Ciclos da vida

Já tem alguns dias que não consigo pintar... E quando entro no atelier, naquele mundo, repleto de lembranças, vestígios, fragmentos de minha história, paro diante da profusão de objetos cheios de significados, olho para tudo aquilo, e me sento amuada em um canto deste meu solitário universo, penso no significado de cada coisinha que olho, e percebo que de repente elas foram perdendo o sentido, e que mais um ciclo de minha vida se encerra. Com certa melancolia, recolho os velhos pincéis e jogo fora as bandejas com tintas já secas... Olho a tela inacabada e não vejo mais nenhuma emoção em concluí-la... O seu momento se foi, foi-se o encanto das cores que vibravam em minha mente como pequenos pirilampos. Foi-se a alegria do esboço, que ali um dia deu início a uma nova idéia, a um novo caminho, a uma nova esperança...
E como em um ato cênico, vejo a cortina se fechar, sugerindo o fim do espetáculo, e como espectadora que se decepciona com o final da peça, continua sentada e amuada, naquele canto de paraíso perdido. Ouço o sussurro de minha voz que lamenta baixinho _ mais um ciclo que se encerra.
Olho a tela... E os artistas que repetidamente voltam ao palco em busca do aplauso que não ecoa...
O mais profundo silencio envolve artista e platéia, a euforia da estréia já não existe, e o cansativo repetir das falas decoradas daquele texto, se desintegra nas folhas de papel desbotadas.
Por quantas vezes repeti textos desconexos, na esperança de ouvir um único bater de mãos, que esperança é esta que me faz voltar ao mesmo palco tantas vezes na ilusão de ouvir um pedido de bis...
Não, foi apenas mais um espetáculo que não fez sucesso, apenas mais umas dezenas de noites com a casa vazia, sem espectador, sem expectativa...
Foi só mais um engano, mais uma obra inacabada, que me leva a perceber que minhas ilusões são maiores que o meu talento, que os aplausos foram apenas o eco de minha própria vontade de ser uma estrela.
Levanto-me e volto ao camarim, paro diante da pintura que agora me parece desbotada, olho os tubos de tintas, e com o esforço dos derrotados traço um novo esboço, um novo desenho, que surge tímido e sem sentido, e aos poucos vem tomando forma sob as novas cores que nele imprimo...
Fico parada diante daquela nova visão, e vislumbro entre riscos incertos e largas pinceladas, o choro de uma criança que acaba de nascer.
Já não faço parte daquele elenco, apenas observo encantadas as pequenas criaturas que agora enfeitam com suas traquinagens as prateleiras daquela minha estante repleta de lembranças e sonhos inacabados.

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