Deu na coluna Panorama Político do jornal O Globo, que geralmente acerta:
"Comissão da Verdade - O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), por delegação da presidente Dilma, está fazendo consultas e convites para os sete integrantes da Comissão da Verdade. Já estão confirmados o ex-ministro Nilmário Miranda e o cardeal Dom Evaristo Arns. A comissão terá um tucano: José Gregori ou Paulo Sérgio Pinheiro. E um familiar de vítima da repressão pela ditadura militar: Clarisse Herzog, mulher de Wladimir Herzog, ou Vera Lucia Facciolla Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva.
...Estão ainda em aberto as vagas destinadas a um historiador e a um jurista. (...). O sétimo nome será escolha pessoal da presidente Dilma".
Reitero minha afirmação de que é inaceitável o veto a quem pegou em armas contra a ditadura.
Trata-se de mais uma pretensão das bancadas reacionárias do Congresso; já passou da hora de a presidente Dilma Rousseff mostrar a que veio, não cedendo a pressões e chantagens obscurantistas. A igualação das vítimas a seus algozes seria uma afronta para todos que sangramos na luta contra o despotismo e para todos os companheiros bestialmente assassinados durante a vigência do terrorismo do estado.
Não faria mesmo sentido nenhum termos um Jarbas Passarinho ou um Brilhante Ustra defendendo na Comissão os crimes e práticas hediondas pelos quais deveriam há muito ter sido condenados (um na condição de ministro da ditadura e signatário do AI-5, outro por haver comandado o pior centro de torturas da repressão, sendo o responsável último por cada sevícia e cada morte nele ocorridas).
Mas, fará todo sentido um Ivan Seixas, p. ex., estar presente para lutar pelo resgate integral da verdade, como lutou encarniçadamente para resgatar as ossadas de Perus.
Se nós, que participamos da luta armada, formos tidos como desprovidos de legitimidade e isenção para ajudarmos a revelar a história do período, tal objeção deveria, evidentemente, ser estendida à própria escolha dos sete integrantes por parte da companheira Vanda. É simples assim.
O que está em confronto são duas posições bem definidas:
- a dos que resistimos à tirania e consideramos aberrante a comparação da luta quase suicida que travamos, em condições de extrema inferioridade de forças, com o genocídio e as atrocidades perpetrados pela ditadura e seus esbirros;
- a dos culpados por tais genocídio e atrocidades, que tentam relativizar as chacinas impunes alegando que "excessos foram cometidos pelos dois lados", de forma que o melhor seria passarmos uma borracha em cima de tudo.
Em nome de sua biografia e de tudo que sacrificamos para travar o bom combate, não cooneste esta infâmia, Presidente!!!
* jornalista, escritor e ex-preso político. http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com