Ela não queria ouvir essa melodia. Preferia a esperança, preferia acreditar que era possível. Ela sempre preferia assim...
Sentou no sofá preto para escrever e começou a pensar em como são as coisa, os relacionamentos, a visão das pessoas, especialmente de umas sobre as outras....
Era fácil julgar, dizer que aquilo que o outro sentia era pouco, pequeno, quase irrelevante... era tão fácil acreditar que as feridas e dores dos outros eram mínimas, afinal eram deles... as nossas, no entanto, eram tão profundas, grandes.. Ela chegara a conclusão que considerávamos mais doloridos e significativos os cortes em nossa própria carne... O que, para ela, fazia sentido...
O que era difícil aceitar, isso sim, era a tentativa que seus "amigos" tinham de transformar tudo em receita de auto-ajuda, em palavras de fé... ou então em necessidade de terapia... Ela ria, sempre acreditou que existe uma incapacidade nata em todos os seres humanos de ajudar aos outros, pelo simples fato de na maioria das vezes serem incapazes de compreender o sentimento do ponto de vista do outro... Ah! Claro, existem técnicas, análises... mas no fundo, são apenas aproximações...
Ela suspirou, estava cansada de ser julgada, etiquetada, processada, empacotada e remetida para algum outro lugar...
Droga, ela queria viver a liberdade que existia dentro dela, queria a aventura que experimentara uma vez, queria a solidão acompanhada, queria expor a felicidade que continha... Ela queria... mas...
(Diário de uma Mulher)