Brincara com ela por algum tempo, depois simplesmente se comportava como se falar com ela fosse um favor enorme. Homem estúpido! Isso sim, um homem egoísta e idiota.
Ele que fosse para o inferno, o lugar de todos que são capazes de magoar alguém assim. Um inferno real, não o religioso, o inferno que eles mesmos criavam.
Ela o conhecera por acaso, sempre por acaso, não vivia procurando romance. Ela ainda carregava no coração o amor que fora desprezado por preconceito e medo. Assim, ela decidira viver a vida sem expectativas. Aliás, sempre havia sido assim, mesmo com o rapaz por quem se apaixonara, havia sido assim... As expectativas geram frustrações e delas vem a dor... Não que temesse a dor, se a temesse nunca teria entrado naquele relacionamento com o jovem guia, apenas desenvolvera certo cepticismo em relação ao ser humano.
Este homem, sim, ele não era um rapaz, era um homem, casado, com dois filhos e uma profissão séria. Gerente de Manutenção de um banco na Turquia. Usava terno e gravata, tinha um rosto sisudo. Sua aparência? Não era feio, mas se comparado ao jovem rapaz que ela tivera nos braços e em seu corpo antes, ele seria considerado um velho obeso e mal humorado. Ela riu quando pensou nisso... Sim, ele não se enquadrava em seus gostos por homens que amavam a si mesmos, cuidando da aparência...
Todos sabem que sentimentos nem sempre ouvem a razão. Ela se envolveu com ele. Gostava das fotos que ele enviava a ela, das palavras que trocavam, gostava do que ele poderia ser. Ele fingia ser um rebelde, aliás fingia bem, com sua moto, tatuagens e cara de mau... No fundo era um acomodado...
Há algum tempo se separara da mulher, deixara de viver com ela fisicamente, mas ainda vivia emocionalmente. Era fácil entender a razão, ele era fechado, sombrio, frio, distante... Nenhuma mulher tolera tão alto grau de egocentrismo... Ele parecia um ser sem alma...
Ela entretanto acreditava que ele tinha potencial, estava disposta a investir seu sentimento nele. Mesmo depois de descobrir que ele havia sido namorado de sua melhor amiga, mesmo sabendo que ele provavelmente nunca deixaria a esposa, usando-a como escudo em qualquer relacionamento. Mesmo assim, ela abriu seu coração... e ele brincou... Passeou pelos sentimentos dela, fez todo tipo de piada e brincadeira. Enviou fotos, vídeos, mensagens, SMS, até poesia ele fez... E ela acreditou... até hoje...
(Diário de uma Mulher)