Neste contexto de discriminação e segregação, os negros mais ilustrados criam o Congresso Nacional Africano, organização que irá lutar pelo fim do apartheid. À frente dela, destaca-se o nome de Nelson Mandela, preso durante anos pelo regime racista. Em 1983, um certo relaxamento do regime cria uma nova constituição garantindo direitos limitados aos asiáticos que lá viviam. Gandhi começou sua carreira de advogado na África do Sul, onde foi considerado negro, assim como os portugueses chamavam os índios brasileiros de negros da terra. A pressão crescente dos negros e da comunidade internacional levou o presidente F. W. de Klerk a demolir progressivamente o apartheid, a partir de 1990, libertando Mandela e legalizando o Congresso Nacional Africano. No ano seguinte, começam as negociações para a redação de uma nova constituição em que os negros conquistariam direitos sociais e políticos. O período abominável da história sul-africana termina com a eleição do negro Nelson Mandela para presidente, em 1994.
Em 1999, uma grande nave espacial estaciona sobre Joanesburgo, para pânico de brancos e negros, agora unidos no governo do país. Como da nave não desembarcassem invasores cruéis ou pacíficos e como ela também não partisse, o governo sul-africano resolveu investigá-la por dentro e encontrou extraterrestres fugitivos e esfaimados. Eles foram retirados da nave-mãe e instalados, em regime de apartheid, no Distrito 9. Em meio a condições econômicas e sociais as mais cruéis que brancos e negros impuseram aos “camarões”, nome pejorativo usado para denominar os E.Ts, há uma referência clara do diretor à potencial capacidade de antigos dominados causarem a outros a mesma dor que sofreram, assim como os judeus, vítimas de genocídio sob o regime racista do nazismo, causarão aos palestinos após a fundação do Estado de Israel.
Neill Blomkamp, ao mesmo tempo em que atinge a essência da humanidade, não importa se branca, negra e amarela, mostra como a vítima pode se transformar em algoz, para ira dos racialistas. Os camarões vivem nas mais precárias e revoltantes condições de vida, restritos a um bairro, como se este fosse um campo de concentração. Ele é administrado pela MNU, corporação privada contratada pelo governo de negros e brancos, numa alusão à terceirização do neoliberalismo. Depois de vinte anos de confinamento, os camarões se multiplicam e veem seu bairro invadido por nigerianos negros, que formam uma quadrilha a mais a explorá-los.
Certamente, o espectador leigo não quer saber de referências e de intelectualismos. Acontece, porém, que o filme apresenta muitos aspectos da pós-modernidade. Ele recorre a toda tradição dos filmes de extraterrestres para fazer uma “ensalada completa com huevo duro”, um dos pratos prediletos dos portenhos. O filme simula um documentário expondo jornalisticamente a história dos camarões, mas, ao mergulhar no âmago da trama, o caráter documentalista é abandonado. A narrativa adquire, então, um caráter dramático de denúncia social. Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley), funcionário da MNU, é designado para promover a comandar a transferência dos camarões do Distrito 9 para outro local.
Daí em diante, a ação predomina. De Merwe se contamina com os genes dos camarões e se transforma num mestiço, passando a ser acusado de ter relações sexuais com uma fêmea camarão. Imagine o espectador uma revisão de todos os filmes de E.Ts produzidos até hoje associados a filmes de caráter social extremo, passando pelos transformers, de Michael Bay, Se não dou a cotação máxima ao diretor é por intuir que ele ambiciona os estúdios de Hollywood, assim como aconteceu com os irmãos Pang, da Tailândia, e com tantos outros.