Horas antes de seu show no Festival Back2Black no domingo (01), o cantor, compositor e ex ministro da Cultura, Gilberto Gil conversou com jornalistas no Old Billingsgate Market, onde falou sobre o período em que morou em Londres, seu tempo como ministro, sobre o Festival Back2Black , evento no qual Gil é o "Embaixador" e comparou o racismo no Brasil com o racismo nos EUA.
BN- A cidade de Londres está muito diferente do tempo em que você morou nos anos 70?
GG- Com certeza a cidade está muito diferente, no nosso tempo não havia essa miscigenação de povos como altualmente, os imigrantes naquela época vinham da Índia, Paquistão e Jamaica.
BN- Você se emociona muito quando vem a Londres, você tem grandes recordações da capital inglesa?
GG- A gente tem um carinho especial por Londres, essa cidade cosmopolita, onde se há de tudo. Muita coisa boa aconteceu conosco no período em que moramos aqui, presenciamos o início da carreira de muitos grandes artistas, por – exemplo tivemos a oportunidade de irmos ao primeiro show do David Bowie. Fizemos vários shows em Londres e outras cidades, participamos do festival da Ilha de Wight. Muita coisa boa aconteceu, somos gratos por tudo.
Aliás foi em Londres que nasceu meu primeiro filho Pedro , em agosto de 1970 , Pedro nasceu em uma maternidade em Marble Arch. (Infelizmente, Pedro que era músico da banda Ego Trip , morreu em um acidente de carro em 1990).
BN- Hoje é o último dia do Festival Back2Black que começou na última sexta (29), como você avalia o evento?
GG- Nós só temos a comemorar, a aceitação do público está sendo fantástica! É um espaço para muita música, para discutir cultura, miscigenação , o reconhecimento da cultura afro-brasileira. A programação foi muito bem organizada, com participações de grandes artistas, intelectuais, escritores africanos, britânicos, brasileiros.
BN- Como foi para o artista Gilberto Gil exercer a função de ministro da cultura?
GG- Foi algo tranquilo, foi combinado em meus quase 06 anos como ministro que eu só poderia fazer shows nos meus momentos de folga e que os shows não poderiam ter nenhum patrocínio do governo brasileiro. Foi um bom período, mas ao mesmo tempo muito cansativo, porém mesmo viajando muito sempre carregava meu violão nas costas, nunca me separei do violão enquanto exercia a função de ministro.
BN- Foi difícil administrar o Gil artista informal com o Giberto Gil Ministro formal?
GG- Como ministro não tinha tempo para compor, a agenda era apertada, mas no fim da jornada diária procurava tocar meu violão para relaxar. Lembro-me uma vez que eu e outros colegas ministros viemos para uma reunião com o Primeiro Ministro Gordon Brown em Downing Street, enquanto esperavámos o Gordon Brown comecei a ``batucar`muito levemente com o pé, a fazer um ``som`` muito timidamente, algo que me fez ser extremamente criticado pela Folha de São Paulo. Na realidade esse som`` involuntário`` só saiu por causa da sola do sapato pesado.
BN- No ano passado o jornalista do The Guardian , Tom Phillips criticou a falta de modelos negros na São Paulo Fashion Week, assim como a poeta escocesa, Kokumo Rocks se asssustou com a falta de negros na tv brasileira em sua visita ao Brasil . De acordo com a poeta a tv brasileira quer se mais européia do que a própria Europa. Onde estão os negros em nosso país?
GG- Estão nas camadas mais baixas. Temos que ver a história. Se compararmos a presença do negro há dez anos e hoje, podemos ver uma representatividade muito maior, muito mais significativa em diferentes setores da sociedade brasileira.
BN- Mas ainda não estamos caminhando a “passos lentos”?
GG- As coisas acontecem lentamente. Temos que ter paciência. Se compararmos o racismo do Brasil com os EUA vemos que estamos a frente, nós não temos Ku Klux Klan como nos EUA, qualquer tipo de organização que queira propagar o racismo em nossa sociedade não deixamos crescer. As coisas estão mudando, não podemos dizer que o Brasil é um país preconceituoso,comparado a alguns outros paises.
*Agradecimentos a gerente de mídia do Barbican, Annikaisa Vainio, que possibilitou a entrevista com o artista Gilberto Gil.