Numa bela terça-feira (2 de dezembro) de sol e calor no Rio de Janeiro, foi comemorado o Dia Nacional do Samba com a realização da 13ª edição do Trem do Samba. O evento, idealizado pelo cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz, tem o objetivo de imortalizar o bairro do subúrbio carioca como o território sagrado do samba.
A nova e a velha geração da Mangueira reunidas no palco
Nesta edição, como acontece em todos os anos, não havia tristeza que
resistisse ao calor e a alegria dos mais variados sambas, em total
sintonia com a massa que fazia um lindo coro, sem deixar de acompanhar
uma só canção. Para cantá-las, não faltaram presenças ilustres, como
das velhas guardas das mais tradicionais escolas de samba cariocas:
Portela, Vila Isabel, Mangueira, Salgueiro e Império Serrano.Dessa vez o evento promoveu uma homenagem aos 30 anos da morte do Mestre Candeia, grande sambista da Portela que em suas músicas demonstrava forte sensibilidade pelas condições de vida do povo brasileiro. Foi autor de músicas como Dia de Graça e Minha Gente do Morro.
As apresentações começaram ainda na Central do Brasil, onde um grande palco foi armado fora da estação. Das 17h às 19h mais de 40 mil pessoas sambaram, muitos não sabendo que os melhores momentos ainda estavam por vir. Na Central, aconteceram shows da bateria do Mestre Faísca, Nelson Sargento, Walter Alfaiate, Nadinho da Ilha, Wilson Moreira e as velhas guardas das escolas de samba.
Às 19h, quatro trens saíram da Central rumo a Oswaldo Cruz,
carregados com muito samba e um povo animado que não se cansava de
dançar e cantar. Eram eles:
Trem Candeia
Tia Doca, Cacique de Ramos, Pagode do Negão da Abolição, Grupo Autonomia, Clube do Samba, Embaixadores da Folia e Quilombo;
Trem Silas de Oliveira
Velha Guarda do Império Serrano, Grupo Roda do Bip, Pagode do Nelsinho
e da Vilma, Mestre Faísca, Manga Preta e Pagode da Tia Ciça;
Trem Cartola
Velha Guarda da Mangueira, Velha Guarda do Salgueiro, Pagode do
Sambola, Bloco Voltar Pra Quê?, Grupo Parados na Ponte e Grupo Regente;
Trem Luiz Carlos da Vila
com a Velha Guarda de Vila Isabel, Grupo Caldos e Canjas, Quizomba,
Bloco da Cachaça, Pagode do Renascença e Renato Milagres, Democráticos
de Guadalupe, Grupo Nossa Arte de Niterói, Quintal do Jorge e Pagode do
Ouvidor.
Chegando a Oswaldo Cruz, a festa continuou até que o último sambista fosse embora. Foram três grandes palcos com diversas atrações, além das muitas rodas de samba que não deixavam silenciar um espaço sequer de Oswaldo Cruz. No primeiro palco, ao lado da estação, aconteceram shows com Noca da Portela, Tia Doca e Marquinhos de Oswaldo Cruz. O segundo palco, na Praça da Portela, recebeu shows da bateria da Portela e das Velhas Guardas da Mangueira, do Salgueiro, da Portela e do Império Serrano. Na Rua Átila da Silveira estava armado o terceiro e último palco, que contou com as ilustres presenças de Mauro Diniz e das belíssimas cantoras Dorina e Dona Ivone Lara.
Mesmo perseguida, a cultura popular ganha o seu espaço
No Rio, todo dia 2 de dezembro, às 18h, os trens saem da
Central levando o povo, sambistas famosos e anônimos, até Oswaldo Cruz,
onde nasceu Paulo da Portela. Lá, depois do desembarque da massa,
rapidamente formam-se inúmeras rodas de samba, que só silenciam após o
amanhecer.
Nelson Sargento no palco da Central
Muito antes de acontecer o Trem do Samba, já existia o pagode do trem, criado na década de 20 por Paulo Benjamin de Oliveira, o Paulo da Portela, um dos fundadores da tradicional escola de samba de Oswaldo Cruz e uma das primeiras da história do samba. Porém, naqueles tempos, o pagode do trem não era apenas uma comemoração, mas sim uma estratégia dos sambistas para esquivarem-se da perseguição à qual o ritmo era submetido pelas classes dominantes, que o consideravam "profano", como diversos outros seguimentos da cultura popular. Sendo assim, sambistas iam todos os dias ao encontro de Paulo da Portela na Central do Brasil, de onde partiam para o subúrbio da cidade tocando e escolhendo os sambas da Portela. Como não possuía sede, o vagão que eles escolhiam para viajar funcionava como sede provisória da Escola de Samba e lá todas as decisões eram tomadas.
O aperto do trem e o samba rolando em direção ao subúrbio do Rio
Essa foi a verdadeira origem do Dia Nacional do Samba, esse ritmo centenário, que continua até hoje alegrando o povo brasileiro com o seu batuque e suas belas melodias.