Rio de Janeiro, Brasil, 8/1/2013 – Já é do conhecimento popular que o mosquito transmissor da dengue precisa de calor e água limpa parada para se reproduzir. Contudo, agora um estudo conseguiu medir no Brasil a relação entre o aumento de chuvas e de temperatura com o risco de epidemia na cidade do Rio de Janeiro.
A pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública, divulgada na revista Cadernos de Saúde Pública, avaliou a relação entre variações climáticas e o risco de dengue. Os resultados indicaram que, entre 2001 e 2009, a elevação da temperatura mínima em um mês provocou aumento de 45% nos casos de dengue no mês seguinte no Rio de Janeiro. A elevação de dez milímetros na quantidade de chuvas também esteve relacionada com a alta de 6% nos casos dessa doença viral aguda.
“A relação chuva-calor e as doenças tropicais é parte do senso comum. No estudo tentamos dar uma explicação científica e uma quantificação teórica desta relação”, explicou à IPS Adriana Fagundes Gomes, uma das autoras do estudo realizado pela escola da Fundação Oswaldo Cruz. “A hipótese foi comprovada matematicamente”, destacou Adriana, atualmente pesquisadora do setor de epidemiologia do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A análise permitiu deduzir que o risco de dengue aumenta quando a temperatura supera os 26 graus centígrados, já que o transmissor da doença, o mosquito Aedes aegypti, se desenvolve melhor com temperatura mais alta. Além disso, foi observado aumento da média de chuvas de quase mil milímetros entre os meses de dezembro e março no Rio de Janeiro, o que também contribui para a proliferação dos mosquitos transmissores.
“É importante destacar que o que foi divulgado da pesquisa já é de conhecimento há muito tempo: o mosquito necessita de água limpa e calor para se reproduzir, e, por isto, o verão é o período de maior incidência de dengue”, explicou à IPS o infectologista Alberto Chebabo. “O único dado novo do estudo foi medir quanto aumenta o número de casos para cada grau centígrado ou para cada milímetro de chuva durante os anos epidêmicos”, acrescentou Chebabo, chefe do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ.
O estudo cruzou dados de notificações de casos de dengue da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, de temperatura do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e de chuvas da Secretaria Municipal de Obras Públicas. Devido à dificuldade para desenvolver vacina contra a dengue, os autores afirmam que o aumento do conhecimento sobre o desenvolvimento do vírus permitirá melhor prevenção. “O estabelecimento de um sistema de intervenção precoce envolveria parâmetros que possam prevenir o risco da doença”, pontuou Adriana Gomes.
“Estudos sobre variáveis climáticas podem melhorar o conhecimento e a previsão de epidemias estacionais, porque a relação vetor e clima é tão importante quanto a interação vetor e ser humano”, diz o estudo. Para a pesquisadora, a principal descoberta é que no Rio de Janeiro a variável temperatura (principalmente a mínima) “tem uma relação mais significativa com o número de casos de dengue do que as chuvas”.
O Aedes aegypti precisa de água limpa – de chuva ou irrigação – para colocar seus ovos. As temperaturas elevadas “facilitam a eclosão dos ovos e reduzem o tempo de evolução de larva para mosquito adulto”, explicou Chebabo. “Desta forma, no período de chuvas e calor, próprio do verão do Rio de Janeiro, o número de mosquitos aumenta, facilitando a transmissão da doença”, destacou.
Uma análise da última década mostra que na região Sudeste do Brasil, onde fica o Rio de Janeiro, a dengue prevalece nos meses de dezembro a abril, exatamente a época mais quente e chuvosa. Todas as epidemias da doença ocorreram nesse período. Por isto, para Chebabo, as medidas tradicionais de prevenção, nas quais atua “o vetor humano” continuam sendo fundamentais para combater a dengue.
“O combate ao foco do mosquito por meio da eliminação de seus criadouros é a medida mais efetiva para reduzir a incidência da doença”, enfatizou o especialista. Entre outras medidas, mencionou a necessidade de participação conjunta do governo e da população para reduzir o acúmulo de água em vasos e recipientes descartáveis, como garrafas de plástico. Também se deve incentivar que sejam fechadas as caixas d’água e haja uma coleta de lixo adequada.
O Ministério da Saúde apresenta medidas nessa direção em sua campanha para 2013, “Dengue é fácil de combater, só não se pode esquecer”, lançada no começo do ano. O objetivo é reforçar entre janeiro e maio mensagens educativas que destaquem a necessidade da mobilização coletiva para prevenir e tratar a doença a tempo. Em cada região do país serão abordadas medidas específicas segundo as necessidades de cada município.
Em seu último boletim, do dia 4, o Ministério informou que durante 2012 houve redução de 64% dos casos de dengue confirmados, em comparação a 2011. A mortalidade por dengue também registrou queda de 49% entre os dois períodos. De janeiro até a primeira semana de novembro do ano passado, houve 247 mortes confirmadas, enquanto no mesmo período de 2011 esse número foi de 481. Dados da Organização Mundial da Saúde estimam que cerca de 2,5 bilhões de pessoas vivem em risco de contrair a dengue em áreas tropicais e subtropicais e que entre 60 milhões e cem milhões contraem anualmente a doença, que provoca entre 12 mil e 15 mil mortes. Envolverde/IPS
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