"Eu assisti de camarote
O teu fracasso,
Palhaço, palhaço
(...) No livro de registro desta vida
Numa página perdida o teu nome há de ficar
Registram-se os fracassos, esquecem-se os palhaços
E o mundo continua a gargalhar"
(Benedito Lacerda/Herivelto Martins)
Nos círculos do poder, não há a mais remota dúvida
de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmará a decisão
que o Governo brasileiro tomou há 13 meses, de garantir ao perseguido
político italiano Cesare Battisti o direito de residir e trabalhar em
paz no nosso país.
Eliane Cantanhêde já revelou que
as gestões italianas atualmente são apenas no sentido de que
Lula doure a pílula, alegando razões humanitárias para
sua decisão; e que o desfecho do caso não ocorra nos períodos
imediatamente anterior e posterior à visita do premiê Silvio Berlusconi
ao Brasil, para poupar-lhe constrangimentos.
Este quadro motivou nova diatribe de Mino Carta, Onde
está a esquerda? : trata-se de mera retaliação
pela derrota humilhante que está em vias de sofrer, como o principal
linchador de Battisti na imprensa brasileira.
Mino escreveu dezenas de artigos para pressionar nossas autoridades a passarem
por cima das tradições humanitárias brasileiras e das
consistentes dúvidas a respeito da lisura do processo em que Battisti
foi condenado sem ter podido exercer seu direito de defesa, graças a
uma fraude hoje totalmente desmascarada, envolvendo falsificação
de procurações, conluio de defensores com acusadores e conivência
da Justiça italiana.
Para que servem agora esses artigos, editoriais e notícias editorializadas?
Só para uma coisa: são a pior nódoa nas muitas décadas
de carreira de Mino Carta. Ele vai ser sempre lembrado como o jornalista que
tentou impor aos brasileiros a capitulação diante das mais descabidas
pressões e dos mais arrogantes ultimatos italianos.
Afora os textos que assinou, outros atribuídos à Redação
da CartaCapital têm conteúdo e forma idênticos
aos seus. E o ex-juiz Walter Maierovitch, colunista fixo que faz as vezes de
fiel escudeiro do Mino Carta, também contribuiu assiduamente com o lobby
para o linchamento de Battisti, produzindo dezenas de peças tendenciosas
e rancorosas.
No início de 2009, a CartaCapital certamente bateu
um duvidoso recorde na imprensa brasileira, como a revista de circulação
nacional que por mais semanas consecutivas abordou um único assunto,
e sempre com o mesmo viés (linchador).
O outro lado e o direito de resposta simplesmente
deixaram de existir para esse veículo, que se comportou como mero house
organ da Fabbrica
Italiana di Buffonatas .
Nem os leitores aguentavam mais este samba de uma nota só, tanto que
passaram a contestar veementemente não só a fixação
obsessiva de Mino no tema, quanto a posição por ele adotada.
Pateticamente, ele reagiu retirando-se do seu próprio blogue, o que
não impediu o público da revista de continuar manifestando sua
discordância nos comentários das notícias e editoriais
sobre o Caso Battisti, os quais continuaram sendo sistematicamente expelidos
(é o termo apropriado...).
Agora, confrontado com a inutilidade de sua caça à bruxa, o grande
inquisidor se vinga retoricamente dos que impediram-no de acender a fogueira:
"...José Eduardo Cardozo, fervoroso defensor da permanência
de Battisti no Brasil e titular de um currículo em que figuram contatos
importantes, quem sabe decisivos, com Daniel Dantas, o banqueiro do Opportunity.
Dele Cardozo foi advogado, soldado a mais de um exército infindo, antes
de se eleger em 2002..." [ Ser advogado de alguém nunca
constituiu crime ou opróbrio. Mino semeia suspeitas porque não
tem acusações para apresentar. ]
"A revista Veja acabava de publicar um dossiê que
dizia ter-lhe sido entregue por Dantas, a revelar contas de um pessoal graúdo,
a começar pelo presidente Lula, em paraísos fiscais. Mais um episódio
para enrubescer o arco-da-velha e que em outro país provocaria, no mínimo,
investigações profundas e algumas prisões." [ Depois
de tanto criticar a revista que já dirigiu, Mino Carta recorre a suas
antigas acusações para atingir Lula, o ex-ministro Márcio
Thomaz Bastos e o deputado Cardozo. ]
"Um ministro de Estado soletrou nos ouvidos de CartaCapital :
'É que o PT tem medo de Dantas'." [ É simplesmente
grotesco Mino lastrear acusação tão grave numa fonte incógnita.
O despeito o faz esquecer o bê-a-bá do jornalismo. ]
"Ah, sim, a famosa esquerda... Sempre pergunto aos meus perplexos botões
qual teria sido a razão que moveu o ministro Genro ao decidir-se pelo
refúgio a Battisti. Há quem diga, nos próprios corredores
de diversos ministérios, que foi para agradar à esquerda na perspectiva
da eleição gaúcha. [ Novamente insinua o que não
tem evidências nem coragem para afirmar, evitando assumir responsabilidades
legais. ]
"...de que esquerda se trata? Daquela que descobriu os prazeres da vida
e decidiu apostar no poder pelo poder? Ou daquela que virou tucana, ou seja,
herdeira do udenismo velho de guerra?" [ Noves fora, resta nada.
Já que Battisti vai ser libertado, ninguém mais presta, todos chafurdam
na podridão. O linchador está à beira de um ataque de nervos. ]
"Resta o fato de que esta tal de esquerda parece não ter entendido
a diferença entre quem luta contra a ditadura e quem contra um Estado
Democrático de Direito. Atingimos, assim, a encruzilhada: de um lado a
ignorância, do outro a hipocrisia. De um lado o QI baixo, do outro a desfaçatez.
De um lado a parvoíce, do outro a cega, granítica, eterna confiança
na credulidade alheia." [ Retórica embolorada e oportunística à parte,
Mino parece esquecer a desmoralização que Berlusconi granjeou para
o tal "Estado Democrático de Direito", começando pelas leis
casuísticas que Executivo e Legislativo têm introduzido/tentam
introduzir para evitar que o premiê receba a justa punição
por seus numerosos delitos. ]
* Jornalista, escritor e ex-preso político, mantém os blogues
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/
http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/