Dificilmente
uma situação de política internacional assume características tão
evidentes de comédia de erros como a crise entre Colômbia e Equador.
As
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia são um grupo guerrilheiro
que teimou em continuar atuante após o término do ciclo das ditaduras
militares sul-americanas e sua contrapartida, a opção das esquerdas
pela via armada de libertação.
Pior: para sobreviverem à sua
época, descaracterizaram-se como defensoras de valores nobres,
estabelecendo relações promíscuas com o narcotráfico e criando a
indústria de seqüestros.
Uma prática tão desumana só podia ser
relevada por idealistas no caso da troca dos reféns por presos
políticos, ou seja, como alternativa extrema aos assassinatos e
torturas a que estavam sujeitos os resistentes em regimes despóticos.
Sua universalização como fonte de recursos financeiros é inadmissível
para revolucionários formados na tradição marxista.
O governo
da Colômbia também parece ter retrocedido aos tempos sombrios da guerra
fria. Colocou suas forças repressivas sob a tutela dos EUA e
desencadeia matanças em território alheio, violando a soberania do
Equador. É culpado de extermínio dos seus cidadãos e pirataria.
O
Equador, por sua vez, abria suas fronteiras para bandos armados
empenhados na desestabilização de um país vizinho. Envolveu-se, por
omissão ou anuência, num problema interno de outra nação, o que faz
seus atuais rompantes de virgem ultrajada soarem particularmente
cínicos.
O presidente venezuelano Chávez, em sua queda de braço
com o congênere colombiano Uribe, tudo faz para estimular uma incrível
guerra brancaleone, comportando-se com uma irresponsabilidade
monstruosa. Mesmo tendo o Equador como aliado (ou teleguiado), isto
nem de longe justificava a mobilização de suas tropas, colocando mais
lenha na fogueira.
E, last but not least, os EUA de Bush se
arrogam o papel de polícia do mundo, passando por cima do Direito
internacional e de todas as normas de coexistência civilizada entre os
povos. Depois de devastarem o Afeganistão e o Iraque, estão ajudando a
provocar uma guerra dos esfarrapados em nosso continente.
O
partido das pessoas de bem, face a essa ameaça de morticínio insano, é
em defesa da vida de colombianos, equatorianos e quantos outros seres
humanos trabalhadores e humildes (são sempre eles as buchas de canhão!)
que possam vir a tombar nos campos de batalha. A guerra pertence à
pré-história da humanidade.
Celso Lungaretti, 57 anos, é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/