Nas eleições presidenciais de 2002, aconteceu uma determinada situação comigo da qual jamais vou me esquecer.
Nunca me familiarizei ou mesmo acreditava nos propósitos do PT. O
candidato que os representava era o mesmo das últimas três eleições
presidenciais.
Eu particularmente conhecia um pouco da história desse senhor. Coincidentemente, nasci e morei mais de vinte anos em um dos bairros em que esse então candidato morou quando ainda era jovem e desconhecido. Refiro-me ao bairro da Vila Carioca, localizado na periferia da zona sul de São Paulo. Em alguns aspectos a história desse homem é admirável, em outros, questionáveis. Sempre o considerei um homem um tanto quanto despreparado para assumir uma função de tamanha responsabilidade e envergadura, e que exige preparo, cultura e conhecimentos os quais ele não tem. Porém sua determinação, e aparente, verdadeira e sincera vontade de fazer um país melhor era um fator, que mesmo decidido a não dar meu voto a ele, fazia com que em alguns momentos eu tivesse alguma esperança que, se eleito, ele governaria em prol das classes mais carentes e necessitadas.
Mas sem nunca deixar de lado meu senso da realidade, pois não há como acreditar no “personagem” que os publicitários e “marketeiros” montam sobre cada candidato.
Vendem-nos uma imagem de um futuro melhor durante as campanhas eleitorais: saúde, educação, emprego, prometem-nos de tudo; depois, escândalos políticos, falcatruas, corrupção, impunidade.
Foi especificamente no dia das eleições, que aconteceu o fato que menciono acima. Logo após o almoço dirigi-me ao colégio onde voto, o qual está localizado próximo a minha residência. Título eleitoral em mãos, andei alguns quarteirões, pensando algo mais ou menos assim: “Independente de quem seja eleito, há décadas o mesmo filme, a mesma novela se repete. Não adianta Rodrigo!”
De certa maneira, uma triste situação. No dia em que, eu deveria estar sentindo o brotar da esperança de dias melhores, eu estava mesmo sem nenhum entusiasmo para exercer o meu maior direito como cidadão brasileiro. Acredito que muitos naquele momento estavam a pensar como eu, desiludidos, indignados, desesperançosos. Foi assim que adentrei a sala onde estava localizada a minha seção. Decidido a anular meu voto, olhei com um certo tom de indignação e revolta para a urna eletrônica. Mas, nesse momento, fui tomado por um sentimento de boa-fé. Um daqueles candidatos tratava-se de uma pessoa de origem humilde e sofrida, assim como eu e tantos milhares de brasileiros. Pensei: “Não é possível que ele vai esquecer as suas origens, uma pessoa que passou tantas necessidades, que sentiu na própria pele as dificuldades impostas pela injusta e gritante desigualdade social que assola nosso país”. Esse “cara” não vai se esquecer de tudo isso, não é possível!” Então, envolvido por esse sentimento, tomei a infeliz decisão de dar meu voto a ele.
Assim como apontavam as pesquisas, ele foi eleito. E no dia 1º de janeiro de 2003, tomava posse do seu tão almejado mandato.
Eu, como muitos brasileiros que depositaram suas esperanças nesse homem, que para muitos se tratava de uma referência em conquistas e determinação de lutar por um Brasil melhor, aguardava que logo no primeiro ano, haveria atitudes que comprovassem sua boa intenção e o cumprimento das promessas feitas em campanha.
Sentindo-me de certa forma responsável pela sua eleição, atentamente acompanhava suas primeiras medidas. Sempre lembrando as diversas promessas e do seu plano de governo apresentado em época de campanha. Para os amigos que não se lembram, entre tantas outras, destacarei as principais: o alardeado programa Fome Zero, o qual não existe mais e sofreu diversas alterações ao longo dos quatro anos do primeiro mandato, transformando-se então no Bolsa-Família. O Primeiro Emprego não saiu do papel, e só conseguiu atender a 0,5% dos jovens que ele pretendia ajudar. A reforma agrária “pacífica, organizada e planejada” foi condenada pelos seus próprios aliados, chegando ao ponto de um dos líderes do MST, João Pedro Stédile, ter pedido o fim do Ministério do Desenvolvimento Agrário. O presidente falava bastante sobre a violência, dizendo que haveria uma “política de segurança pública muito mais vigorosa e eficiente”, que seria capaz de prevenir a violência, reprimir a criminalidade, para que as pessoas pudessem “voltar a andar em paz pelas ruas e praças”. Quase cinco anos se passaram. Pergunto ao amigo leitor: na sua cidade, em seu bairro a violência e a criminalidade diminuíram? Nas grandes cidades quem se sente seguro ao andar pelas ruas? O que vejo é a sociedade se tornando refém do medo, a insegurança é uma crescente constante, às vezes chegando à incongruente sensação de que nós cidadãos de bem, para nos sentirmos um pouco seguros, somos obrigados a muitas vezes evitar sair de nossas residências, vivendo dentro do que chamo de uma “domiciliar prisão”. Ele chegou a afirmar que nosso país se encontrava próximo a uma guerra, que o tráfico de drogas, os homicídios, os crimes hediondos em geral faziam parte do cotidiano do brasileiro. O crime organizado nos últimos anos vem crescendo assustadoramente e se espalhando por todo o país, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Basta olharmos ao nosso redor para verificarmos que foi apenas mais uma promessa que também não foi cumprida.
