Segundo esse Otacílio, que tanto pode ser uma pessoa quanto um fake, a colunista não deveria dar nome aos bois, referindo-se a Ustra como "torturador". Motivo? Não interessaria "ao Brasil a reabertura de um processo doloroso sobre acontecimentos ocorridos há três décadas atrás onde as perdas ocorreram de ambos os lados mas que teve o mérito de evitar que o Brasil se transformasse numa imensa Cuba".
Como é habitual nos textos rústicos dessa gente idem, há agressões à lógica (não existiu "processo doloroso" nenhum, já que os responsáveis por torturas, execuções, estupros, mutilação/ocultação de cadáveres, etc., concederam-se perdão prévio e eterno pelas atrocidades cometidas) e à gramática (onde já se viu utilização tão disparatada do advérbio "onde"?).
Sintomaticamente, em nenhum trecho das pessimamente traçadas linhas está escrito que Ustra não foi um torturador. Parece que, até nas hostes da extrema-direita, tal condição já está sendo encarada como um ponto pacífico. Afinal, tanto quanto os comandantes de campos de concentração nazistas, Ustra jamais conseguirá dissociar-se dos crimes que seus comandados cometeram.
A defesa é sempre acusarem as vítimas de terem feito por merecer o tratamento que receberam no DOI-Codi/SP e outros tentáculos da repressão ditatorial -- o que equivale a uma confissão implícita.
De quebra, ameaças: "Está na hora dos militares começarem a trazer à público a folha corrida de todos aqueles que participaram daqueles episódios, divulgando os mínimos detalhes, alguns que ainda estão inclusive sob sigilo, a começar por pessoas como Franklin Martins, Dilma Rousseff, José Dirceu e outras pústulas...".
Quer dizer que os militares detêm informações que ainda não trouxeram a público, mas poderão fazê-lo quando sentirem-se acuados? Pois, que o façam! Talvez aí o Governo Lula tome alguma providência quanto à utilização do entulho autoritário para denegrir os heróis e mártires deste país.
Estou cansado de clamar no deserto contra a utilização ilegal, para desmerecer aqueles que resistiram à tirania, de informações provenientes de Inquéritos Policiais-Militares contaminados pela prática generalizada da tortura e de julgamentos a que civis foram submetidos em tribunais militares, sob leis de exceção.
Quanto da palestra do juiz Baltasar Garzón em São Paulo, interpelei o titular da Secretaria-Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, a este respeito. Sua resposta foi de que ficará para uma etapa posterior da luta.
Então, até lá, todos nós continuaremos sendo acusados, na imprensa e na Internet, por aquilo que os algozes alegaram a nosso respeito, sem que pudéssemos exercer, nem remotamente, nosso direito de defesa.
P. ex., apesar das evidências gritantes de torturas, jamais os julgamentos em auditorias militares desconsideraram as pretensas confissões, mesmo quando os réus ainda traziam no corpo as marcas das sevícias. E é com base nisso que hoje tentam, para efeitos propagandísticos, igualar-nos a nossos verdugos!
Está mesmo na hora de se reconhecer ao povo brasileiro o direito de saber tudo o que fizeram em seu nome nos anos de chumbo.
Quem se furtou até agora ao jogo da verdade foram os militares... por estarem cientes de que poderão até colher alguns ganhos pontuais com a liberação dessas informações, mas o balanço final lhes será amplamente desfavorável.
Vítimas são vítimas e algozes são algozes. Por mais que esperneiem, jamais conseguirão escapar ao veredicto implacável da História.