O pensador marxista e filósofo húngaro, István Mészáros está no Brasil a convite da Boitempo Editorial para lançar seus dois novos livros – István Mészáros e os desafios do tempo histórico, e Estrutura social e formas de consciência II; No sábado (11/06), ele esteve em Campinas/SP para participar do seminário "A crise estrutural do capital e os desafios atuais da luta de classes".
O pensador húngaro foi saudado por um salão lotado, com a plateia cantando em pé a primeira parte da Internacional Socialista. Ele iniciou sua palestra lembrando a primeira vez que esteve no Brasil, em 1983. À época, chamou sua atenção um movimento de luta contra a fome realizado pela população do estado do Rio Grande do Norte. Para Mészáros, foi mais uma prova de que no auge do desenvolvimento das forças produtivas o capital não se preocupa sequer em prover de alimentos à população de várias nações, inclusive a brasileira. Assim, o marxista relembra o título de uma de suas obras ao afirmar que não é possível fazer pequenos ajustes no sistema, é preciso ir além do capital. Para isso, ele propõe que o capital seja erradicado do controle das nossas vidas. Porque é um modo de controle social e não apenas um modo de produção.
O momento de crise reativa essa necessidade de mudanças. O filósofo reforça o pensamento de que, por sua natureza, a crise não se resolve no interior do capital. “Nesses últimos anos, viu-se o capital investindo trilhões de dólares para apoiar empresas particulares e salvar o mercado, em particular o financeiro”, afirma. Em ações que vão contra a teoria capitalista. Mészáros ironiza sobre o montante dos gastos efetuados ao informar que solicitou a um amigo, professor de Astrofísica, que lhe desse a dimensão do que são ‘trilhões’. Depois de pensar, o amigo respondeu que um trilhão é cem vezes a idade do universo. Mészáros lembra que somente a dívida estadunidense passa dos 15 trilhões. Por outro lado, para o pensador, a dívida financeira é só a ponta de um iceberg de todo um sistema fraudulento, já que muitos países falidos estão se endividando com bancos, fraudulentos. “O volume mundial das dívidas já fez ruir todo o sistema”, conclui.
O pensador húngaro reafirma a importância da América Latina para as mudanças. Para ele, esta região está à frente do processo de transformação. Uma transformação radical, de trabalho livre e cooperativo. O sistema, do modo como funciona atualmente, é destrutivo. “Há alguns anos, os capitalistas se vangloriavam dizendo que promoviam a destruição criativa; hoje, o que temos é a produção destrutiva”. Além da produção, essa destruição se dá em duas outras formas, a militar e a ecológica, que podem levar à destruição da humanidade. A forma de enfrentá-la é retomar o controle das nossas vidas para podermos regular a produção.
E isso não se faz somente nas eleições. Ele afirma que “não podemos apenas esperar dos partidos uma solução simplesmente porque votamos neles. A busca pela igualdade não pode ser uma ação meramente formal. O capital tem representantes no parlamento. Mas é uma força com ação extraparlamentar que domina a economia, a natureza, a produção de bens culturais e de objetos religiosos”. O pensador lembra que as pequenas reformas sociais obtidas nas últimas décadas, foram desfeitas. Basta ver quando, no início do século XX os partidos social-democratas se renderam ao imperialismo, e mais recentemente, o fim do estado de bem-estar social. Para o professor, as ideias das transformações possíveis foram abandonadas.
O pensador marxista aponta que a atuação dos povos tem que ser também extraparlamentar. Para ele, precisamos nos organizar como uma força, um movimento de massas, extraparlamentar. Para interromper esse processo, temos que retomar o controle da produção para satisfação das necessidades humanas e não as do capital. Temos que reorientar a produção e a reprodução através de um sistema de igualdade. Todos tem que se empenhar, se envolver. Finalizando, Mészáros lembra que revoluções podem ser temporariamente derrotadas, mas suas causas ressurgirão sempre.
István Mészáros esteve em Campinas a convite da Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes; com o apoio da Boitempo Editorial, do Sinpro, dos Sindicatos dos Químicos, dos Petroleiros, dos Metalúrgicos, da Construção Civil e das Secretarias de Esportes, de Transporte e de Trabalho e Renda da Prefeitura Municipal de Campinas. O seminário foi realizado no auditório do Clube Semanal de Cultura Artística.
- Agildo Nogueira Junior