiscriminados de violência contra populações civis'. Nesse sentido, as ações descritas da luta armada não podem ser compreendidas como 'terrorismo', já que a própria reportagem reconhece que as vítimas civis não eram os alvos.
Mesmo a ação no aeroporto de Guararapes não era terrorismo, mas um 'tiranicídio', que, infelizmente, errou de alvo. Vale aqui lembrar que, no interior da tradição liberal (sim, da tradição liberal), um 'tiranicídio' é algo completamente legítimo...
No entanto há uma certa propensão para darmos voz a torturadores que se autovangloriam como 'defensores da pátria contra a ameaça comunista' e 'fatos' que comprovam a teoria dos dois demônios, onde os crimes da ditadura se anulam quando comparados aos crimes da luta armada".
* jornalista, escritor e ex-preso político. htpp://celsolungaretti-orebate.blogspot.com