É... seguia a lei da natureza, segundo a qual a mulher não foi criada para menstruar. Ficaria grávida sempre. A humanidade detesta a natureza; inventou os meses para a mulher prevenir-se mensalmente, deixando de ganhar mais um filho. Quando César, imperador romano, nasceu a 12 de julho do ano 100 a.C., a mãe tinha dificuldade em dar à luz. Abriu-se-lhe a barriga. O menino retirado. Daí a cesariana, em sua homenagem – realizava-se a operação anteriormente, diga-se de passagem. Mais tarde ele aperfeiçoou o calendário, dividindo o ano em meses - seguiu exatamente os períodos de menstruação da mulher Cornélia. Quem desdenha a lei da natureza tem a TPM, dores de cabeça, dores no busto, dores no corpo, e dores e mais dores; enche a paciência de parentes, namorados e... maridos então... nem se fala!
Voltemos à minha mãe grávida.
Grávida, tinha desejos, como quase toda mulher – natural.
De casa via as gabirobas – pequena goiaba azeda e gostosíssima – lindas, grandes (grandes para gabirobas!) e maduras, em um pé no quintal da casa do vizinho José Carvalhais. Conhecida como araçá, dependendo da região onde se encontra, a gabiroba dá em um pé semelhante ao da goiaba. Em Lafaiete e região, MG, há a do mato - menor um pouco, cujo pé chega a uns sessenta centímetros de altura, com folhas bem maiores - o mesmo gosto, menos ácida e menor.
Papai chegando da loja, mamãe:
- Zé Franco, quero comer gabiroba. Tenho desejo de comer gabiroba!
Papai declarava que arrumaria a gabiroba. Ela adulava, insistia, e ele prometia que, no dia seguinte, se esforçaria para trazer as gabirobas...
Todo dia a mesma coisa. Papai preocupado - não achava as benditas gabirobas.
A ladainha só rezava gabirobas:
- Zé Franco, eu quero gabiroba...
- Naná, eu vou arranjar...
- Zé Franco, você comprou a gabiroba?
- Naná, não achei...
- Zé Franco, tô com vontade de... gabiroba...
- Naná, eu vou trazer...
- Zé Franco, você não deu um jeito... gabiroba...
- Naná... não comprei...
- Zé Franco... gabiroba!
- Naná...
Mamãe, como sempre insistente, falou para o papai que na casa do vizinho:
- Zé Franco, olhe lá no terreiro da Nazica do Carvalhais... um pé grande e cheio de gabirobas enormes e maduras! Não é goiaba pequena, é gabiroba!
Mamãe, viva e inteligente, de pensamento rápido - o dinamismo personificado. E papai, com a santa paciência e a calma que Deus lhe deu:
- Naná, vou pedir ao Carvalhais as gabirobas, assim você deixa de falar em gabirobas comigo.
Depois de dias e mais dias, pedidos e implorações, bajulações e adulações, choros e velas... promessas e mais promessas descumpridas, papai criou coragem e, muito sem jeito e desconsertado, foi até à casa do alfaiate Carvalhais. Explicando o drama, pediu para lhe vender algumas gabirobas para a Naná, grávida, como poderia ter notado, e com desejo de comer gabirobas.
Papai recebeu as gabirobas aliviado. O Carvalhais não quis vendê-las – presenteou-o. Todo contente e eufórico, levou as gabirobas para mamãe:
- Naná, as gabirobas que você tanto pediu e desejou – lindas e maduras, como você deseja... o Carvalhais me deu.
E mamãe, determinada como sempre:
- Não quero! Quero é gabiroba comprada ou de meu quintal! Doadas de quintal dos outros não aceito! Quero do... fez uma pausa... ou do... meu pé de gabiroba...
Gabiroba para comprar... não achava...
Para mamãe ter gabiroba de seu quintal, papai comprou a casa do Carvalhais, alugando-lhe a casa e um pedaço do terreno – a parte do quintal onde está o pé de gabiroba, a de trás, retirou-se a cerca para mamãe apanhar suas gabirobas - até hoje faz parte do terreno de nossa casa!
Quem mais se regalou com as gabirobas, durante anos e anos, fomos nós, os filhos!
Ela pensou... nos filhos... penso eu!
Benedito Franco