Supondo que sejamos perfeitos otários, as autoridades iranianas insistem na invencionice posterior de que a pena capital se deveu a cumplicidade em assassinato, embora a sentença reze o contrário. Não cola.
Mahmoud Ahmadinejad se nega a transferir um "problema" para Lula, como se nosso presidente fosse um incapaz necessitado de tutela externa ao tomar suas decisões.
Pior ainda foi o comunicado oficial, no qual o Irã simplesmente nos insultou, ao fazer indagações ofensivas e acintosas:
"Em relação à presença ou ao exílio de Sakineh Mohamadi no Brasil, é necessário considerar alguns pontos e questões significativas. Quais são as consequências desse tipo de tratamento aos criminosos e assassinos?
"Esse ato não promoverá e não incitará criminosos a praticar crimes?
"Será que a sociedade brasileira e o Brasil precisarão ter, no futuro, um lugar para os criminosos de outros países em seu território?"
Mereciam receber uma resposta sincera: oferecemos asilo a Sakineh porque temos certeza de que não se trata de nenhuma criminosa, mas sim do alvo da vez de psicopatas que utilizam a religião para acobertar seus impulsos sádicos e homicidas.
Não consigo imaginar seres humanos tão vis e covardes a ponto de apedrejarem uma mulher até a morte. Estão mais para bestas-feras.
Quanto ao lugar para os criminosos de outros países em território brasileiro, prometo lutar até o fim para que nele não sejam admitidos os responsáveis por atos tão hediondos, quando o povo iraniano finalmente os escorraçar como merecem.
Infelizmente, estavam certos os que criticaram Lula por tentar introduzir um pouco de racionalidade na discussão sobre sanções ao Irã.
Nosso presidente tinha ótimas intenções, mas se desgastou inutilmente tentando ajudar fanáticos delirantes, ingratos ao extremo. Perda total.
A mesma boa vontade ele mostrou ao se dispor a receber Sakineh, não só pela compaixão que seu caso naturalmente inspira, mas também para oferecer ao Irã uma saída honrosa de um episódio que está deixando sua imagem em cacos.
Os mandatários iranianos, se utilizassem a desculpa de estarem atendendo o pedido de um governante amigo, salvariam as aparências.
Mas, preferiram insistir em sua intransigência obtusa.
Agora, ou assassinam Sakineh e serão vistos pelo mundo inteiro como trogloditas.
Ou poupam Sakineh e darão apenas demonstração de fraqueza, pois parecerá que se vergaram a pressões, embora continuassem errados nas convicções.
Em qualquer das hipóteses, o mal está feito: haverá bem menos solidariedade ao Irã, se os EUA desfecharem um ataque para que os israelenses possam dormir sem pesadelos com bombas atômicas (já os vizinhos perderem o sono por causa dos petardos judeus faz parte da ordem natural das coisas...).
E a imprensa informa que as pressões por uma intervenção militar estão aumentando nos EUA.
Ahmadinejad e sua trupe sinistra mostram um talento todo especial... para marcarem gols contra.
De quebra, trataram a pontapés o único presidente de uma grande nação que lhes estendeu a mão.
REAÇÃO BRASILEIRA - O ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, respondeu à altura, afirmando que o Brasil continuará empenhando-se para que o caso de Sakineh tenha uma solução humanitária e se referindo a Mahmoud Ahmadinejad como o que ele realmente é: um ditador. Bravo!
Vocês já viram esses pobres tolos enterrando-se cada vez mais nos caça-níqueis, sem ânimo para ir embora porque já perderam durante horas a fio e querem acreditar que a sorte acabará virando?
Pois é, nunca vira e eles despencam até o fundo do poço.
A situação é a mesma. O Brasil já perdeu muito apostando no Irã e perderá mais ainda insistindo. É hora de respeitar a si próprio e de se fazer respeitar por estrangeiros insolentes.
Então, espero que o Itamaraty não atrapalhe: Vannuchi está falando pelo Brasil.
* Jornalista e escritor, mantém os blogues
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