A ATUAÇÃO DA CULTURA SOBRE OS HOMENS

As relações entre o homem e a natureza são inquestionáveis, porém, historicamente observa-se que essas relações se modificam e se complementam, tornando-se mais complexas, criando assim um movimento dinâmico, onde cria e se reproduz transformando o que está a sua volta em sobrevivência. Assim, dialeticamente esse movimento pode ser chamado de cultura_ através de um conceito sociológico.

Ao investigar bem o processo cultural percebe–se que o elemento cultural é diferente de como está sendo visto e quem o está vendo.

Isso por ser um processo autoritário, pois quem coloniza quase sempre sobre determina, gerando assim a dominação. Consequentemente,gera a aculturação. Alfredo Bosi, em Dialética da Colonização (1992) relata que a cultura se entrelaça em três momentos na linha histórica, onde passado reflete no presente que se transformará em futuro. O autor percebe que a evolução histórica, com suas transformações e “inquietações” resultam na ação da cultura sobre o homem. O colonizador ocupa a terra e domina os meios naturais (e humanos, como exemplo a escravidão), traz o seu culto (ou seja, o modo como os seus antepassados lidam com a sociedade) e assim faz com que sua cultura predomine (no sentido de perpetuar  o convívio entre os homens.

Observando bem o processo cultural é lícito considerar que este não deve ser analisado simplesmente através da ótica das diferenças biológicas e geográficas, pois pesquisas realizadas anteriormente foram convincentes em perceber que o processo cultural é diferenciado por meio do aprendizado. Roque de Barros Laraia, em Cultura _Um conceito antropológico (2006) acredita que “os instintos primários não foram suprimidos” (pag.49, parágrafo 2, linha 3) porém eles são pontos de partida para a recepção dos padrões culturais. Esses instintos são discutíveis quando analisados isoladamente, porém se forem questionados dentro dos padrões de determinada classe ou grupo social, adquirem contexto.

Percebe-se então que não existe indivíduo sem cultura, pois liberta-se do âmbito estritamente individual,onde cria e recria modelos sociais, estratificações sociais,castas,repartições. Um dos grandes problemas das estruturações sociais é que a sociedade pode não valorar e não valorizar esses âmbitos culturais (uma família de rendeiras que não tem mais estímulo para continuar a atividade, pode não perpetuar a prática de fazer renda desde a infância). A cultura não deve ser somente subjetiva, pois corre o risco de se perder por não enquadrar os indivíduos, não valorizando os múltiplos. Aldo Bizzocchi, em Anatomia da Cultura aponta para os diversos tipos de discursos  que a sociedade pode enquadrar-se, porém cada sociedade apresenta e segue os seus próprios discursos,mesmo que esses discursos dialoguem entre si.

Roger Chatier coloca como idéia principal o conceito de que “cultura deixa de olhar um só ser” _ o individual_ e passa a caminhar pelo viés do coletivo, do social. O que deve haver é uma história cultural da sociedade onde o ponto não é o grupo social e sim como um indivíduo se posiciona em uma sociedade. Entende-se assim que cada grupo social é o resultado de um processo circulatório, em movimento. A cultura não é estanque, paralisada, parada. É necessário esse movimento, pois assim cada grupo social vai se adequando e se intercomunicando. Acredita também que o indivíduo representa todo o tempo, pois esse é no resultado de uma cultura de fora(o exterior) em conformidade com a bagagem pessoal. É através da representação que o indivíduo interage, pois é através das convenções sociais que há movimento. Compreende o homem em uma “rede” social, onde acredita que as práticas são geradas o tempo todo.

A cultura pode ser vista como uma lente, onde o homem vê o mundo, mesmo de maneira desencontrada das coisas diversas. A herança cultural condiciona o homem depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões. Definir padrão neste âmbito é classificá-lo como comportamento padronizado por um sistema cultural, regido por um grupo predominante (ou classe social).

Conclui-se, através de todos esses estudos que a cultura está relacionada aos mecanismos que levam à modificações , possui movimento,é dinâmica,sofre mudanças pois possui mecanismos cumulativos( responde as mudanças ocorridas ao longo do tempo e passadas de geração em geração) e adaptativos (aceita e responde bem às mudanças ao longo do tempo, seja em qualquer parâmetro, biológico, ambiental, ou qualquer outro).

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BIBLIOGRAFIA
_ BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. 4ª edição.São Paulo: Companhia das Letras,1992 ( p.1 a 63)
_ BIZZOCCHI, Aldo. Anatomia da Cultura:uma nova visão sobre ciência, arte, religião, esporte e técnica. São Paulo: Pallas Athena,2003. (p. 27 a 47)
_ CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano – Artes de fazer. Editora Vozes, Petropolis. ( p.35 a 100)
_ LARAIA, Roque de Barros. Cultura – Um conceito antropológico. 20ªEd. Rio de Janeiro. Jorge ZAHAR Editor, 2006.

Lúcia Vaccari é graduanda de Letras_ Português/Literaturas, carioca,enfermeira de formação e profissão, amante da cultura africana, bem como o estudo das religiões de matriz africana. Ampliando conhecimentos no curso Heterogênese Urbana, preparando artigo científico para publicar em revista científica. Tem curso de extensão da UFF em As questões raciais no Brasil e também sobre a lei 10639/03 e a educação nas escolas, do NEEDE, na FUNEMAC.

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