Outra que devido a sua extrema necessidade para o país, recordo-me muito bem foi a referente às reformas que o Brasil tanto necessita. Na época, o então candidato a presidente mencionava que realizaria as reformas da previdência, a tributária, a política e também a da legislação trabalhista.
As duas primeiras chegaram a ser iniciadas e acabaram paralisadas, a ponto de o atual governo nem querer mais ouvir falar do assunto. A reforma política tem sido protelada ano após ano. No dia 09/08/2007 estava previsto o início da sua votação, mas o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), suspendeu a votação, alegando falta de acordo e contenção de gastos. Contenção de gastos? Que palhaçada!
A promessa de crescimento também não se concretizou, e ela por muitas vezes foi a vedete de cada novo discurso já em posse do cargo. O desemprego é um dos grandes problemas desse país, sendo usado de base para uma das maiores manipulações da sua campanha. Ele dizia que criar empregos era sua maior “obsessão”; quem não se recorda da famigerada frase: “Vou criar dez milhões de empregos”. Porém, a realidade é que estamos no segundo semestre de 2007 e praticamente nada de concreto foi feito.
Uma das maiores hipocrisias ditas pelo então candidato à presidência, aliás frase mencionada de maneira fervorosa: “Ser honesto é mais do que apenas não roubar é não deixar roubar.” Lembrando essa frase, não sei se tenho vontade rir ou de chorar!
A quantidade de escândalos envolvendo direta ou indiretamente o atual governo é uma das maiores, se não a maior da nossa história.
Uma enxurrada de denúncias de corrupção é noticiada, e praticamente todos os dias temos alguma triste novidade que vem à tona, mostrando uma parte do imenso mar de lama que envolve os centros do poder no país. O mais ridículo e imoral é a posição adotada pelo mesmo homem que, não resisto em repetir, disse: “Ser honesto é mais do que apenas não roubar é não deixar roubar.” Porém, entre outras declarações envoltas, na maior cara de pau, algum tempo atrás, disse que não afastaria o “Meirelles” ou o “Jucá” e chegou até a se “solidarizar” com o Roberto Jefferson que, para quem não se lembra, defendeu a corrupção de Collor na época do impeachment.
Nos últimos meses temos visto o mesmo homem que disse essa bela frase que mencionei duas vezes acima, mesmo diante das inúmeras provas e indícios que deixam evidentes o envolvimento corruptivo do atual presidente do Senado, Renan Calheiros. Ele tem a capacidade de, quando questionado pela imprensa sobre o assunto, sair em defesa do presidente do Senado. Em Honduras, esse mês ele disse à imprensa que: “Sei que Renan está sendo investigado há muito tempo...Ele tem mostrado todos os documentos para provar sua inocência.” Parece piada, mas não é! Teatro, novela, não sei nem como denominar tal atuação circense daquele para quem no seu primeiro mandato, infelizmente, erroneamente eu depositei minhas esperanças em um Brasil melhor. Hoje estou com a minha consciência mais tranquila, não me sinto responsável em vê-lo no poder, pois após assistir a tanta imoralidade e corrupção no seus primeiros anos como presidente, resolvi, por hora, anular meu voto.
Aliás, acho que nós brasileiros, perante os sucessivos governos, alguns menos, outros mais, mas sempre de alguma maneira enganando seus eleitores, deveríamos “boicotar” as próximas eleições anulando nosso voto, e assim mostrando de uma vez por todas que não iremos mais aceitar as mesmas hipócritas desculpas e as repetidas falsas promessas, mas esse é um assunto que pretendo dividir com o amigo leitor na próxima semana.
Nessa crônica, vocês devem ter notado que em nenhum momento eu menciono o nome do atual presidente do nosso país. Trata-se de uma maneira que encontrei para registrar minha total indignação para com esse homem, pois perante o retrospecto do seu governo, ele não merece ser tratado como “excelentíssimo”, nem sequer que eu mencione o seu nome.
Os telespectadores deste espetáculo de barbáries político-sociais somos nós; eu, você, ou seja, a sociedade brasileira que infelizmente, em uma boa parte, ainda aplaude o ator principal. Pois as pesquisas de avaliação do seu governo se mantêm estáveis. Atualmente o percentual de brasileiros que acham que ele está fazendo um governo ótimo ou bom, pasmem, é de 48%, e a taxa dos que classificam o governo do líder petista como ruim ou péssimo é de 15%.
Não entendo, fico surpreso e me questiono sobre esses percentuais. Das duas uma, essas pesquisas são falsas e manipuladas, o que não é de se duvidar, ou boa parte da população não está prestando atenção aos últimos episódios desse trágico filme da vida real.
O pior é que a cada nova eleição, como um filme repetido ou uma novela que se inicia, assistiremos novamente aos mesmos capítulos, às mesmas cenas, mudam alguns personagens, alteram-se alguns papéis. Entre suspenses de “pseudo” investigações, dramalhões da hipocrisia, comédias manipuladas e aventuras da impunidade, nessa “politizada novela da vida real”, o terror social cresce a cada dia.
E calados, alicerçados em um estático comodismo, alguns aplaudem e muitos fingem nada ver...
Rodrigo Fernandez
Com exclusividade para o Jornal O Rebate