Salada mista das boas (DISTRITO 9)

Muito desgastadas, as fórmulas de Hollywood vêm sendo bombardeadas de fora, por terra, mar e ar. O filme Distrito 9 (District 9, Nova Zelândia, 2009), do estreante diretor sul-africano Neill Blomkamp, é prova cabal da afirmação. Com parceria de Terri Tatchell, o próprio Blomkamp redigi o roteiro e conquista a admiração de ninguém menos que Peter Jackson (Senhor dos Anéis), que banca a produção. Trata-se de um filme de ficção científica em que a trama se passa na República Sul Africana, mais precisamente em sua capital, Joanesburgo. De real, a ocidentalização do país e sua integração à Europa começa no final do século 18, com a formação de colônias holandesas. Sua riqueza em diamantes atrai a cobiça da Grã-Bretanha, que se instala na região e declara guerra aos boeren (1899-1902), descendentes dos holandeses. Os ingleses vencem e as quatro colônias européias – Cabo, Natal, Transvaal e Orange – unem-se num só país governado por ingleses e holandeses, que dominam os povos nativos. De 1948 a 1994, o colonialismo assume um caráter racista legal que se chamou apartheid. Os negros eram considerados constitucionalmente inferiores aos brancos e viviam segregados em bairros pobres, trabalhando como operários com salários aviltantes.
Neste contexto de discriminação e segregação, os negros mais ilustrados criam o Congresso Nacional Africano, organização que irá lutar pelo fim do apartheid. À frente dela, destaca-se o nome de Nelson Mandela, preso durante anos pelo regime racista. Em 1983, um certo relaxamento do regime cria uma nova constituição garantindo direitos limitados aos asiáticos que lá viviam. Gandhi começou sua carreira de advogado na África do Sul, onde foi considerado negro, assim como os portugueses chamavam os índios brasileiros de negros da terra. A pressão crescente dos negros e da comunidade internacional levou o presidente F. W. de Klerk a demolir progressivamente o apartheid, a partir de 1990, libertando Mandela e legalizando o Congresso Nacional Africano. No ano seguinte, começam as negociações para a redação de uma nova constituição em que os negros conquistariam direitos sociais e políticos. O período abominável da história sul-africana termina com a eleição do negro Nelson Mandela para presidente, em 1994.
Em 1999, uma grande nave espacial estaciona sobre Joanesburgo, para pânico de brancos e negros, agora unidos no governo do país. Como da nave não desembarcassem invasores cruéis ou pacíficos e como ela também não partisse, o governo sul-africano resolveu investigá-la por dentro e encontrou extraterrestres fugitivos e esfaimados. Eles foram retirados da nave-mãe e instalados, em regime de apartheid, no Distrito 9. Em meio a condições econômicas e sociais as mais cruéis que brancos e negros impuseram aos “camarões”, nome pejorativo usado para denominar os E.Ts, há uma referência clara do diretor à potencial capacidade de antigos dominados causarem a outros a mesma dor que sofreram, assim como os judeus, vítimas de genocídio sob o regime racista do nazismo, causarão aos palestinos após a fundação do Estado de Israel.
Neill Blomkamp, ao mesmo tempo em que atinge a essência da humanidade, não importa se branca, negra e amarela, mostra como a vítima pode se transformar em algoz, para ira dos racialistas. Os camarões vivem nas mais precárias e revoltantes condições de vida, restritos a um bairro, como se este fosse um campo de concentração. Ele é administrado pela MNU, corporação privada contratada pelo governo de negros e brancos, numa alusão à terceirização do neoliberalismo. Depois de vinte anos de confinamento, os camarões se multiplicam e veem seu bairro invadido por nigerianos negros, que formam uma quadrilha a mais a explorá-los.
Certamente, o espectador leigo não quer saber de referências e de intelectualismos. Acontece, porém, que o filme apresenta muitos aspectos da pós-modernidade. Ele recorre a toda tradição dos filmes de extraterrestres para fazer uma “ensalada completa com huevo duro”, um dos pratos prediletos dos portenhos. O filme simula um documentário expondo jornalisticamente a história dos camarões, mas, ao mergulhar no âmago da trama, o caráter documentalista é abandonado. A narrativa adquire, então, um caráter dramático de denúncia social. Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley), funcionário da MNU, é designado para promover a comandar a transferência dos camarões do Distrito 9 para outro local.
Daí em diante, a ação predomina. De Merwe se contamina com os genes dos camarões e se transforma num mestiço, passando a ser acusado de ter relações sexuais com uma fêmea camarão. Imagine o espectador uma revisão de todos os filmes de E.Ts produzidos até hoje associados a filmes de caráter social extremo, passando pelos transformers, de Michael Bay, Se não dou a cotação máxima ao diretor é por intuir que ele ambiciona os estúdios de Hollywood, assim como aconteceu com os irmãos Pang, da Tailândia, e com tantos outros.
publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS